Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

29 de mar. de 2007

Brasileiros, educação e netiquette

Não querendo copiar o post do Caio, quero falar um pouco sobre o mesmo assunto. Recentemente notei que o problema não é o BRASIL, mas sim, os BRASILEIROS. A parte que se revela de nosso povo na Internet e até mesmo fora dela se prova mal educada, egocêntrica e dotada de um patriotismo distorcido para a forma "pizza". Talvez o motivo seja nosso sistema de educação deficitário, talvez seja a impunidade, talvez seja apenas genética ou mesmo tradição. O fato é que o brasileiro tenta tirar vantagem em tudo. Qualquer coisa merece aquele toque, aquele "jeitinho", que nada mais é do que sacanear todo mundo para ter algum lucro. Tudo que o brasileiro faz pode acabar em pizza, desde um assassinato, como o do índio Pataxó em Brasília, até uma CPI. O brasileiro é capaz de tornar um assunto de extrema importância uma piada internacional, como quando o Lula disse que o Putin (russo) ficou "putin" com o Brasil, ou quando nossa Ministra da Igualdade Social mencionou que "o racismo dos negros para com os brancos é algo normal, até natural".

A internet nos traz diversas vantagens, e algumas desvantagens, uma delas é ter uma visão mais ampla do que acontece ao redor do mundo, tendo opíniões de quem mora lá, de quem trabalha lá fora, de quem está muito longe para a gente conversar num bar. Infelizmente, essa visão ampliada na maioria das vezes me entristece, pois sou inegavelmente levado a comparar o exterior com o nosso Brasil, e me entristece notar que somos uma piada internacional, talvez por não levarmos nem a sério o que acontece aqui dentro mesmo. É só olhar o filme "Turistas". É claro que não sou a favor de roubar órgãos de ninguém, mas que a atitude de se rebelar e tomar de volta um pouco do que nos tiram é uma filosofia interessante. Exportamos conhecimento, e compramos de volta tecnologia, exportamos matéria prima barata para comprar industrializados caros. É triste. E tem gente contra o filme, vai reduzir o turismo... Tomara que reduza, menos estatística policial. Tá doido, leiam o post do Caio Verídico apontado acima para ter mais informações.

É uma tamanha falta de educação, que os 11% de nosso povo que tem acesso a Internet conseguem ser chamados de "praga brasileira", tomando conta de serviços, levando eles a falência e obrigando atitudes de restrição que englobam todo o povo. Enquanto isso, uma puta que deu pro namorado numa praia da espanha faz com que nossa "justiça" queira forçar um site internacional a tirar seu vídeo ridículo da Internet. Só podia ser uma brasileira.

Hoje mesmo, me vi forçado a deixar a lista "gentoo-user-br", lista de email dos usuários do meu Sistema Operacional Linux Gentoo em português. Motivo: alguns brasileiros legítimos que se recusam a seguir normas simples de envio de emails para listas. O famoso top post. Eu participo de várias listas, na maioria internacionais, idioma inglês, e na maioria absoluta delas, se você faz top post, é advertido. Na lista em português, foi DISCUTIDO sobre o top post. Credo, chega a ser ridículo. Para melhorar, querem mandar emails para a lista em HTML, fazendo uma GOSMA chegar na minha caixa de entrada. E eu sustentando a netiquette, "Network Etiquette". Perdi a discussão. Enquanto isso, na lista em inglês análoga "gentoo-user", quem faz top post é advertido e orientado a não fazê-lo. Brasileiro tem que ser diferente. Tem que ler de trás prá frente e postar negrito, sublinhado, itálico, para ferrar com meu visualizador de email e gerar mais tráfego.

Já ferraram com o Orkut, que ficou um lixo, e tende a piorar, por causa dos brasileiros. Bloquearam o envio automático de scraps colocando uma imagem de autenticação, agora enviam testimonials de spam. E pior que tá cheio de gente infectado com vírus. Computador de brasileiro é nicho de vírus, se eu fosse espalhar um hoje, começaria em São Paulo, sem dúvida. É triste. Ferraram com meu jogo online de Golf também, o PangyaBR morreu lenta e dolorasamente nas mãos de brasileiros de estirpe usando cheats e tirando sarro dos jogadores honestos. Ultima online foi obrigada a colocar filtros de IP contra os brasileiros, que eram uma praga. Não dá prá jogar CounterStrike mais pois servidores nacionais (mais rápidos) estão atolados em cheaters.

