Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

20 de dez. de 2013

Respeito, tolerância - O unicórnio no sapato e o conhecimento científico

Alguns dias atrás eu e uma colega começamos a conversar sobre respeito e tolerância. Na verdade estávamos conversando sobre animosidades entre opiniões, crenças e estilos de vida, e como encarávamos estes perante a nossa opinião. Ela disse que RESPEITAVA. Eu disse que não, que ela TOLERAVA, o que é bem diferente.

Vamos definir respeito e tolerância, apenas para efeito de argumentação:

respeito
res.pei.to
sm (lat respectu) 1 Ação ou efeito de respeitar ou respeitar-se. 2 Aspecto ou lado por onde se encara uma questão; consideração, modo de ver, motivo, razão. 3 Apreço, atenção, consideração. 4 Acatamento, deferência. 5 Obediência, submissão. 6 Referência, relação. 7 Medo, temor. 8 Direito, justiça, razão. Antôn (acepção 3): desconsideração. sm pl Cumprimentos. A respeito de, com respeito a: quanto a; relativamente a. Dizer respeito a: ser relativo a, ter relação com. Sou, com todo o respeito: fórmula de cortesia, a qual serve de fecho a cartas e se põe antes da assinatura.

tolerância
to.le.rân.cia
sf (lat tolerantia) 1 Qualidade de tolerante. 2 Ato ou efeito de tolerar, de admitir, de aquiescer. 3 Direito que se reconhece aos outros de terem opiniões diferentes ou até diametralmente opostas às nossas. 4 Boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas. 5 Disfarce ou dissimulação a respeito de uma coisa proibida. 6 Permissão concedida ao estudante militar para frequentar a cadeira ou disciplina em que foi reprovado. 7 Pequenas diferenças para mais ou para menos, legalmente permitidas no peso ou no título das moedas. 8 Sociol Atitude social de quem reconhece aos outros o direito de manifestar diferenças de conduta e de opinião, mesmo sem aprová-las. T. civil:permissão concedida pelo governo para uso de cultos que não são do Estado. T. eclesiástica: o mesmo que tolerância teológica. T. medicamentosa: aptidão para suportar doses exageradas de uma substância, ou suportá-la por muito tempo. T. política: atitude do governo ou partido político que admite a existência de outros partidos que não concordem com seus princípios. T. religiosa: atitude governamental em que se concede plena liberdade de culto. T. teológica: condescendência em consentir todas as opiniões que não são abertamente contrárias à doutrina da Igreja.
FONTE: Dicionário Michaelis Online - © 1998-2009 Editora Melhoramentos Ltda. © 2009 UOL
Antes de mais nada, vale a pena deixar claro que PESSOAS merecem RESPEITO. Não importa quem seja. Um padre, numerólogo, esotérico, homeopata, homossexual, heterossexual, ateu ou cientista, e todas as combinações. Pessoas merecem respeito por serem pessoas, seres humanos com os quais devemos conviver em sociedade, ter empatia por, e trabalhar para que todos possamos melhorar. Opiniões, estilos de vida e crenças não merecem respeito imediato. São construções sociais, ideológicas, teológicas ou mesmo definições pessoais. Estão sujeitas a escrutínio e crítica e devem ser atacadas. É a base da evolução social, se todos fôssemos conformistas imutáveis, nunca teríamos chegado tão longe como sociedade. O contrário disso é a ditadura, seja ela teocrática, política ou ideológica.

Mas todas estas características devem ser TOLERADAS enquanto não causem males a sociedade. A tolerância é uma necessidade. Tudo que prega a intolerância está fundamentalmente errado, pois retira o direito das outras pessoas a terem suas opiniões, e geralmente resulta em violência e preconceito.

Agora, como cada um define o que respeita? Eu sinceramente não posso dizer, pois é muito subjetivo, mas posso dar minha opinião sobre o que respeito. Eu respeito a ciência. Eu tenho consciência de um fato que define o motivo desse respeito. Se HOJE um fato qualquer, natural ou humano, dizimasse totalmente a população mundial, e a espécie de algum modo sobrevivesse retornando aos primórdios do conhecimento, ambas, ciência e religião, retornariam junto com a humanidade. Alguns milhares de anos depois, a ciência estaria nos mesmos passos, chegando as mesmas conclusões sobre o mundo natural e avançando exatamente da mesma forma, CONSISTENTE e maravilhosa, chegando ultimamente as mesmas conclusões, a verdade. A religião teria ressurgido, com outros mitos, outras crenças, totalmente diferentes, encravadas na história e baseadas nela, produto das interações humanas ao longo dos séculos. TOTALMENTE DIFERENTE.

Então, em quem confiar? Eu tenho a minha opinião, se a sua for contrária, eu respeito você, e tolero a sua opinião, desde que ela não interfira na minha vida.

Aí chegamos no ponto: quando as crenças, superstições, mitos e inverdades interferem na vida das pessoas. Algum tempo atrás eu li um texto que era mais ou menos assim:

Você tem o direito de acreditar que unicórnios existem, são imateriais, invisíveis, minúsculos e moram em sapatos. Eu tolero sua opinião, embora obviamente não respeite ela, por ser ridícula. Como existe essa tolerância entre nossas opiniões, podemos continuar amigos, e continuo respeitando sua pessoa. Meu problema com você começa quando você começar a pregar como as pessoas devem calçar seus sapatos, de maneira a não importunar os unicórnios. O problema escala e fica grave quando você decidir propor uma lei para reforçar isso.

Mas então como saber o que é verdade. Muita coisa ainda não possui explicação científica e embora os "bolsões de ignorância" que ainda dão razão ao Deus das Lacunas estejam cada dia menores, as pessoas ainda tem o direito de acreditar, e devemos tolerar isso. O problema é que a maioria das religiões possuem dogmas que dizem respeito a sociedade. Elas querem nos ensinar como conviver, o que comer, o que vestir e o que falar, elas são imutáveis nesse sentido e por causa delas, Uganda agora tornou ilegal ser gay, punível com prisão perpétua, sem falar que ainda queimam bruxas em alguns lugares.

Se o que você acredita não prega a tolerância, é desprezível. Se prega, mas é seletivo, é inconsistente. Se tenta atacar a ciência pois as conclusões científicas (baseadas em fatos e muito estudo) contradizem a doutrina, é perigosa. Se conselho fosse bom, não se dava, comprava, mas vale a pena deixar a dica: acredite no conhecimento científico.

25 de nov. de 2013

Causalidade e conhecimento

Vou tentar ilustrar o texto com um exemplo fácil de entender.

Alguns anos atrás estava preparando a nova unidade de armazenamento de dados que meu computador utilizaria. Ela era externa, e precisava ser ligada usando um cabeamento especial que me fez desmontar praticamente todo o computador para poder ligar. Depois de todo o trabalho concluído, unidade ligada, liguei o computador. Para minha surpresa, poucos segundos depois, ele desligou sozinho.

A mente humana é perita em fazer associações, eu automaticamente associei o fato do computador não ligar com a unidade externa, e desliguei ela. Tentei novamente iniciar o computador e fui bem sucedido. Provada a causalidade, cheguei a pensar em mandar uma mensagem ao fabricante, que hardware mais incompatível, que causa problemas no computador quando ligado.

Mas ser racional não é ser impulsivo, resolvi fazer mais testes. Desliguei o computador, liguei novamente (com a unidade desligada) e imagine só! Ele desligou sozinho! Então a unidade em nada contribuiu para o defeito. Perceba a rapidez do julgamento, da indignação e da resposta emocional diante de prova "incontestável" de que a unidade causara o problema. Liguei novamente, com a unidade ligada, e ele LIGOU! Quer dizer que OUTRA coisa causara o defeito. Revisando as ligações, achei o problema, era um cabo com mal contato, provavelmente reagindo ao calor causando problemas.

A moral é a máxima antiga: "CORRELAÇÃO NÃO É CAUSA"!

