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29 de mar. de 2008

Série Bagacerice! Parte 1

Segundo o dicionário:

Bagaço (substantivo masculino) - resíduo da cana-de-açucar ou de frutos que fica depois da extração do sumo. / Coisa tornada imprestável. / Restos.

Segundo minha definição:

Bagaço (adjetivo): característica de quem não tem noção do ridículo. / Atitude ou atos que expõem traços ridículos da personalidade, frequentemente expondo as outras pessoas a perigos ou situações penosas.

Daí o termo "bagacerice" para determinar qualquer um destes atos hediondos que caracterizam o bagaceiro, ou seja, a pessoa que é um bagaço. São aquelas coisas que você vê outras pessoas fazendo, e você e todos os seus amigos com mais de meio neurônio balançam a cabeça pensando naquele ignorante e como ele ACHA que está fazendo algo super legal.

O bagaceiro é um ser incompleto. Com isso quero dizer que ao bagaceiro falta algo, ele pode ter algumas coisas em abundância, mas sempre lhe falta algo, e esta falta, este vazio, é compensado com atitudes bagaceiras, afim de chamar a atenção. Dada a atual situação em que nossa sociedade se encontra, muitas das pessoas são em si bagaceiras, tendo isto latente ou não. Eu mesmo acabei fazendo esse tipo de coisa, e depois me arrependendo por ter incluído a mim próprio no grupo dos bagaceiros temporariamente. Com tantos bagaceiros, é natural que as atitudes do bagaço acabem DE FATO chamando a atenção, o que rende ao bagaceiro a agradável sensação de inclusão social e admiração de outro ser humano.

Primeira análise!

Quem de nós já não presenciou esta cena: você está andando pela rua e passa um Celta (ou qualquer outro carro 1.0 que possui mais plástico do que lata na carcaça, notadamente o Ka), recheado de spoilers, saias, asas, aerofólio, estribos. O veículo foi rebaixado. Nenhuma modificação interna. Dentro, um sujeito de boné, notadamente jovem, com o braço para fora do carro, escuta a última música da moda com um volume que faz as muitas peças soltas do carro ressonarem com estranhos ruídos. Geralmente do sexo masculino, ou está sozinho ou acompanhado de outros homens. É o "carango bola". No carro, pelo menos um adesivo do tipo "No Stress", "Playboy" (com ou sem o coelhinho), um cavalo, adesivo de bloco de carnaval, ou outra coisa do gênero.

Não vou comentar a música, visto que já falei sobre a descartabilidade das músicas hoje em dia, e da incapacidade geral de apreciar uma letra ou melodia.

Vamos nos ater ao sujeito. Como ele não tem estilo, não gosta do carro, então mudou o exterior para ficar chamativo e "esportivo", enquanto o interior continua com o mesmo cheiro de cerveja derramada. Os adereços fazem com que seu carro seja notado, sem dúvida, principalmente quando vai passar em uma lombada, pela manobra que ele tem que fazer afim de não deixar raspas do plástico do carro no asfalto ou bater o pneu no para lama.

Quando passa, a vibração resultante do aparato de som mal calibrado e barato do carro aciona os alarmes dos veículos estacionados, e como tal sujeito geralmente não tem competência para trabalhar, faz isso em horário comercial, obrigando dezenas de donos de carro trabalhadores a pararem o que estão fazendo para desligar o alarme de seus carros. Isso sem contar quando eles passam por hospitais, colégios, faculdades, tirando do sério pessoas doentes ou concentradas.

O cara dirige devagar, afinal, precisa ser notado. Isso quando não para no meio da rua para conversar com um amigo, atravancando todo o trânsito. A mão para fora da janela, e a outra pousada sobre o volante, numa atitude largada, que numa eventual situação de perigo impediria ações imediatas capazes de evitar acidentes. Essa mão que está para fora ainda segura um cigarro, que indica que além de tudo é mal educado. Isso quando não está sem camisa, caracterizando o bagaceiro-mor.

Como ele precisa de toda maneira se identificar, mas não faz parte de nenhum grupo, acaba usando os adesivos como forma de dizer: "vejam, eu faço parte de alguma coisa!". Auto-afirmação baseada em marcas famosas ou junções temporárias cujo único objetivo é fazer festa.

Se você tem um amigo bagaceiro. Não se preocupe. Todos temos, ao menos um.