Quase dá vontade de desistir...

Mas como diria o Babado Novo (sucesso do carnaval):

Vai vai vai fica aqui meu avião
Vem vem vem que o Brasil não tem vulcão
Vai vai vai suba aqui na minha moto
Vem vem vem que aqui não tem terremoto

Só tem um monte de gente idiota e mal educada...

PS: Desculpas honestas aos poucos brasileiros que tem educação, e usam ela.

22 de mar. de 2007

Serviços especiais

Eu sou um comodista, confesso.

Atualmente estamos na época do consumismo. Basicamente, tudo que pode-se querer está à venda (por favor, me refiro a bens materiais, não me venham com o blablablá de que dinheiro não traz felicidade). Sendo assim, somos um alvo. Uma espécie de meta para todos os empresários, empreendedores e em geral qualquer pessoa que venda algo.

Sendo alvos, temos que ser atraídos, e aí entra a concorrência. Essa competição pelo nosso dinheiro melhora os serviços, moderniza as instalações, ajuda quem trabalha duro e bem e pune impiedosamente quem não dá atenção para o fato de que nós, os clientes, os consumidores, somos a verdadeira missão deles.

Vou citar alguns exemplos, retirados da minha opinião pessoal. Eu até poderia citar os nomes das empresas, restaurantes, lancherias, mas não creio que seja uma boa idéia, visto a quantidade de litígios resultantes de coisa muito menor.

Resolvi ir jantar, acompanhado, em um restaurante aqui de Santo Ângelo. Depois de uma breve olhada no cardápio pedimos uma pizza, meia calabresa, meia bacon, e esperamos. Mas esperamos MESMO, demorou quase uma HORA para vir a tal da pizza. Eu, como conhecedor do bacon que sou, quando o garçom estava a mais de 3 metros já pensei "mas essa pizza, ou tem bacon estragado, ou não é bacon". Suspeitas confirmadas assim que a dita cuja aterrisou na mesa, nem deixei o garçom ir embora, transcrição fiel do diálogo que se seguiu:

Eu: "Cara, essa não foi a pizza que eu pedi, eu pedi bacon".
Garçom: "Senhor, essa pizza é de bacon".
Eu: "Não, essa pizza é de BRÓCOLIS".
Garçom: "Senhor, a pizza tem brócolis por cima, mas é de bacon".
Eu: "Cara, se a pizza tivesse brócolis, eu não teria pedido, no cardápio constam os ingredientes, e eu não vi brócolis na pizza de bacon".

Ele então pega a espátula, triunfante, e espreme uma das coisas verdes na pizza, para provar que era bacon. Quando aquela coisa verde pastosa foi esmagada e ele percebeu a furada, a conversa mudou de sentido:

Garçom: "Senhor, desculpe, deve ter havido algum engano, eu vou verificar".

Exatamente 10 MINUTOS depois, ele voltou, pedindo desculpas, dizendo que havia ocorrido um engano na cozinha, e trazendo a pizza verdadeira. Em 10 MINUTOS, quero dizer, qual foi o motivo de eu ter esperado quase uma hora antes, se em 10 minutos eles fizeram a minha pizza quando se deram conta da cagada feita?

De qualquer modo, tinha tomado tanta coca-cola que nem com fome mais estava, comi aquela pizza (que aliás nem era boa) e fomos embora.

Outra ocasião, restaurante diferente. Chegamos por volta das 23h, convenci meu amigo a pedir um prato diferente, mas muito bom, que eu havia provado anteriormente. O restaurante estava meio cheio, então já esperava que demorasse pelo menos uma meia hora, tranquilo. Quando passou de uma hora, chamamos o garçom, pedindo o motivo da demora:

Garçom: "Ah, mas esse prato demora mesmo".
Eu: "Cara, já pedi esse prato, e não demorou tanto assim, e o restaurante estava igualmente cheio".
Garçom: "Vou verificar senhor".

15 minutos depois, chamamos ele novamente, ele vem explicando que houve um engano na fila de pedidos da cozinha, que em 10 minutos estaria pronto. Engano na fila?! Por favor, todos que haviam chegado depois de nós estavam comendo, e a gente ali, plantado. Novamente, não aguentava mais refrigerante. Quando cravou 10 minutos do prazo dele no relógio, levantamos, pedimos para ele riscar da ficha nosso pedido, e fomos embora. O cara ainda teve a coragem de, na fila para pagar, nos chamar dizendo que tinha ficado pronto. Quase uma hora e meia. Convenhamos.