E então vemos as conclusões pseudo-científicas que rodam pela Internet, pelas redes sociais e pela cultura popular. Nós inclusive disseminamos estas informações, acho que a mais marcante em minha vida foi a da "friagem", como se ficar com frio transmitisse gripes ou resfriados. Até desenhos ilustram isso, o personagem pega um frio e aparece doente! Nós falamos isso para nossas crianças! E é ERRADO! Gripes e resfriados são causados por vírus! A baixa da imunidade que passar frio pode causar é de um papel ínfimo na questão de desenvolvermos ou não a doença! Outra coisa é a gripe e o resfriado. Gripes DERRUBAM a pessoa! Dor no corpo, cabeça, indisposição, é coisa para se deitar na cama e esperar passar, tomar remédios para prevenir os sintomas e ficar quietinho! Eu acho sinceramente que tive GRIPE pouquíssimas vezes. A coriza e os espirros que temos geralmente são RESFRIADOS, que passam em 48 horas...

Eu vejo isso o tempo todo, caio nestas falácias o tempo todo, até no trabalho. Semana passada mesmo trabalhei em duas máquinas quase 2 horas para descobrir que o defeito era na outra ponta. Correlação, e causa. O site me dizia que o problema era comigo... Não era.

Desconfiar, ser curioso e adquirir conhecimento previne cairmos nestas falácias. Nos permite explorar o mundo de forma mais consciente, desempenhar nosso trabalho de forma mais efetiva e até gerenciar nossas emoções de forma mais racional. Além disso, conversar sobre isso, espalhar o conhecimento provado e comprovado, de preferência via método científico, ajuda as próximas gerações!


E quantas falácias e torpes conceitos circulam em nosso meio? Coisas criadas pelo medo de 5 gerações passadas ainda assombram a sociedade atualmente. Não é nosso dever acabar com isso? Na posição de autoridade e dono da verdade passar conhecimento falacioso e não comprovado para uma criança é válido? Até que ponto a sua fé, sua carga emocional e suas "verdades" erradas vai influenciar a vida das outras pessoas, mesmo contrariando todo o desenvolvimento científico? Crer e saber não são a mesma coisa. Só por crer você ensinará isso como se fosse verdade? E quando ao que é, ou vai ser comprovado como sendo? Não tem problema não saber uma resposta, nossas vidas são eternas buscas por respostas, é o que impulsiona o ser humano. Não aceite a resposta fácil, incomensurável, improvável e dogmática. Busque o conhecimento.

15 de set. de 2013

Naruto e Pirataria

Sou Brasileiro. E sim, eu desisto de vez em quando.

Hoje por exemplo. Resolvi voltar a olhar Naruto. Já falei sobre a série aqui faz um tempo, mas enfim, eu gosto de animes. Me processem.

Fui na verdade lembrar da série pois um amigo postou que estava olhando no Facebook e eu lembrei que tinha deixado de lado a série por estarem passando fillers (episódios que não fazem parte da história em si, e são colocados para "encher linguiça", são horríveis).

Minha "fonte" de Naruto era o site do DattebayoBrasil, um site de fansub (fãs que legendam os episódios) que era muito bom. Eles pararam de legendar o Naruto quando o Crunchyroll passou a fazer streaming dos episódios em português (atitude extremamente louvável), pois antes não tínhamos como assistir Naruto de forma legal em português, e agora temos, portanto, a "pirataria" que eles faziam podia cessar. Não [enseio duas vezes e assinei o Crunchyroll.

Hoje acessei novamente, reativei minha conta (pagando, claro) mas não consegui assistir. Eu tenho Internet da Oi, pago por 15Mb, deveria ser mais do que suficiente para assistir vídeo em HD via Internet. Mas não é. Não sei o motivo, consigo assistir Netflix e Youtube sem falhas, e no entanto, o Crunchyroll não "anda". Tentei de tudo que podia fazer tecnicamente, e nada justifica o tráfego do site nunca passar de 20KBps, insignificante. Nem em baixa resolução consegui assistir.

Me resta o quê? Piratear. Lá vou eu baixar via torrent (que a Oi ainda consegue me ferrar, não entregando meus 15mb, mas sim uns 6, o que, perto do 0,0002MB {deve ser por aí a conta} que o Crunchyroll estava pegando, está ótimo!). Pirateando conteúdo, sim. Pois no Brasil essa é a saída, um CD custa 20 dólares nos USA e aqui 120 reais, você baixa a MP3, pois o maldito iTunes só funciona em iTrecos, e a Amazon não gosta de brasileiros. Um console de video-game de 99 dólares e seu controle extra de 49 foram taxados em 393 reais de imposto para chegar em minhas mãos. Um tablet de 600 dólares chega ao Brasil por 2400 reais. Ridículo. Tosco. Excludente.

É uma vergonha, tanto potencial, e tanta sacanagem.

20 de ago. de 2013

O Despertar de um Ateu

Muitos anos atrás escrevi sobre o despertar de um Geek, post que na verdade ficou engavetado, mas definiu o próprio nome do blog. Hoje quero falar sobre a jornada da fé até a falta dela. Foi um caminho árduo. Nada é mais difícil do que negar sua herança e definir seus conceitos como adulto. Além disso, o estigma que a "falta de fé" traz, juntamente com a palavra "ateu", é muito presente em nossa sociedade e, infelizmente, também na minha família.

Meus pais são "crentes", no sentido de acreditarem em um Deus, e tem muita fé, embora eu sempre tenha achado que esta fé nunca foi direcionada. Meus primeiros anos foram vividos na Igreja Adventista do Sétimo Dia, na escola sabatina e com o "por do sol" realizado nos sábados a tarde, quando a família, reunida, lia a bíblia e entoava hinos. Meus pais abandonaram a igreja por motivos particulares anos depois, e fiquei "órfão" de igreja, mas não de fé. Fui criado com a convicção de um deus amoroso que regia meu destino, mas não fui direcionado a nenhuma igreja em particular pelos meus pais. Esse fato em si na verdade definiu toda a minha trajetória, pois me obrigou a avaliar criticamente minha existência.

Não fui batizado, nem participei em nenhum sacramento, de nenhuma igreja. Conheci a doutrina de várias, cheguei a participar em eventos de várias, e tive muitas experiência. Li bastante a bíblia, e sempre me interessei pela teologia, mas desde muito cedo notei que todas as igrejas tinham algo que não gostava. Os católicos tinham os santos, os adventistas tinham regras até sobre o que comer, igrejas alternativas tinham doutrinas estranhas com regras estranhas, então me afastei muito cedo de doutrinas, mas mantive minha espiritualidade, crendo em algo maior que eu,  e por vezes rezando.

Durante a adolescência, comecei a questionar essa crença em um ser superior do qual derivava minha imagem. Comecei a questionar se de fato existia um deus bondoso, que se importava. Isso começou a ficar mais forte a cada dia, e chegou ao limite quando me deparei com uma frase, atribuída a Marcus Aurelius: Viva uma vida boa. Se existirem deuses, e eles forem justos, não se importarão com quão devoto você foi, mas te acolherão baseado nas virtudes pelas quais você viveu. Se existirem deuses, e forem injustos, não há motivos para adorá-los. Se não existirem deuses, você terá se ido, mas terá vivido uma vida nobre que será lembrada nas memórias de seus entes queridos.

Questionei-me então sobre um deus pessoal, que se importa, e cheguei a conclusão, diante de todo o sofrimento, guerras, pobreza, fome e doenças, que não existe um deus assim. Se ele se importasse, não existe nenhum motivo para ninguém sofrer, afinal, ele é onipotente. Se ainda assim ele o faz para recompensar os mortais depois, ele é um sádico, e nos testa como se fôssemos marionetes, e não merece nem que se creia nele. Nas palavras de Epicurus: Deus quer prevenir o mal, mas não pode? Então ele não é onipotente. Ele pode, mas não quer? Então ele é mal. Ele pode e quer? Então qual o motivo de existir o mal? Ele não quer nem pode? Então qual o motivo de chamá-lo de deus? Assim, resolvi que, se existe um deus, ele é personificado na indiferença, beleza, força e constância da natureza. Sendo natural, e não humano, se remove qualquer sentimento dessa presença (pois nem como um SER eu posso defini-lo) e ele se torna o mundo tangível, natural, com todas as suas consequências. Isso acaba com conceitos como reencarnação, alma, pós-vida, céu, inferno, anjos e demônios e destino, e é de certa forma lindo, pois entrega o controle completo de nossas vidas a nós mesmos. Me tornei um naturalista.

