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17 de fev. de 2017

Sobre pendurar quadros (e ceticismo)

Algum tempo atrás comprei um conjunto de 5 telas com uma imagem muito bonita e nostálgica. As telas foram compradas via Internet e vieram da China, porém o enquadramento foi feito localmente. Os quadros são "frameless" (sem moldura) e se "encaixam" no espaço.


Pendurar estes quadros não foi fácil. A envergadura de 2 metros não ajuda, e centralizar ele com a parede, e o sofá abaixo, é bem complicado. Mas não foi isso que me chamou a atenção ao pendurar esse (e os outros 3 que a esposa me fez pendurar após esse). O que me chamou realmente a atenção foi a imparcial falibilidade de meus sentidos.

Eu pendurei o quadro central primeiro (dã, óbvio, não é?!). Foi um pouco mais fácil, tudo que tive que fazer foi garantir que os dois pregos de suporte estavam na mesma distância do teto (ou seja, que o quadro ficaria reto). Tranquilo. Aí vieram os outros dois. Eu posicionei o da direita, o melhor que pude, e marquei com lápis na parede seus limites. E preguei. E pendurei ele, e estava totalmente errado, basta ver o quadro por trás, onde aparece a madeira que sustenta a tela...


Então, conformado que os furos errados ficariam escondidos, eu medi cuidadosamente a madeira (2,5 cm), e preguei exatamente a essa distância dos furos anteriores, para baixo, e voilá! Tudo encaixou.

Agora pregar o terceiro, não deve ser muito difícil, posiciona, marca, mede, marca, prega. Mas, se está alinhado com o teto, eu posso usar a mesma distância dos pregos da direita. E foi o que eu fiz, medi a distância do teto para os furos da direita, e preguei os da esquerda na mesma distância. E duvidei, da trena. Meu olho me dizia que não tinha COMO o prego ficar ali. Retirando a tela da direita, parecia errado ainda assim. E o quadro alinhou, novamente, muito bem.

O mesmo ocorreu com o quarto e quinto quadros, usei a linha do da direita para medir os furos do da esquerda, e novamente parecia completamente torto, até pendurar a tela e verificar que ficou alinhado.

E qual o motivo de escrever sobre isso? É a conclusão óbvia: somos falhos. Se confiasse no olhômetro, teria repetido várias vezes a tarefa. Criamos instrumentos que superam nossos sentidos o tempo todo. Máquinas que enxergam o que não podemos ver, medem o que não conseguimos mensurar, percebem o imperceptível. Infravermelho, ultravioleta, microondas, radiação, galáxias distantes, até as ondas gravitacionais.

E como o ceticismo se encaixa nisso? O cético acredita em provas, evidência. Se eu criar uma máquina que consegue medir algo previamente não mensurado, e outra pessoa conseguir construir a mesma máquina (ou ligeiramente melhorada) para medir novamente, com melhor grau de precisão, isso é uma prova! Agora, meridianos, espíritos, energia vital (vitalismo), até que medidos e provados, merecem seu lugar, junto com meu quadro, como ficção.