Agora, eu volta e meia ligo para tele-entregas, não toda noite, mas pelo menos duas vezes por semana. Sempre ligava para o mesmo lugar, até que um dia, o entregador começou a me pedir que descesse para pegar o pedido. Tudo bem, não sou tão preguiçoso assim. Pagava e pronto. Até que um dia ele disse que havia aumentado o preço, 1 real a mais... OK, as coisas podem aumentar, eventualmente. Quando liguei novamente, resolvi perguntar QUANTO custaria. 3 reais a menos do que o entregador me cobrava. Que sacanagem. Nem falei do cara, simplesmente cancelei o pedido. Quer dizer, a cada entrega, o entregador puxava 2 reais a mais, e ele ainda ficou ganancioso, começou a cobrar 3 a mais. Empresários, escolham bem seus prepostos.

Bom, mas nem tudo é tão ruim. Liguei para um restaurante, pedi um item do cardápio de tele-entrega. Meia hora depois, o entregador subiu, entregou a comida em perfeito estado, e perguntou se eu queria pagar em dinheiro ou cartão. Tirei o cartão, ele pegou uma máquina Visa Electron sem fio, por celular, passou, digitei a senha, saiu o comprovante, e fiquei com dinheiro na carteira. Que eficiência, sem igual, esses sem dúvida ficam no topo da minha lista.

Outro dia, liguei para uma lancheria, pedindo o mesmo lanche que aquele entregador safado entregava. O atendimento me surpreendeu:

Atendente: "Tele entrega XXX, o que deseja".
Eu: "Quero o lanche tal, mais uma coca 600ml".
Atendente: "Seu endereço senhor".
Eu: "Tal rua, tal número, tal AP".
Atendente: "Em frente a tal lugar?".
Eu: "Sim."
Atendente: "São tantos reais senhor, e seu lanche chega no intervalo de meia hora a 40 minutos, mais alguma coisa?".
Eu: "Não, obrigado".
Atendente: "Eu que agradeço, tenha uma boa noite e bom apetite".

A ligação durou em torno de 30 segundos. Poderia ter ligado do celular sem gastar quase nada. Eficiência nota dez, ótimo preço, entregaram rápido, troco, tudo perfeito. A comida aliás era ótima também.

Um dia desses vou lançar um serviço de tele-conserto de computadores. Por telefone ou atendimento a domicílio. Vai que dá certo!

20 de mar. de 2007

Descartável

Estava analisando ultimamente como tudo se tornou descartável.

Tudo hoje em dia é descartável, a gente usa por um tempo, depois enjoa e joga fora. É como se os gostos mudassem de tal forma que nada mais perdura na mente das pessoas. É como se a cultura em si fosse feita para durar pouco. Não existem mais valores, pensamentos ou filosofias que durem, que fiquem, que continuem sustentadas e vivas. Parece que as pessoas perderam o sentido de viver e agora ficam o tempo todo procurando, sem nunca achar, e tentando novamente, seguindo a maré.

Eu já falei uma vez sobre opiniões, e sobre como ter opiniões fortes, sustentadas por argumentos, pode dar sentido à vida e completar a existência de alguém. Mas parece que o mundo não concorda comigo, ou ao menos o Brasil não... Seguimos a tendência do momento, apenas até encontrar a próxima. É um modismo tal que, se eu fosse um pouco mais fútil, me sentiria "por fora". Parece que ninguém mais sustenta uma opinião, todos são levados pelo consenso da massa, se juntando nessa maré suja de novidades fúteis e sem sentido.

O melhor exemplo disso é o tal do Big Brother Brasil. Esse programa é simplesmente uma das coisas mais inúteis que existe no mundo, e no entanto é um dos programas de maior audiência da TV brasileira. Entretenimento burro, é isso que vemos todos os dias, pregando modismos e frases feitas, sem a mínima polpa, sem conteúdo, vazios e sem sentido. E no entanto se infiltrando em todos os ramos, em todas as classes. Zorra Total, BBB, todas pequenas formas de controle, capazes de formar opiniões e dirigir a massa faminta por novidades, por ter o que conversar. Eles decoram nomes, geram polêmica. É a política do pão e circo funcionando. Enquanto o Lula alimenta os miseráveis, a mídia enfraquece as mentes com hiperdoses de entretenimento fútil, descartável e diria até "enburrecedor".