Daí para ser um agnóstico foi simples. Eu simplesmente aceitei que, se há um deus, ele não quer se revelar. Esse conhecimento, aliado a minha total descrença em instituições religiosas, livros sagrados, profetas, santos e mártires, levou a dúvida, e a dúvida é o lugar do agnóstico. Ele admite não saber. Se provado, ele assume qualquer posição, como é impossível provar a existência ou inexistência divina, ele é um eterno meio-termo.

Nesse ponto, já adulto e com acesso a muita informação, a dúvida foi perdendo força. O fato é: se existe deus, ele não se fez presente, não revelou nada fora do comum, não deixou uma marca inexplicável que respondesse sem sombra de dúvida as tantas perguntas que eu tinha. Por outro lado, o método experimental científico respondeu tantas perguntas, nos levou tão longe. A ciência me sustenta como informata, nos levou a lua, nos faz voar, superar limites, facilitar nossa vida, melhorar nossa existência. Pode até, no futuro, nos salvar do inefável destino terrível que a falta de recursos naturais para uma população sempre crescente possa causar. Nas palavras de Richard Dawkins: It works! Bitches! Então, confiar na ciência (ou melhor, no método científico) é o mais razoável. E seguindo essa linha, pesando a evidência, existe enorme chance de simplesmente não existir deus. A teoria da existência divina simplesmente não tem força perante a teoria da inexistência, e sendo assim, sou obrigado a aceitar a última. Assim, começo a me questionar se aceitaria o estigma que acompanha se definir como ateu.

Comecei então a me definir como ateu. No começo com receio, vergonha, mas depois com a renovada certeza de que ser bom basta. Infelizmente parte da família não aceitou tão bem. Eu me considero uma boa pessoa, moral e honesta, esforçada e responsável, mas aparentemente não é o suficiente, é necessário crer. Foi difícil escutar de meu pai que a maior falha na vida dele era que eu não tinha encontrado deus. Mas pudera, eu procurei e ele não se revelou. Ele ainda disse que terá que responder no pós-vida sobre essa falha, ao que respondi que, se deus perguntar sobre isso, ele é um tremendo idiota, e merece minha descrença.

Eu não gosto quando colocam a minha lógica, meu raciocínio, no mesmo patamar da fé. Fé é, por definição, a negação da lógica. Você acredita em algo pois acredita, e ponto final. É um ponto fácil de manter, pois se alguém não acredita no mesmo que você, está simplesmente errado. Também vejo a religião como um "vírus" cultural. É estranho que no ocidente acreditam em cristo, enquanto os esquimós nunca tiveram essa revelação. Os hindus, japoneses, indígenas, não tiveram essa revelação. O deus cristão apareceu para uma tribo isolada, no oriente médio, e por algum motivo ele é o deus certo.

Toda essa mitologia é muito interessante, mas é falsa. Como os deuses antes dele, também este vai virar história, ou ter sua apresentação modificada para se tornar mais moderna, como tantas igrejas tentam, incessantemente.

Agora, o motivo principal para me tornar um ateu, além da óbvia jornada que descrevi, foi que ateus se desprendem das regras religiosa que pregam a violência, o preconceito, o racismo, a segregação. Um ateu é por definição tolerante, pois a ciência nos diz que somos todos muito parecidos, sem diferenças significativas. Que o que importa não é a raça, cor, escolha sexual ou filosofia que nos define, mas nossa contribuição para o mundo. Não existe motivo para guerras, conflitos ou julgamentos em ser ateu. Não defendemos nada que não possa ser comprovado, e se for comprovado o contrário, aceitaremos a nova prova pois sabemos que a evolução traz novos experimentos, novas informações, e estamos sempre reavaliando.

Acreditar no mundo tangível, na nossa finitude e no nosso potencial deveria ser suficiente.

19 de ago. de 2013

O post mais acessado - Igrejas

Mais de 10 anos escrevendo nesse blog, e as estatísticas não mentem. O post mais acessado, mais comentado e mais polêmico não é nenhum falando sobre religião em si. Sobre minha escolha de ser ateu (que nem havia tomado na época), ou sobre Informática, é o velho e bom Spiderman e Satanismo, talvez pela escolha de palavras: a palavra satanismo parece tabu. A não ser que você, como eu, seja ateu, então Satã não existe, é apenas mais um mito criado por seres humanos, e portanto, o restante perde o significado também.


Mas o interessante é que eu não falei sobre religião no post. Na verdade falei mais sobre o Homem Aranha do que sobre qualquer outra coisa. Claro que as pessoas invocaram a Bíblia para me contradizer, então fui obrigado a me manifestar sobre isso, e explicar que não é um argumento relevante para a discussão, mas isso não altera o fato de ser o post mais acessado, e mais comentado, e o motivo? Fala sobre um Pastor. A personificação de uma igreja. Igrejas não podem ser contestadas! Estão acima das regras, acima de críticas, acima de julgamento pois representam deus. Me poupe. Critico mesmo. O problema é tão acirrado que mesmo quando o cara concorda comigo, ele me critica antes (vide último comentário, postado HOJE, sim, 6 anos depois do post).

Igrejas são instituições. Como as associações, só que recheadas de privilégios pois os políticas sabem que religião ganha votos, então eles cobrem as igrejas e templos de exceções as regras, tornando elas ótimos alvos para charlatões bem apessoados e simpáticos cativarem o povão pouco instruído ou os impressionáveis e angariarem milhões, sem impostos, para seus próprios bolsos (vide o fenômenos das neo-pentecostais).

Num país onde a educação vai de mal a pior, onde a miséria faz parte da vida cotidiana e onde o governo prefere fazer estádios de primeiro mundo do que hospitais de primeiro mundo, e o povo não só concorda, mas aplaude essa atitude, esse tipo de golpe prevalece...

28 de jul. de 2013

Pseudociência e crença

Pseudociência é um dos meus temas favoritos de conversa.

Gosto de ver as pessoas defendendo conceitos que eles não entendem, e cujos arautos não tem a mínima formação para entender. O mais interessante é ver estes arautos vociferando conceitos de uma área de conhecimento como se fossem aplicáveis generalmente a todas as outras áreas existentes.

É praticamente um show de ignorância, literalmente o cego guiando o cego.

Alguns exemplos seguem:

Homeopatia, clamando ter efeitos com quantidades infinitesimais (ou inexistentes segundo cálculos com a Constante de Avogadro) de venenos diluídos, mas sem nunca ter provado efeito acima do placebo. Defendida por gerações de médicos, pessoas com formação, experiência e conhecimento.

Espiritismo, usando conceitos da física para justificar a existência incorpórea e a comunicação interdimensional entre consciências antes habitantes de nossa dimensão e nós.

Síndrome da Turbina de Vento, emprestando termos físicos para tentar justificar efeitos colaterais inexistentes em pessoas vivendo perto de turbinas de geração de energia eólica.

Programação Neurolinguística, usando termos técnicos de inúmeras ciências modernas, para tentar justificar que suas técnicas podem levar ao sucesso pessoal e profissional.

Note, todas são negócios bilionários que nunca foram provados ou comprovados, e que, pelo contrário, são constantemente revelados como falsos por diversos estudos. Se não existisse o efeito placebo, efeitos psicossomáticos, problemas de percepção e consciência, é provável que ninguém investiria tempo nisso. Mas investem. Aos milhões. É como se as pessoas fossem programadas para querer algo sobrenatural em suas existências, já que a existência material é tão sutil, limitada e finita.

No entanto, a maioria das pessoas que acha isso também não investe em sua existência (a única comprovadamente real e existente).

Como recentemente li em um artigo, em uma conferência sobre turbinas de geração de energia eólica, um senhor notadamente transtornado pede a palavra para, munido de um papel amassado, criticar os efeitos somáticos de infrassom, ultrassom e radiação eletromagnética. Não era uma pergunta, e portanto não foi respondida, mas o que chamou a atenção do palestrante foi que esse senhor, ao voltar para sua cadeira, acendeu um cigarro. Em uma tragada ingerindo dezenas de substâncias carcinogênicas que vão afetar diretamente sua saúde, modificar seu estado de consciência e prejudicar outras pessoas ao seu redor, poluindo o ar.

