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18 de jun. de 2022

Mudanças na vida e evolução

 Em uma conversa por esses dias com amigos, ponderamos as mudanças absurdas em nossas vidas que alguns eventos voluntários criam. Afinal, qual seria o motivo para aceitarmos de boa vontade mudanças radicais que duram literalmente o resto da vida? Não seria mais fácil se deixar levar pelas ondas da vida sem criar compromissos permanentes?

Os principais eventos discutidos foram os básicos: relacionamento e filhos. Acho que dá até para considerar um consequência do outro. Estamos falando, claro, de eventos planejados. Filhos fora do relacionamento, por exemplo, podem ser um evento não planejado (mas afetar a vida da mesma forma). Mas para efeitos desta argumentação eu uso o evento voluntário por um simples motivo: ele evidencia a vontade consciente de criar esse compromisso, e a responsabilidade permanente de viver com essa decisão.

Depois da conversa comecei a pensar mais sobre isso, e cheguei à algumas conclusões. São exemplos meus, e portanto, não universais. Também se aplicam à minha forma de relacionamento / paternidade, muito mais do que outras pessoas... Cada um leva o compromisso da forma que melhor lhe aprouver.

Para mim o relacionamento íntimo e a paternidade são mais que meros compromissos individuais. Existe uma responsabilidade com a sociedade que nos permite viver da forma que vivemos. Também com a família, aumentar esse núcleo de ajuda mútua e convivência. E em última forma, criar uma sociedade melhor, preparando nossos filhos para terem esta mesma responsabilidade e contribuir para uma evolução social, sem esquecer a individualidade e os compromissos com família estendida, círculo social mais próximo (escola, amigos), e a entidade familiar básica (pais, irmãos).

Eu sou um questionador, e portanto questiono até meu status quo. E ainda assim, intimamente, não imagino minha vida sem minha esposa e filha. Há percalços (sociais, relacionais, financeiros, psicológicos) relacionados à manter essa unidade. Mas esses são adubo que levam à uma colheita repleta de felicidade, momentos impossíveis e emoções intermináveis.

Então, ao observar os casais "child free", ou os eternos solteiros. Conversar sobre os compromissos, ou falta deles, observados em suas vidas, acabo lembrando que eu passei por isso. Realmente é muito confortável manter-se assim. E da mesma forma, eu sinto que há uma dívida social à ser paga, que envolve não só seus pais, irmãos, chefes, mas toda a sociedade como colcha de retalhos que nos provê serviços, produtos e proteção. Manter-se alheio à isso é uma perda social. Se você resolve retribuir de outra forma (empreendedores por exemplo, tem dificuldade em manter esses tipos de relações, mas contribuem com a evolução social de outra forma, até como mentores), tudo bem. Mas eu vejo muitas pessoas, e muitos casais, andando pela vida sem pensar nisso.

Para mim, um relacionamento estável provê as dificuldades necessárias para de fato aproveitar tudo de bom relacionado. Intimidade, cumplicidade e apoio mútuo. E quem não percebe isso, em minha modesta opinião, está perdendo tempo, pois este tipo de relacionamento é como um investimento muito bem feito. Demora para dar frutos, e continua rendendo estes para sempre.

Filhos são outra face da mesma moeda. Proporcionam experiências impossíveis de conseguir de outra forma. Não tem como descrever. Literalmente mudam a forma como nos vemos, como nos sentimos, como seres humanos. Ter esse tipo de responsabilidade sobre um bebê ou criança é uma experiência não só enriquecedora, mas sim transformadora. Você não é mais o mesmo. É melhor. Não é vaidade, é realidade. Quando seus planos incluem esse tipo de responsabilidade, você não é mais a mesma pessoa. Se torna mais confiável, mais responsável, mais crítico. Preparar sua criança para a vida, família e sociedade é uma aventura com impactos em todos os aspectos. Para melhor.

Em suma, observando a dicotomia entre a liberdade e a responsabilidade, tenho algumas conclusões. Antes de mais nada, cada um faz o que quer com sua vida. Esta máxima deve ser respeitada. Ainda assim, a minha experiência diz que esses eventos (casamento, filhos) são experiências que engrandecem de uma forma impossível de conseguir de outra forma (claro, adoção por exemplo, também encaixa). Também não são mutuamente excludentes, ou impossíveis de separar. Mudar assim exige uma força muito grande. E por fim: isso melhora você como pessoa, como indivíduo, como trabalhador, como parte da sociedade. Aconselho pensar bastante, pois da mesma forma chego à conclusão que não é para todos, e nem todos conseguem as experiências que descrevi simplesmente "casando e reproduzindo". Mas para quem se aventura de cabeça, a experiência é de mudança de vida, para melhor.