Música é descartável, é só olhar o Carnaval. Você ainda lembra da "Macarena", lembra daquele palhaço, o "Tiririca"? Alguém lembra do que tocava ano passado? Claro que não. Literatura é descartável, alguém ainda comenta o "Código DaVinci"? Nosso mundo foi invadido por cultura temporária esporádica sem bases para durar mais do que alguns meses.

Foi-se a época do "Astronauta de Mármore", de "Sad But True", foi-se o tempo de conversar sobre filosofia, política, ética. Foi-se o tempo de sentar num bar, beber e compartilhar opiniões inflamadas pelo porre. Não se acampa, não se aventura, tudo é uma pequena mentira dentro de outra, e nada dura. Não se constrói mais lembranças como fazíamos antes. Trocam amigos, trocam cidades, e nada fica.

Eu lembro, guardei com carinho lembranças das mais diversas, e mesmo que eu esqueça, alguém que estava lá acaba me lembrando. Acho que ainda não troquei meus amigos. Quem sabe estou ficando saudosista conforme fico mais velho, e as coisas do passado começam a ter mais valor. Talvez seja por isso que nossa memória se deteriora com o tempo. É para cobrar o preço por estarmos sempre tão ligados ao presente, e não nos importarmos com o que a vida nos presenteou algum tempo atrás.

12 de mar. de 2007

Celulares

Em 1999 ganhei dos meus pais um Gradiente, o que seria equivalente aos Nokia da série 5120i, e bloqueei a senha dele nas primeiras 2 horas com o celular... Frustante. Muito bom celular, durou 3 anos, e começou a "sumir o visor", depois acabei descobrindo que era um comportamento padrão para aquele modelo (custava 25 reais para consertar), além da bateria que viciou, mas isso foi em parte minha culpa. De qualquer forma, tive uma vida feliz com ele, durou praticamente 5 anos, o que para um celular é uma eternidade.



Quando passei no concurso em 2004 troquei de celular. Optei por um modelo da Nokia, o 2112, na época da tecnologia estado da arte: CDMA. Frustração, novamente, a Vivo, operadora do meu celular, estava em fase de IMPLANTAÇÃO do CDMA. Quando eu conseguia fazer uma ligação, caía. Ligar para a namorada era um PARTO, às vezes passava das 10 tentativas. Aos poucos, o CDMA foi melhorando e aquele telefone se provou extremamente bom, mas não fazia muito meu estilo já que era simples demais. Dei ele para minha mãe, que deve estar trocando ele em breve com os pontos da Vivo por um novo, mais moderno.



Dei ele para a mãe pois na época ganhei de presente do meu irmão o Motorola A388, o sonho de todo Geek, esse celular não tinha quase nenhum botão, a tela de toque e a caneta Stylus davam um charme especial para o celular. Convivi dois felizes anos com ele, mesmo com sua bateria pré-viciada que dura no máximo 1 dia e meio, que celularzinho bom, nunca me deixou na mão.

Não trocaria ele não fosse por ele ter caído um tombo e tomado um certo dano. Com a retenção do flip rachada, de vez em quando o flip fica "pendurado" pelos fios, o que não é nada legal. Além disso, o coitado sofreu nas minhas mãos. Apesar de ter todas as funcionalidades operantes, ele tá cheio de riscos e arranhões.


Decidi então que iria trocar de celular. E como tinha tido uma ótima experiência, resolvi apelar para a Motorola novamente. Sou meio extremista, então eu tinha duas opções, ou compraria um celular bom e barato, para ser apenas celular, ou apelaria e compraria um completaço e caro. Descobri os dois modelos, o Motorola F3 e o Motorola A1200. O F3 é muito bom, simplíssimo e elegante, alta duração de bateria, uma tela ótima para ler, com anti-reflexo, e barato, em torno de 80 reais, um ótimo aparelho, mas só prá falar e mandar SMS (tem despertador também). O A1200 era a nova geração do meu antigo A388, tela de toque, 262 mil cores, dois processadores, um dedicado somente a multimídia. Linux como sistema operacional (isso me atraiu), além de outras qualidades, tipo poder carregar em qualquer mini-USB e agir como pendrive.