Quando uma coisa inofensiva causa preocupação, e outra notadamente perigosa soa inofensiva, há algo muito errado.

A negação das provas e inferências científicas gera esse tipo de problema. Todos os dias mães dizem a seus filhos que pegarão gripe se expostos ao frio. Quando sabemos que gripe é um vírus. Meu sobrinho me falou que sua mãe disse para ele não engolir as sementes da melancia, sob pena de ter crescendo dentro de si um pé de melancia. Minha nossa. Um outro amigo reclamou que tinha frieiras, mas ignora que frieira é um fungo, que precisa basicamente de calor, umidade e alimento para crescer, elimine um destes e se livre do problema. Em casos mais graves, a rubéola, doença praticamente erradicada, ressurge pois pais decidiram não vacinar os filhos, vítimas de um médico que falsificou uma pesquisa. E tem gente que ainda acredita nele, inclusive oferecendo asilo ao mesmo, nos Estados Unidos. Uma criança morre, a míngua, de diabetes, pois seus pais acham que consultar um médico tiraria a "Glória de Deus" sobre a cura, CERTA, de sua criança.

Todos os dias pessoas morrem, não por falta de atendimento ou condições, mas por ignorância. Em plena era da informação, pessoas decidem voluntariamente ignorar evidência e sofrem as consequências.

Enquanto isso, a crença leva milhares a jornadas longas, perigosas e cansativas. Pena não ver estes mesmo efeito com o que realmente interessa, avanço científico. O mais incrível é, enquanto criticam os cientistas, suas descobertas e suas implicações, as pessoas usam microondas, aparelhos celulares, TVs gigantes de LED e computadores avançados. Além disso dependem de serviços que se baseiam em tecnologias, que pouca gente entende, mas todos usam.

Eu menciono isso pois as pessoas clamam que a ciência exige tanta fé quando qualquer fundamentalismo, mas elas USAM a ciência e a tecnologia todo dia, são testemunhas do conceito que Richard Dawkins mencionou em uma palestra: IT WORKS, BITCHES! Funciona poxa! Se a ciência desenha um foguete, ele vai a lua, se ela desenha remédio, ele funciona, se ela manda radiação através do ar para que a dona de casa assista a novela, FUNCIONA! Eu não entendo todos os conceitos científicos que defendo, não tenho formação para isso, creio que a interdisciplinaridade que existe entre todas as ciências não permite e nunca permitirá "saber tudo", mas eu confio em quem usa o método científico pois ELE FUNCIONA! Mesmo não entendendo, eu sei que funciona, e posso usar e confiar.

Eu não confio no pastor, no padre, no papa ou no apóstolo. Mas eu confio nos cientistas. Eu confio em outras ciências também, todos os dias: medicina (ah, a aspirina), mecânica (sim, tenho carro), química (nada como usar pasta de dente e sabonete), física (afinal, uso a porta, e não a janela do segundo andar para sair de casa), etc.

O dia que o papa vier em minha casa e lavar a louça, ele terá mais utilidade do que toda a igreja católica já teve para mim... Enquanto isso, a ciência funciona! Sempre.

25 de jul. de 2013

Sony e smartphones

Eu era um fã da Sony.

Tive um X10 Mini Pro, um Xperia Mini Pro e por último estava usando um Xperia P. O X10 Mini Pro deu o que tinha que dar, foi uma fase ruim para a Sony, onde eles não sabiam exatamente como agir. O Xperia Mini Pro foi uma experiência mais gratificante, mas evidenciou alguns erros, que foram repetidos e piorados no Xperia P.

Hoje, de posse de um Motorola Razr D3, eu vejo que os problemas da Sony eram ainda piores. Na verdade eu tinha me acostumado com os defeitos terríveis. Agora, com um aparelho que funciona bem, vejo que foi um erro insistir com a Sony (mesmo depois de ter tido um Samsung S2 e de ter um Samsung Galaxy Tab 2 7'').

Primeiro, Sony e bateria. A Sony investe em design. O design dos smartphones da Sony só pode ser comparado aos da Apple. No caso, o Xperia P tem um corpo em alumínio, muito bonito, um design quadrado que valoriza os detalhes, e uma fita transparente separando o corpo da parte de baixo, onde ficam as antenas. O aparelho é muito bonito e chama a atenção. Mas tem uma bateria de 1350mah. Lixo. Não dura um dia inteiro. Nem com reza. Mesmo com tudo desligado, não dura. É ridículo. Além disso a Sony foi lidar com a bateria e inseriu modos diferentes, modificou toda a interface de uso de bateria do Android, então um belo dia fui ver e a bateria estava em 2%. Imediatamente desliguei WiFi, BT, 3G, GPS, tudo. Quando religuei a tela para ver a hora (e se o aparelho ainda estava ligado), me deparei com o mostrador em 13% de bateria. Que diabos é isso? O aparelho "ganhou" carga de onde? É porque a carga mostrada não é a carga real, é uma estimativa (WTF?). O modo "stamina" (tosco) simplesmente torna seu smartphone um dumbphone, e nem ajuda tanto na bateria pois a interface de telefonia da STEricsson (fabricante do chipset Novathor que embarca no aparelho) suga bateria como doida. E a bateria, pelo corpo de alumínio em peça única, não é removível. Ou seja, leve junto seu carregador, senão, vai morrer. Quando mais precisar.

Segundo, Sony e a tela. Como dito, tudo é design. E a Sony parece não ser fã de pagar royalties ou imitar outra empresa, ao invés do consagrado Gorilla Glass, ela primeiro metia uma tela de plástico, altamente propensa a riscos (X10 Mini Pro). Agora, eles colocam vidro mineral, muito bonito, mas acima do vidro, uma película anti-estilhaço (pois botar vidro em um smartphone é muito perigoso, se cair e voar, pode machucar mesmo). Só que a película em si risca. Muito fácil. Meu Xperia P riscou em 2 meses o suficiente para me fazer arrancar a película. Meu Xperia Mini Pro só não riscou pois sempre teve uma outra película aplicada. Agora os top de linha da Sony vem com o mesmo vidro mineral, na frente e atrás. E a mesma película maldita. Que risca. Que idéia Sony!? Gorilla Glass não risca. Simples assim. É muito bom. No S2 eu vi isso, e agora o Razr prova novamente a superioridade do material. Use o melhor, não o melhor que vocês podem produzir, Sony.

Terceiro, Sony e a garantia. Não sou o primeiro a falar isso. A empresa que presta assistência para a Sony no Brasil não inspira confiança. Meu smartphone apresentou um problema no slot de cartão SIM, mandei para lá, voltou com um PERDA DE GARANTIA, e 3 fotos mal tiradas dizendo que era mau uso. Tosco. E ainda FICARAM COM A PEÇA que eu mandei, que tinha soltado. Comprei a peça, vou trocar do meu bolso e DAR o aparelho. Prá me estressar chega o trabalho.

Dizem que as assistências no Brasil não são das melhores, mas eu espero que empresas grandes invistam nisso, caso contrário não usarei as marcas.

O negócio é fugir da Sony enquanto eles não mudarem a mentalidade.

19 de jul. de 2013

HTPC, discos externos, sata, e-sata, usb, cases RAID e problemas


Quando montei meu primeiro HTPC, ele era um notebook com defeito na tela, ligado a TV pela segunda saída de vídeo e usando um case de HD externo de 320GB com ventoinha e um transformador externo via USB.

Com o tempo o setup não serviu mais, além de ser um tanto lento (máxima leitura de 20mbps, escrita no mesmo nível), adquiri uma placa e-SATA expresscard (lembrando, era um notebook) e um case externo e-SATA duplo com 2 gavetas (um AMS Venus DS3RPRO com chipset Silicon Image 5744), além, claro de um HD clone de 320GB para espelhar.

