Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

21 de set. de 2015

Descrença, novamente

Hoje um colunista de jornal escreveu um artigo: Eu e Deus. Normalmente me absteria desse tipo de discussão, mas me chamou a atenção essa dúvida e a maneira como ela foi abordada.

A maioria das pessoas confunde fé com conhecimento, dúvida com certeza, razão com emoção. Algumas destas são contraditórias, outras são compatíveis, e muito depende do contexto e do grau de entendimento que cada palavra representa para quem as utiliza.

Fé é a ausência de dúvida. Quem tem fé acredita, e não precisa prova para acreditar. Essa é a própria definição de fé. Se o jornalista apresenta dúvida, ele não possui fé, e portanto, não tem certeza. Esse é o ponto de partida da maioria dos agnósticos. Gnose significa saber, é a certeza absoluta, após prova inequívoca. Gnose é conhecimento, que passa bem longe da fé, e cruza caminho com a razão, pois o método científico é o único meio de se chegar a gnose. É uma ferramenta imperfeita, mas a melhor que temos, nas palavras do grande Carl Sagan. Um agnóstico é aquele que não sabe.

Ateu é aquele que não acredita em divindades, ou seja, não tem fé também. Mas todo ateu é um agnóstico, pois ele não possui certeza, conhecimento. No entanto, dispondo das ferramentas que temos, ao avaliar as provas e evidências utilizando a razão, torna-se uma posição confortável negar a existência de divindades, visto que não há nenhuma evidência do contrário.

Muitos conceitos científicos iniciaram assim, conjecturas através da evidência disponível na época. Conforme nossas ferramentas melhoraram, novo conhecimento se junta e torna-se cada vez mais fácil arguir sobre um fato. O heliocentrismo por exemplo, já era um conceito muito antes da idade moderna, mas a fé insistia na supremacia humana e colocava nosso planetinha no centro do universo. Hoje, diante dos telescópios espaciais, das viagens interplanetárias, das sondas enviadas através do universo retornando provas inequívocas, é lugar comum que nosso planeta é um entre muitos, em um entre muitos sistemas solares, de uma entre muitas galáxias no universo conhecido.

Chegamos ao ponto então. Eu não posso convencer ninguém sobre a existência ou não de deus, pois se eles acreditam, o fazem por pura fé. Sem dúvidas não há o que discutir, não há espaço para a razão. Se há dúvida no entanto, e necessita convencimento, o método científico é a melhor ferramenta para se chegar a esse tipo de conclusão. Se essa for a ferramenta escolhida, diante da inexistência de uma única prova científica da existência, torna-se confortável assumir a descrença como posição padrão. Agora, se há dúvida, mas o método científico não será usado, pois não leva em conta a "emoção", o "sentimento", então essa busca não compensa. Milhares de pessoas te darão milhares de testemunhos diferentes, e nenhum deles qualifica como prova.

Ou seja, sua dúvida meu amigo, não é sobre a existência ou não de deus. Sua dúvida é sobre como você quer ver seu mundo. Sob o olhar romantizado da fé, emoção, sentimentos, e outras óticas inexatas, imensuráveis, subjetivas e tomadas pelo viés de confirmação. Ou através da razão, mensurável, repetível, sempre em dúvida, porém sempre na busca pelo conhecimento, através do método científico. A fé, a subjetividade e a crença cega nos levam a conflitos, regressão, atrocidades justificadas por serem "sagradas". A ciência no trouxe a tecnologia, a medicina, os avanços que nos permitem viver mais e melhor. Não somos perfeitos, portanto nenhuma ferramenta também o será, mas o conhecimento científico nos brinda constantemente com avanços, enquanto a fé continua sendo o refúgio dos ignorantes, a justificativa dos déspotas sanguinários e o estopim dos conflitos.

Eu decidi muito tempo atrás tomar as decisões que importam em minha vida através do conhecimento científico. Confiar na pesquisa, nas provas e nos avanços. Através dessa ferramenta eu assumi a posição padrão da descrença, pelo menos até que haja provas. Não estou aqui para convencer ninguém, mas alerto para ter cuidado com sua decisão. Há muita hipocrisia em aceitar e utilizar os avanços da ciência, enquanto se nega seus princípios mais básicos em nome da fé cega e irracional.

14 de set. de 2015

Corrida e conforto

Afinal, o que é conforto?

Após muito pesquisar, cheguei a conclusão que conforto é um estado de satisfação geral com o ambiente, corpo e mente. É estar bem, e poder continuar assim indefinidamente.

Para mim exercícios não são confortáveis. Dependendo do ambiente, são terríveis. Hoje por exemplo, fui correr pela manhã, a temperatura em 9 graus, sensação térmica de 7. Isso é frio senhores e senhoras, frio de verdade, até para nossa região.

Então como fazer para amenizar esse desconforto? Primeiro você levanta, vai ao banheiro. Pronto, já está melhor... Agora hidratação básica, tomar água pela manhã é necessário, já que durante a noite seu corpo utilizou esse líquido mas "esqueceu" de te avisar, com a sede. Um café quem sabe para "aquecer", aí coloca a base layer (como estou gordinho ainda uso uma camiseta por cima), a bermuda, meia e tênis e começa a segunda parte do ritual.

Ajustar a cinta cardíaca envolve umedecer ela, e nesse frio, isso não é legal. Depois sincroniza o celular com a cinta, coloca a faixa de braço para o celular, prende e posiciona o fone de ouvido e começa o aquecimento/alongamento. Depois do aquecimento, coração a 80-90 bpm (100 durante), você já se sente melhor. O torpor do sono, o travamento dos músculos, vértebras, já não existe mais. Vai começar.

Aí você sai de casa e dá de cara com aquele vento gelado. Prepara o celular para monitorar a corrida e tocar música, ajusta tudo, 60 segundos para começar. Caminha rápido para aquecer mais um pouco, coração a 110 bpm. Começa a corrida.

Com 200 metros de corrida o coração já está a 142. No primeiro quilômetro é provável que ele vá a 162, quando ele chegar nesse nível, a sensação de falta de ar desaparece. Você entrou na zona de corrida! O ritmo se mantêm, se o terreno for plano, caso contrário, você sente cada elevação, pois ela muda o ritmo. Você ganha uma consciência incrível sobre o próprio corpo, todos os sinais estão alertas, é uma sensação difícil de descrever. Sabe que está apenas no início, e falta bastante. Aí você se concentra na música. O ritmo da música acaba acompanhando os passos, você não sente mais o chão se o ritmo continuar, não há dor,

O ar gelado entra pelo nariz e causa desconforto. Pelo menos até seu corpo aquecer bastante e prevenir isso. Não suo, pois o frio do ambiente refrigera minha termogênese acelerada em até 8 vezes. Tudo que existe é o sol, seu calor, o ar, o vento, a estrada. E a música, embalando. Qualquer distúrbio no ritmo é percebido imediatamente. Uma elevação, uma senhora andando devagar, um declive, os carros, uma calçada esburacada. Bateu 2,5 quilômetros, a meta são cinco, vamos mais um pouco adiante. Escolhe o caminho, traça mentalmente o percurso, muita subida, mas vamos lá.

Meia hora se passou. Não parece nada, mas cada minuto vivido nesse estado é super intenso e passa devagar. A sensação é boa, existe um desconforto nas pernas quando o ritmo da corrida dá lugar a caminhada intensa. Depois a caminhada normal. Até voltar para casa.

Aguarda o corpo retornar a termogênese normal. Toma banho. O dia começa.