Aí veio a decepção, resolvi de todo coração comprar o F3, qual minha surpresa ao notar que ele não existe desbloqueado no Brasil. Apenas se pode comprar esse celular pela Claro, com um número novo. QUE SACANAGEM, estamos falando de GSM porra, devia poder pegar o celular que eu quisesse e botar meu chip, sair falando. Sacanagem. Fiquei tão puto da cara, que resolvi comprar o A1200 mesmo, desbloqueado de fábrica.



O Motorola A1200, ou MOTOROLA MING, como é chamado, no mínimo me surpreendeu. Às vezes brinco dizendo que tal aparelho só falta falar. Pois este fala. O reconhecimento de voz dele é sem gravação prévia, ou seja, qualquer um pode ditar comandos, sem "treinar" ele antes. O Linux dele é muito compatível, age como um pendrive ligado ao computador. Aliado a um cartão de 1GB, fica muito bom. O player tem um ótimo som, várias opções, navegador Opera e vários aplicativos. Andei instalando uns apps Java nele, e devo dizer que a compatibilidade também me surpreendeu.

A camera de 2.0 MP é muito boa. Não FILMA muito bem, mas tira ótimas fotos. A tela sensível ao toque é muito boa, e a Stylus dele (caneta) tem uma ponta muito mais sensível que o meu antigo A388, vários botões de acesso, muito fácil de usar, mesmo com o flip fechado.

O fone de ouvido que vem com ele é ótimo, som nítido, rádio FM, MP3, tudo toca em alta fidelidade. A bateria durou bastante, e esse detalhe é muito interessante, o carregador dele é uma porta Mini-USB (mesma da maioria dos aparelhos portáteis, câmeras, MP3 Players), assim, quando ligo ele ao micro, ele automaticamente se carrega, além de agir como pendrive.

Ainda estou descobrindo os mistérios desse brinquedinho, mas até o momento, posso dizer com certeza que é o melhor celular que eu já tive.

7 de mar. de 2007

Solitário, mas não sozinho

Sempre fui um tanto distante. A minha capacidade de organizar mentalmente tarefas, fatos e lembranças sempre foi um tanto bagunçada, tanto como meu quarto, ou minha mesa, ou minha casa. Às vezes eu simplesmente não conseguia me concentrar, ao ponto de ficar irritado comigo mesmo, respirar fundo, suar frio e tentar novamente, apenas para fracassar miseravelmente. Um clip de papel na mesa parecia mais interessante e mais urgente que a tarefa em mãos. Ao mesmo tempo, de uma hora para outra, como um flash, as coisas se organizavam e um fluxo denso e organizado de pensamentos invadia minha mente, ao ponto de não olhar para os lados, nem perceber meu nome sendo chamado. O mundo poderia cair nesses momentos de super-concentração e eu não perceberia. O detalhe é que essa concentração se dava no meio de uma aula que nada tinha a ver com os pensamentos invadindo minha mente. A maior parte dos programas mais complexos que escrevi foram escritos em forma de algoritmo nas páginas de trás do caderno da faculdade de Direito, enquanto simulações mentais e desenhos diagramáticos do programa pareciam fluir da minha mente para o papel.

Tenho milhares de projetos escritos, alguns antigos, de sistemas, programas e utilitários. Muitos designs de sites que gostaria de implementar e milhares de assuntos sobre os quais gostaria de escrever. Mas ao mesmo tempo que eu me interessava por isso, em momentos nunca oportunos, logo depois os esquecia, e os mesmos hoje em dia não passam de anotações perdidas pela casa, ou arquivos .txt espalhados por todos os computadores que usei. Parecia tão difícil terminar uma tarefa, algumas mais do que outras. Eu ia sempre deixando para a última hora, e torcendo para aquele "flash" chegar e eu me dedicar por inteiro aquilo.

Eu passo da mais completa empolgação para uma quase depressão com a mesma facilidade que troco de camiseta. Vou de uma mente completamente vazia que observa com atenção a refração dos raios de luz de uma lâmpada no meu copo de refrigerante, para uma mente explodindo de idéias e pensamentos, aflorando como um manancial. A tendência para simplesmente olhar para o lado e perceber um objeto, fato ou qualquer coisa que me desvie a atenção, e parar o que estou fazendo, às vezes me irrita. Ao mesmo tempo sou capaz de ficar uma tarde organizando meus arquivos no computador em ordem alfabética em pastas estilo UNIX de três letras.