Com o tempo 320GB era pouco, e resolvi investir em um novo case, desta vez com um setup de 1TB, o Venus tinha custado o olho da cara (500 reais, na época, era MUITO dinheiro), e cada HD custaria 200, então 1000 reais em um setup não era opção. Além disso, nenhum lugar no Brasil vendia o Venus (que eu anteriormente tinha achado no MercadoLivre). Adquiri então outro case USB/e-SATA baseado no mesmo chip (afim de usar o mesmo programa de monitoramento) mas mais barato e nacional.

Agora o setup estava mais ajeitado. Resolvi investir em um computador de verdade, adquiri um HTPC (sobre o qual já comentei aqui no blog mesmo) e implantei as mesmas características do notebook.

A essas alturas o HD externo da Venus, pelo uso constante (2 anos) começou a variar. Reiniciava do nada, começava a reconstruir o array e demorava nesta operação, chegando a travar o I/O do computador, gerando lag. Não demorou muito para ele começar a dar problema. A tranca de uma das gavetas quebrou (pelo que pode ser unicamente explicado por problemas com o material plástico e calor/tempo de uso). Logo depois o botão de ligar apresentou problema, então, muito desgostoso adquiri novo case externo, dessa vez um da Welland ME-580J (o que estava “em evidência” no MercadoLivre). Não demorou muito o outro case, nacional, também começou a dar problema, até parar de funcionar. Cases externos são hardwares enigmáticos. Não possuem saída de depuração, nem LCD e os LEDs são inúteis. Quando estragam, é impossível consertar e usar para outra coisa. Enfim, são descartáveis. O Welland ainda tinha uma vantagem, que era ser ligado direto na tomada (possuir fonte interna ao invés de um transformador externo). Acabei ficando com dois Wellands, um com espelho de 1TB e outro com espelho de 320GB.

Surgiu o Windows 8 e veio a decepção. O chipset que a Welland usa, um JMB352, não é uma maravilha e o W8 não reconheceu meus discos. Retornei ao W7 com um desgosto...

Lá se vão mais alguns meses. Os Wellands começam a enlouquecer. Perdem os discos, trancam o I/O, impedem o backup do Windows e meus programas de funcionar. Estresse. Tentei retirar do e-SATA apesar da diferença ridícula de velocidade, e funcionou mais uns meses, mas logo mesmo via USB começou a dar problema. Eu cheguei a conclusão que esses dispositivos são muito fracos, não são testados extensivamente e não são feitos para ficar ligados 24 horas.

Comecei a procurar alternativas. Meu gabinete extremamente slim não suporta mais discos internamente, então a única saída são cases externos, mas não queria mais depender dos chipsets, fontes externas (batatas) e RAID baseados em chipsets baratos e sem suporte (velhos)  que os cases apresentam. A solução seria um case externo que simplesmente alimentasse, refrigerasse e mantivesse os HDs no lugar, e eu usaria as portas SATA abundantes de meu HTPC para ligá-los. Fica esteticamente mais feio, mas tudo isso vai ser escondido atrás da estante mesmo.

Achei um case, de marca Addonics, o Mini Storage Tower. Basicamente um suporte em forma de torre para HDs, com suporte a diversas saídas, eu queria a que tivesse 4 saídas e-SATA. Enfim, teria que importar o produto, que não sai barato (em torno de 130 dólares), e pagar o frete astronômico (o produto é pesado) de mais 100 dólares. Impraticável. Pensei até em trocar de gabinete, mas investi muito tempo, pesquisa, e ele já faz parte da minha sala de estar.

A solução proposta por um amigo seria pegar esses cases Welland e tentar modificar eles para o que eu quero. Depois de muito ponderar resolvi abrir o que estava dando mais defeito e verificar, e era viável. A fonte interna fornece 12V, tem switch on/off próprio e é separada da placa, todos os painéis e placas são removíveis e não deixariam buracos visíveis. Tudo que eu preciso é de um circuito regulador de voltagem para converter os 12V em 5V necessários para os HDs, cabos de força SATA e cabos de dados longos SATA. Devem estar chegando em algumas semanas.

9 de jun. de 2013

Esquemas de Pirâmide


Depois de tantos anos, era de se esperar que as pessoas estivessem mais espertas, mas nunca subestime a ignorância berrante e a esperteza salafrária.

Estou falando dos esquemas de pirâmide disfarçados de marketing direto e marketing multi nível. Eu digo disfarçados pois tem alguns que nem se dão o trabalho de fingir que são sérios. Enquanto algumas empresas vendem produtos super faturados para clientes sem noção, os novos esquemas simplesmente vendem algo intangível. Muito mais fácil, já que fica mais "rápido" ainda, bastam alguns minutos na Internet. Trabalhe de casa, cinco minutos por dia, e ganhe dinheiro, sem esforço, fique rico, sem trabalhar.

A Internet tornou os esquemas de pirâmides virtuais um negócio multimilionário. Você cria um esquema simples, vendendo algo tosco, como publicidade na Internet, faz um site caolho que dê a impressão do vivente estar fazendo alguma coisa (não precisa ser muito complicado, dois botões no máximo). Sem correio, sem mercadoria, sem ir de porta em porta, sem ter como verificar o que se está vendendo. É perfeito. Contrate um time legal muito bom para cobrir os buracos da legislação e no Brasil, você consegue uma empresa.

Misture elementos dos esquemas Ponzi então, e você fica rico!

Então a pessoa começa a ganhar dinheiro (dinheiro este vindo de novas pessoas entrando no esquema), em alguns meses, o investimento se "paga" e o cara começa uma propaganda muito maior. Se esse mané vagaba está ganhando dinheiro, eu também posso. Quanto mais gente, melhor. A empresa pega uma fatia gorda do bolo e larga migalhas para matar a fome dos afoitos, embolsando grande e criando uma rede de confiança, atraindo ainda mais gente. Essa confiança faz com que os novos investidores invistam mais alto, e os velhos também, aumentando o fluxo de grana.

O problema é que uma hora o dinheiro para de entrar. Motivo? Não tem mais GENTE para entrar no esquema. E os novos investidores é que pagam os antigos, e aí a coisa descamba.

Mas isso pode levar meses, anos, sabe-se lá até quando vai ter mané entrando no esquema? Mané é produto em alta disponibilidade. O que mais tem é vagabundo querendo ganhar dinheiro fácil, é uma fonte praticamente inesgotável, mas um dia acaba. Isso que eu nem mencionei os desesperados, que a nossa nação produz aos milhares, gente que não tem mais nenhuma saída, e topa qualquer coisa para desafogar o orçamento. Até que acabem os novos participantes, o dinheiro foi lavado, a empresa declara falência, é recomprada e revendida uma dúzia de vezes e a trilha de papel esfria. E todo mundo sai ileso. Menos quem entrou por último (é, ser mané e lento ainda, aí tem que apanhar mesmo).

Mas se existe a possibilidade real de ganhar dinheiro, qual o motivo de não estar entrando em todos estes esquemas?

Caráter. Minha família me ensinou, desde pequeno, a ser honesto. Some-se a isso o fato de eu ser um pouquinho inteligente e ligar o 2 + 2 do esquema, e eu não quero entrar. Você começa a fazer propaganda do esquema, e quem são os alvos? Sua família, amigos, conhecidos. Sua rede social é o alvo do golpe. O cara embolsando o dinheiro não se importa com eles, mas talvez você se importe. São as pessoas que te conhecem, que você convive, trabalha, sua família poxa. Eles vão pagar o seu "lucro" e o de todo mundo antes de você. E a hora que não tiver mais manés no mercado, o dinheiro vai secar, e alguém vai tomar prejuízo. Já dizia o filósofo, "onde tem alguém ganhando tem alguém perdendo". Você pode destruir seu círculos social e de quebra destruir vidas inocentes, talvez perto de você, talvez longe, mas com certeza alguém vai se ferrar, alguém com família quem sabe, com filhos para criar. Sua consciência consegue viver com isso?

Então, o que me impede de "ficar rico" trabalhando de casa, pela Internet, é o fato de eu não ser ladrão, e ser incapaz de roubar descaradamente outros indivíduos, mesmo virtualmente. Para mim as pessoas inteligentes que entram nesse esquema e sabem como ele funciona são salafrários, ladrões, da pior estirpe, pois sabem exatamente o que estão fazendo, mas só ligam para o lucro. O resto, são preguiçosos, coitados, sem instrução e fadados a seguir a corrente, e achando lindo o dinheiro entrando milagrosamente.

Eu sei que não existe punição, mas a sua reputação manchada não pode ser limpa com alvejante, nem agora, nem depois, nem nunca.

5 de jun. de 2013

Ansiedade e o futuro


Praticamente todos os dias me deparo com mensagens no Facebook dizendo para "viver a vida ao máximo", que "a vida é curta", que "não perca tempo". A única coisa que me vem a cabeça quando vejo esse tipo de postagem é: "ansiedade".

Pessoas que ainda não acharam seu centro (ou desistiram de procurar) tentando justificar um modo de vida frenético como se fosse a única maneira de viver plenamente. Dormir é bobagem, ou como alguns dizem: "vai ter muito tempo para dormir no cemitério". Vamos provar tudo que existe, numa busca desesperada de felicidade. Dormir é um descanso necessário para nosso corpo e mente, exercícios também tem duplo benefício, manter-se ativo física e mentalmente evita uma deterioração precoce e previne problemas, e uma vida equilibrada e feliz é plena. Não importa o que os outros digam, pois a felicidade é subjetiva, um conceito que somente o indivíduo pode atestar.

A felicidade está dentro de cada um. Ache algo que gosta de fazer para tornar sua profissão, se não conseguir, ache um hobby que não exclua completamente sua família e amigos, e divida essa experiência. Conviva com harmonia, tente desfazer os nós ao invés de atá-los. Seja compreensivo, mas firme. Tente melhorar suas relações, manter as que existem, criar novas se for o caso. Tente experiências novas, mas não se entregue ao desespero dos riscos exorbitantes nem aos prazeres momentâneos que cobram seu preço mais tarde. Satisfaça-se, sem depender dos outros, e tente satisfazer os outros, da melhor forma possível, cultivando suas relações interpessoais no trabalho, no grupo social e na família. Faça tudo isso de forma equilibrada, sem exageros, sem cobranças, e principalmente, sem arrependimentos. Viva pela filosofia "aconteceu da forma como deveria acontecer, e não poderia ter acontecido de nenhuma outra forma" pois suas ações repercutem e levam aos acontecimentos, e é humanamente impossível prever todas as ramificações dos seus atos e planejar cada passo em direção ao futuro.

Viver com equilíbrio nos leva a viver bem, e acaba afetando as pessoas ao redor. O exagero só torna tudo mais complicado, e muitas vezes uma noite alucinante cobra seu preço de formas explícitas e implícitas. Permitir-se uma "loucurinha" de vez em quando também faz parte, mas se você teve uma adolescência plena, essa foi a época para tentar estas coisas e achar seu "meio termo" para viver uma vida equilibrada quando adulto. Não confunda prazer com felicidade. Quem mais se vangloria das conquistas geralmente é quem não está satisfeito com elas e portanto os relatos mirabolantes geralmente são carregados de amargura e uma tentativa de compensar algo faltante.

Encare a ficção como ficção, não como lições de vida. As únicas lições de vida que valem a pena são as que são vividas. Não aumente suas expectativas diante das experiências e situações dos outros. Provavelmente eles tem tantos problemas quanto você, não importa se são mais ricos, mais jovens, mais bem sucedidos. Sua vida é o que importa, e a inveja também leva a uma forma de ansiedade.

De tanto se preocupar com os outros, em como sua vida se compara com a deles, em tudo que você poderia ter feito e não fez, as oportunidades perdidas que acontecem o tempo todo, os problemas que te afetam, você acaba vivendo no futuro, saudoso do passado e indignado com o presente. Indigna-se com pessoas que não sentem essa ansiedade, com quem não tenta viver no limite, buscando prazeres momentâneos eternamente.

"A chama mais brilhante queima mais rápido", mas não aquece ninguém por muito tempo. Se artistas fossem fadados a loucura e plenitude manchada pela brevidade, muitos não estariam vivos e nos contemplando com novas criações. Muitos fizeram sucesso e o fizeram em todas as áreas, estão vivos como testemunho de que uma vida plena não precisa ser uma vida curta e recheada de extremos. Os que se foram rapidamente deixaram saudade, e deixaram as possibilidades que não aconteceram, e que, novamente, são saudosamente lembradas pelos ansiosos ou aproveitadas pelos contentes.

Ansiedade leva inexoravelmente a depressão. Quando a efemeridade das situações que desencadeiam prazer se vai, resta a profunda reflexão do valor que as pequenas coisas oferecem, e nesse instante o conforto resultante de um equilíbrio geral na vida pode manter você a salvo do desespero de uma vida cheia de exageros, que não mais pode ser vivida por deterioração normal de nossos corpos e mentes ou manutenção da convivência em sociedade.

Portanto, aproveite os exageros se for jovem, para ser um adulto equilibrado. Procure a felicidade dentro de si mesmo e seja feliz, faça os outros felizes, sem se preocupar com o tempo limitado.

30 de mai. de 2013

Esperança para a humanidade

Tem dias em que me revolto contra a humanidade. Isso aconteceu recentemente quando me deparei com um artigo que explora a violência em Papua Nova Guiné, com raízes em crenças e superstições não diferentes de se acreditar que alguém andou sobre a água, ou curou lepra no século I. O título do artigo diz tudo: "Estamos em 2013, e eles queimam bruxas".

Algum tempo depois me deparo com uma atitude extremamente humana, como os trabalhos sociais de um grupo espírita local, e não posso deixar de pensar: se não houvesse o espiritismo, essas pessoas não fariam o bem da mesma forma? O que leva a estas crenças ridículas, baseadas em mentiras e falcatruas? Qual o motivo de não sermos humanos por sermos humanos? Os muçulmanos atacam os cristãos, e ninguém ganha absolutamente nada com isso. Tudo pois um livro escrito quando haviam apenas duas tribos no mundo conhecido pelo autor diz que deve ser assim...

Em seguida eu vejo um projeto comunitário para construir e lançar ao espaço um telescópio. Vejo um projeto participativo para testar interações entre proteínas e chegar a curas e tratamentos para doenças. Nessas horas a esperança que deposito na humanidade reacende, apenas para ser novamente devastada por uma entrevista.

Chega a doer, essa criatura diz que o darwinismo (como se a teoria confirmada de Darwin fosse um culto de alguma forma, e não uma premissa científica provada ao longo dos séculos sem sombra de dúvida) provoca segregação racial, e retira da humanidade o pensamento de que, sendo criados unicamente, devemos fazer o bem uns para os outros. Que ridículo. O que determina as regras sociais é a própria sociedade. Por isso prendemos assassinos e ladrões, e não pois está escrito em um livro que mais parece uma colcha de retalhos de diversos séculos, mexido e remexido por homens, alguns sem escrúpulos e em uma realidade totalmente diferente da atual.

O mais interessante é a argumentação de jardim de infância dela. Onde está a prova? Aqui está a prova, contundente, irrefutável, acessível! Ok, onde está a prova? É a ignorância seletiva. Se algo prova que eu estou errado, então a prova em si está errada, e não eu. A incompreensão da idade do planeta e do universo e nossa pequena participação, de poucos milhares de anos. É fácil ser humilde perante essa percepção, como todo cientista e estudioso deve ser, e não perante um ser imaginável todo poderoso e corrupto.

A compreensão de mundo pequena e limitada que temos não deve ser desculpa perante as décadas (é, não faz muito tempo) de novas descobertas, as provas estão em todo lugar. Na sua cozinha se você tem um microondas (microondas são parte do espectro eletromagnético abaixo do infra-vermelho, que não vemos, mas esquentam sua comida), as ondas eletromagnéticas são o que me permite escrever isso, conectado sem fio a Internet, seu telefone funciona por rádio, e as antenas retransmissoras por microondas, sem falar nas AMs e FMs e na TV, via rádio ou satélite (sinal vindo do espaço). E mesmo com todas essas facilidades que a ciência criou pois não acreditou na resposta simples de que um velho de barbas criou tudo e mora lá no céu (onde os satélites orbitam). Um celular funcionando condenaria seu usuário a fogueira 400 anos atrás. É inacreditável que diante de toda a evolução as pessoas ainda escolham acreditar na explicação mais fácil e criam tantos problemas com isso (intolerância, guerras, fundamentalismo, segregação sexual, racial e de classes).