Quando criança, poderia facilmente me divertir uma tarde inteira com um cano de PVC e um elástico. Andar de bicicleta por si era chato, era necessário abrir caminho até cair um tombo. Andar sem mãos era relaxante e dava uma sensação tão boa. E assim como esses momentos de completa combustão interna estavam ali, eu passava para uma fase diferente, na qual sentava no alto de uma árvore com um livro, e passava horas lendo. Conseguia ficar observando qualquer coisa por horas, quando não tinha o que fazer, pegava os livros de ciência e história e fazia todos os exercícios. Ler sempre foi uma sina, eu lia de tudo (tudo que me interessava, livros que não me chamavam a atenção eram ignorados).

Passei pelo primeiro grau (ensino fundamental) sem suar. Tudo era fácil, menos educação física. Nunca precisei pegar um livro para estudar e não foram poucas as vezes que os professores ficaram bravos comigo. Era o pupilo dos professores de ciências e tinha acesso livre aos laboratórios, onde vários micro incêndios aconteceram. Tinha pavor de matemática, era organizacional demais, muito chato. Eu SUAVA fazendo contas, e desistia ao menor sinal de erro. Todas as outras matérias eram fáceis, e chatas. Sentia falta de algo para fazer...

No segundo grau (ensino médio) a coisa piorou. Ainda me dando bem em tudo que eu queria (história, geografia, química, física) e sempre me ferrando em matemática. Português era chato, mas fácil, o mesmo com literatura. Poucos amigos, mas amigos de fé, muito tempo sozinho, muito tempo comigo mesmo, muito tempo falando sozinho e elaborando teorias mirabolantes. Nada social, nunca saia, tive poucas festas até sair de casa para a universidade, quando acordei para a vida social. Era difícil ter bons amigos pois parecia que eles não tinham nada em comum comigo. As conversas, os assuntos, eram distantes do que minha cabeça processava, e eu simplesmente não conseguia me manter muito tempo conversando com eles. Me chamavam de CDF por ir bem na maioria das matérias, mas eu sabia que nunca fui assim, nunca estudei para as provas, na verdade, se a prova era nos primeiros períodos, eu acordava mais cedo para estudar, e se fosse depois do intervalo, eu estudava no intervalo. Assim, não havia convites, nunca ia em festas. Ainda bem que eu era superativo, e conhecia pessoas nos Escoteiros, no Taekwondo, nos cursos de Inglês, Alemão, e posteriormente na Internet. Creio que se esses contatos não existissem eu seria um alienado até hoje.

As coisas mudaram quando saí de casa, a vida se abriu e pude aproveitar mais por ter amigos que compartilhavam diversos interesses em comum, achei gente mais parecida comigo fazendo Ciência da Computação, mas a sina de ir mal nas ciências exatas matou o curso, e minha vontade. E foi mais ou menos assim com minha faculdade de Direito, uma série de quase fracassos e um fracasso final na monografia de Direito. Parecia impossível começar, era sempre chato, difícil, o cursor piscando na página em branco, tão em branco como minha mente. Nas duas últimas semanas, um flash, uma prontidão... Levei 6 dias para fazer a monografia inteira. Não ficou ruim, eu acho, mas ficou fora do prazo. Levei bomba. Me culpei extensamente por isso, enquanto procurava culpar os outros. Agora sei que eles agiram mal comigo, mas eu também tive parte nisso. Mas não era minha culpa, sempre fui assim.

O vestibular, todos eles, eram simples. Bastava aguardar até a última semana, ou último mês, e aquela iluminação vinha, eu era capaz de ler um livro inteiro em dois dias e lembrar tudo que estava escrito nele. Estudar para provas era apenas uma questão de sair mais cedo do trabalho e estudar uma hora. O problema era quando a inspiração não vinha. Bomba. Para o concurso foram 3 meses estudando de madrugada (me concentro mais na noite), ainda bem que estava inspirado, era a minha área.

Meus relacionamentos fracassavam pois eu sempre sentia que não era bom o suficiente, e tentava ser ao máximo o melhor, sufocando minha parceira. Ao mesmo tempo, precisava de reconhecimento e atenção, o que só piorava as coisas. A baixa auto-estima me fazia ter ciúmes, e tento lidar com isso até hoje. Podia devanear e esquecer do tempo (e dela) por horas. Ou simplesmente, de uma hora para outra, ela era tudo que invadia meu pensamento, e nada mais era importante ou passível de exigir concentração. Todos eles ruíram devagar, e dolorosamente.

Tenho uma incapacidade de aceitar que as pessoas sejam melhores que eu em certos aspectos, e uma intolerância tamanha que me rendeu algumas demissões. Passo de afável à ríspido em segundos, e não me controlo. Momentos de felicidade intensa e de cólera intercalam lugar na minha cabeça enquanto nem eu mesmo me entendo. Detesto ignorância, e não consigo entender como alguém não se esforça para usar com a maior eficiência as ferramentas que estão disponíveis para realizar seu trabalho.

E de repente, comecei a ler sobre isso. Eles também eram assim, eles sentiram isso, viveram isso, lidaram com isso, quando crianças e agora como adultos. Eles tinham as mesmas experiências, mesmos fracassos e alguns dos mesmos sucessos. As mesmas características em vidas muito parecidas com as minhas. Algumas histórias muito piores que a minha em vários aspectos. Perceber que não se está sozinho, e que há mais pessoas que vivem ou viveram isso foi muito bom. Sei que talvez não tenha especificamente DDA, nunca tive problemas graves por causa de meu comportamento, e essas pessoas viveram infernos por causa dessa condição, mas a história delas tem tantos pontos em comum comigo, que acabei me identificando...

Este post é derivado diretamente de meu contato com o livro:

Tendência à Distração - Identificação e Gerência do Distúrbio de Déficit de Atenção da Infância à Vida Adulta
Edward M. Hallowell e Jhon J. Ratey
1999, Editora ROCCO

5 de mar. de 2007

Esperança e o lado bom

Depois daquela carta escrita em 2070, fiquei meio surpreso com o que a humanidade é capaz de imaginar. Um futuro como aquele seria realmente terrível, e comecei a me perguntar se não estaríamos mesmo destinados a sofrer com um futuro como aquele.

Uma das melhores coisas que fiz nos últimos tempos foi assinar a SuperInteressante. Acho que é uma das poucas leituras que ainda valem a pena hoje em dia.

Nesta revista, um artigo muito interessante, em que grandes mentes ditam motivos para se ter esperança. Como posso discutir com esses caras? Análises profundas de nossa história, dados, fatos, provando por A+B que na verdade estamos na época de ouro da humanidade. Nunca antes alcançamos tal nível de iluminação, comparados a épocas antigas em que a barbárie e a dor reinavam absolutas e aceitas pela maioria absoluta da população.

Não digo que vivemos em um mundo perfeito, não sou hipócrita, sei de nossos defeitos e das coisas terríveis que os seres humanos são capazes de fazer. Mas ao menos, hoje, em nossa sociedade, tais fatos chocam, provocam opiniões, se discute, se avalia, se protesta. Enquanto antes a crueldade era vista como diversão, hoje em dia é condenada como uma praga. Nossa civilização aprendeu, evoluiu.

Tal evolução, e o que vejo hoje no mundo, só me indicam uma coisa. Me chamem de otimista, me chamem de sonhador, mas eu vejo este mundo caminhando para um lugar melhor, um futuro melhor. Eu tenho esperança. Acho que já é um ótimo começo, visto que muitos nem isso tem.

Ao mesmo tempo, estou começando a ver o lado bom das coisas. Isso já foi extremamente difícil para mim, mas hoje pela tarde tive uma experiência que me abriu alguns horizontes. Fui consertar uma tomada (sim, se usa eletricidade, tem botões ou manual em inglês, eu conserto), e, por uma inadimplência de alguém (que ainda bem não se apresentou, pois eu acho que teria esganado) acabei quase ficando grudado na dita cuja.

Ter seu braço atirado para trás por 220 volts não é nada legal, dói MUITO. Parece que libera todos os hormônios que te preparam para a fuga ou luta, e por alguns segundos, simplesmente se perde a razão.

Contando aos meus colegas depois, uma colega diz brincando: "acho que esse choque te fez bem, estás mais alegre". Realmente, até aquele momento (resultado de uma noite mal dormida) eu não estava muito empolgado. E como um raio, eu percebi, era verdade. Aquele choque tinha me despertado, e eu estava me sentindo mais acordado, melhor (fora a dor no braço). Quer dizer, se até ISSO tem um lado bom, talvez valha a pena encarar a vida de outra maneira.

É algo a se pensar...