Quando confrontados, os ignorantes fogem da pergunta, e se baseiam na fé. A fé que levou as guerras, inquisição, mortes incontáveis, que ainda hoje leva seres humanos a queimarem vivo outro ser humano, decapitar um "infiel", jogar aviões contra prédios e promover atentatos em maratonas.

Eu prefiro acreditar na ciência.

28 de mar. de 2013

Ciência, religião e ateísmo


Hoje eu olhei para o céu. Estava claro, azul, e o sol brilhava do meu lado direito enquanto eu caminhava. Por um momento eu pensei em como o ser humano é incrível, e como questionar a nossa própria existência e lutar contra as forças naturais para ser a espécie dominante no planeta nos torna realmente especiais.

Depois eu lembrei que, como espécie, tivemos 200.000 anos para nos tornar assim, e apenas nos últimos 100 realmente avançamos de forma contundente. Pensei em como a vida de um ser humano representa 130 milhões de vezes menos que a idade de nosso Universo. Aí sim, me senti especial. Nessa calamidade de eventos, eu sou um privilegiado por ser um aglutinado de carbono consciente, que só aglutinou-se da forma correta para que eu seja o que sou hoje pois incontáveis replicadores, desde o início dos tempos, tentaram com avidez se replicar cada vez mais, até que macro organismos surgiram, e tornaram tudo ainda mais complexo. Isso sem falar no nosso planeta, entre incontáveis outros, em incontáveis galáxias ao longo de um universo imenso, com um sol, água líquida e atmosfera capazes de sustentar a vida.

E quem me trouxe essa visão de mundo: a ciência. Eu gosto da ciência, pois ela é uniforme e bonita. Ajusta sua visão de acordo com o que é observado, portanto, é constantemente mutante e avalia-se o tempo todo. Mesmo o que é certeza na ciência pode ser questionado, e se provado, vai refletir em tudo. A ciência está temporariamente certa e errada, até que se prove. Todo dia novas teorias surgem, e seus pais e adeptos tentam constantemente prová-las. Na ciência não existe preconceito, pois como espécie temos, todos, mudanças tão sutis que, geneticamente, somos todos semelhantes, e, portanto, discriminar é ridículo. Um negro tem um DNA quase que exatamente igual ao meu, um branco, um asiático, todos muito mais semelhantes que diferentes. Na ciência gênero ou opção sexual realmente não interessam, desde que todos produzam mais conhecimento para entender melhor o nosso universo. A ciência não nos dita como viver nossa vida, ela nos dá dicas de como viver melhor, de como nos preservar e preservar nosso ambiente, mas ela não pune quem não aceita os conselhos, pelo contrário, estuda nossas reações e procura explica-las, a natureza se encarrega das punições. Essa ciência danada, tentando explicar tudo, e não jogando nada fora.

E esse é o motivo de eu ser ateu. Eu mudei bastante nos últimos anos. Abracei o fato de não acreditar em uma divindade e saí do “espiritual, mas não religioso” para ir para uma visão naturalística do mundo e para a ciência.

Eu sei que nunca vou convencer ninguém a deixar de crer no que crê, mas, como eu disse, a ciência está temporariamente certa e errada, até que se prove o contrário. Você não pode provar que deus existe, e eu não posso provar que não existe (até porque provar uma negativa é impossível). Mas eu posso aceitar a teoria mais plausível, que é ele não existir, o universo não ter 6 mil anos, e a mulher não ter sido feita da costela do homem. Enquanto isso eu uso o bom-senso e a responsabilidade social para me ensinar o que é certo e errado, e tento viver pelo certo. Se eu (e a ciência) estiver errado, e existir deus, e existir um céu e um inferno, e eu estiver diante dos portões após minha morte, eu vou poder dizer que embora eu não tenha seguido os dogmas ridículos, os rituais toscos e os ensinamentos retrógrados de nenhuma religião (afinal, qual é a correta?), eu fui uma pessoa boa. E se qualquer religião estiver certa, e deus for perfeito, quero ver ele me mandar para o inferno. Seria uma sacanagem!

Enquanto isso, eu vivo minha vidinha insignificante, da melhor forma possível, e agradeço a ciência que me permitiu, através da medicina e de tantas outras disciplinas, viver mais e melhor que meus antepassados. E vivo intensamente, pois cada ano que passa é uma comprovação da superação humana, e de nossa evolução. Saboreio cada momento com amigos, família e prazeres diversos, como comer um sushi acompanhado da noiva ou viajar para um show de Heavy Metal e rever os amigos (que batem esse tipo de papo sem se ofender). E admiro poder questionar tudo isso sem que um fundamentalista ignorante queira me matar porque eu penso diferente dele, infelizmente, nem todos podem.

PS: Se existir um deus, e um céu, e um inferno, esses ignorantes que desprezam quem pensa diferente, que usam um livro mal traduzido de séculos atrás para justificar indiferença, violência e desigualdade, vão para o inferno.

27 de fev. de 2013

Serviços essenciais

Já falei sobre a valorização dos profissionais, e como a maioria das pessoas não nota que uma profissão deve ser valorizada. Hoje o assunto, embora parecido, e relacionado, é diferente.

Hoje falarei sobre o resultado direto das profissões, os serviços prestados por elas. O problemas com a maioria das pessoas é que após algum tempo desfrutando de um serviço ou facilidade, parece que esta situação nunca mudará. É uma mistura de conformismo com falsa segurança. Quando um serviço essencial para, ao invés de valorizar ainda mais os profissionais que agora estão correndo para novamente prover este serviço, o usuário reclama, não aceita prazos nem diagnósticos, quer tudo consertado, para ontem, como se este serviço fosse de fato garantido, e não mantido por centenas de profissionais cheios de trabalho PREVENINDO e garantindo que o problema não se repita constantemente. Problemas ACONTECEM, o tempo todo, valorize o fato de ter alguém correndo atrás para que você novamente tenha acesso a algo essencial.

Vários fatores podem ocasionar falhas em um serviço essencial. A maioria destes fatores tem a ver com falhas mecânicas e irresponsabilidade dos próprios usuários do serviço.

Falta água pois a madame tem que, toda sexta-feira, mesmo no pior período de estiagem que já passamos, lavar a calçada com mangueira e desperdiçar dezenas de litros de água potável. Falta luz pois os gatos e remendos residenciais enganam a prestadora e exercem carga não prevista no sistema, os aparelhos estão velhos e gastos e consomem energia com eficiência perto de 30%. Se o lixeiro não passar uma semana, a cidade literalmente afunda em lixo. Se o policial atende aquele enésimo caso de violência doméstica reportado pelo vizinho, em que a vítima vai, pela enésima vez, recusar a prestar queixas, ele não atende quem realmente precisa (e quer prestar queixa). Cada processo de separação de corpos com desistência movimenta os escritórios-modelo em que profissionais trabalham pro bono e a estrutura do Judiciário, apenas para serem arquivados em seguida, novamente, por desistência (e ignorância).

Vamos valorizar o tempo, o profissionalismo e esforço de nossos servidores essenciais. Aqueles sem os quais você não tem água, luz, esgoto, lixo recolhido, queixas prestadas, direitos garantidos, atendimentos prestados e situações sanadas.

Lembre-se da importância destas pessoas e trate-as com o respeito que elas merecem, não por coerção, como alguns fazem com a polícia, mas por respeito aos serviços e sacrifícios que estes profissionais todos os dias fazem.

8 de fev. de 2013

Espiritismo e tragédias


Eu nunca sofri uma tragédia particular. Nunca perdi ninguém extremamente próximo, e quando perdi pessoas, eu era muito novo e ignorante para sofrer a perda. Mas, diante de uma tragédia, a empatia que faz parte do ser humano saudável se demonstra. A não ser que você seja um patético, ignorante ou psicopata, você sente piedade por estas famílias, e sente, mesmo em parte minúscula, incalculavelmente pequena, a dor destas perdas. Centenas de perdas, no caso da tragédia da boate Kiss em Santa Maria.

Também não sou de escrever sobre assuntos que são alvo da mídia. Geralmente escrevo sobre assuntos que não estão noticiados em todos os meios de comunicação. No entanto, nesse caso, me senti compelido a escrever um pouco sobre isso, principalmente em virtude da invasão das mídias sociais com "explicações" sobre a tragédia.

Já conversei com pessoas que me disseram que a doutrina espírita (e todas as outras religiões) fornecem apoio, suporte psicológico e emocional para superar tragédias e se reerguer como ser humano. Bobagem. Se você precisa de uma "muleta espiritual" para se recuperar, consigo indicar vários tratamentos psicológicos que podem ajudar infinitamente mais, enquanto mantêm um pé no chão, nesta realidade, ao invés de um plano inexistente inventado. A moralidade e colunas de caráter vem da cultura, riquíssima, do convívio, dos ensinamentos passados pela família e aprendidos com amigos, e não de figuras imaginárias, lendas, mitos e mentiras passadas através das gerações.

Se alguém for capaz de, incontroversialmente, conversar com os mortos, por favor, organize uma demonstração sob condições científicas e clame o prêmio de 1 (um) MILHÃO DE DÓLARES que o James Randy oferece nos EUA. Imagine quantas coisas boas poderiam ser feitas com esse dinheiro, quantos karmas (isso é do hinduísmo, inclusive, mas eu prefiro isso a desprezar Newton e sua lei da ação e reação mencionando isso) aliviados. Se eu tivesse "poderes", com certeza faria isso. Mas não tenho. E creio que ninguém tem.

Dentro do universo do "nós explicamos, as outras doutrinas escondem" o espiritismo faz chutes bons dentro de sua doutrina e explica alguns mistérios da existência. Eu compreendo a necessidade de algumas pessoas em acreditar nisso. Mas por favor poupem as vítimas de uma tragédia.

Quando morremos, de nós não resta nada? Resta sim. E aí compartilho da opinião de Pen e Teller em seu show "Bullshit" sobre as pessoas que "falam com os mortos" e estendo o problema também aos que confortam os parentes dizendo que "não existe morte, apenas passagem". Tudo que nasce, morre. Seus detritos são reciclados naturalmente, nem que leve milhões de anos, devido a impedimentos colocados por nós mesmos (túmulos, embalsamento, caixões). A morte não engana ninguém, não é uma ilusão, ela existe, é a parte mais real das nossas vidas, seu fim. Morte é um fato natural. O que resta após a morte? LEMBRANÇAS! Tudo e todos que tocamos em nossas vidas, tornando-os parte das nossas, ficam, e lembram-se de nós. Deturpar estas incríveis lembranças com a ilusão de que a pessoa não desapareceu, apenas esté em "outro plano" é deturpar a própria memória deste indivíduo, que é TUDO QUE RESTA DELE APÓS A MORTE! É quase criminoso.

Se daqui duas gerações alguém lembrar-se de mim, que feito extraordinário. Marcar a vida das pessoas positivamente é viver dentro das memórias daquela pessoa. E isso deveria ser suficiente. Buscar no passado outras vidas é desespero. Buscar no futuro um reencontro é ilusão. Lembrar-se dessa pessoa é um alento, é a melhor e maior homenagem póstuma que pode existir, é honrar a existência dessa pessoa e admitir que ela nos marcou indelevelmente. Fotos, festas, reuniões, aulas, lembranças boas e ruins são o vestígio de uma existência, e nós humanos somos dotados de uma memória incrível, que nos permite até passar adiante estas experiẽncias, histórisas, aventuras e desventuras, literalmente imortalizando nossos entes queridos.

Se você quiser orar, tentar falar com as vítimas, acreditar em reencarnação, o problema é seu. Apenas lembre-se que isso é destruir a memória de quem viveu, desacreditar os anos que ela passou contigo e toda a vivência e aprendizado que ela proporcionou, em todos os sentidos.

31 de jan. de 2013

Ciência, religião e modernidade

Eu gosto de assistir debates, ainda mais entre pessoas inteligentes. O último debate que assisti foi entre o Richard Dawkins e o Arcebispo da Austrália. Evolução versus Criacionismo. Na verdade nem dá para chamar de debate, era um programa de TV chamado Perguntas e Respostas. A platéia poderia perguntar, também internautas e o público em geral via telefone.

O que me assustou no programa não foram as respostas de ambas as partes, convencidas de suas verdades, nem o mau humor conhecido de Dawkins ou as gafes literais e absurdas conjecturas do Arcebispo (como quando perguntado se ele acredita MESMO que o pão vira o corpo e o vinho o sangue de cristo). O que me abismou MESMO foram as perguntas.

Uma em especial. Um gordinho (nada contra gordinhos) careca (nada contra carecas) e barbudo (nada contra barba, até a minha tá grande) (estou apenas tentando pintar a cena para vocês) em frente a webcam estende sua mão e diz: "Agora não tenho nada em minha mão, eu a fecho, e nada continua lá, se eu abrir, nada surgiu lá, como o Richard Dawkins afirma que o Universo surgiu do nada, sem um design inteligente, um criador.". Santa Ignorância Batman. A pergunta é uma das fundamentais nas discussões de teístas e ateus. E os ateus riem dela. Perguntar isso a um cientista, ainda mais a um que tenha o mínimo conhecimento sobre as novas e a antigas teorias da Física é quase uma ofensa. Como o tudo pode surgir do nada? Como alguma coisa existe agora se nada havia antes?

O que escapa a compreensão limitada deste indivíduo (e de muitas pessoas) é que não existe de fato "nada" desde o Big Bang. Antes havia nada, agora há tudo. Ponto. As novas teorias da Física dizem que mesmo no vácuo matéria e anti-matéria se forma e cancelam continuamente, infinitamente. Então o que está vazio esta pipocando com tudo e nada ao mesmo tempo. Quando o Universo iniciou, com ele iniciou tudo, inclusive o tempo (pelo menos segundo a teoria do Big Bang Inflacionário). Antes não corria o tempo. Mesmo que corresse, a compreensão de tempo e espaço do ser humano e qualquer outro animal é pequena, ínfima e inexata, produto de nossos sentidos. A própria noção de tempo é inexata. Tempo é relativo, segundo Einstein, e corre em diferentes velocidades dependendo da perspectiva.

Agora, eu disse tudo isso ignorando, claro, que dentro da mão daquele imbecil havia ar. Se houvesse vácuo (o nada que na verdade não é nada), ela implodiria os dedos e palma desse fiasquento, e ainda assim a pergunta dele seria idiota.

O que mais me assusta é que, se todos acreditassem na balela de um Criador, e aceitassem tudo como está, estaríamos na idade das trevas. Nos últimos 100 anos tivemos mais avanços que em, sei lá, 5000 anos (ou mais), tudo pela ciência. Vivemos mais e melhor porque alguém resolveu questionar e não aceitar o que um livro diz, ou o que um profeta diz, ou o que um santo diz.

Agora, a indignação mesmo vem, quando se percebe que um idiota como esse usa velcro, ou zípers, microondas ou energia elétrica, faz exames de laboratório e toma remédios, se submete a cirurgias e usa o vaso sanitário, dirige um carro e tem um computador que o permite, através da Webcam, fazer uma pergunta idiota para um grande cientista, que, como tantos, é responsável por estas maravilhas tecnológicas.

Esquecer que o Vaticano é propina por aceitar um regime ditatorial, que as neo-pentecostais enriquecem os charlatões que as lideram, que a Igreja perseguiu cientistas e atrasou nosso avanço como espécie em séculos, que eles pregam o preconceito e a intolerância, pregam a guerra e a morte e doutrinam crianças muito jovens para decidir por si mesmas. Ir ao Facebook defender a igreja que perseguiu cientistas que diziam que a Terra não era o centro do Universo é mais que hipocrisia, é ignorância mesmo. E como competir com a ignorância se os inteligentes e espertos estão no poder, e o que eles mais querem é gente ignorante, mais fácil de manipular, para eleger e /ou sustentar eles novamente?