Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

27 de fev. de 2013

Serviços essenciais

Já falei sobre a valorização dos profissionais, e como a maioria das pessoas não nota que uma profissão deve ser valorizada. Hoje o assunto, embora parecido, e relacionado, é diferente.

Hoje falarei sobre o resultado direto das profissões, os serviços prestados por elas. O problemas com a maioria das pessoas é que após algum tempo desfrutando de um serviço ou facilidade, parece que esta situação nunca mudará. É uma mistura de conformismo com falsa segurança. Quando um serviço essencial para, ao invés de valorizar ainda mais os profissionais que agora estão correndo para novamente prover este serviço, o usuário reclama, não aceita prazos nem diagnósticos, quer tudo consertado, para ontem, como se este serviço fosse de fato garantido, e não mantido por centenas de profissionais cheios de trabalho PREVENINDO e garantindo que o problema não se repita constantemente. Problemas ACONTECEM, o tempo todo, valorize o fato de ter alguém correndo atrás para que você novamente tenha acesso a algo essencial.

Vários fatores podem ocasionar falhas em um serviço essencial. A maioria destes fatores tem a ver com falhas mecânicas e irresponsabilidade dos próprios usuários do serviço.

Falta água pois a madame tem que, toda sexta-feira, mesmo no pior período de estiagem que já passamos, lavar a calçada com mangueira e desperdiçar dezenas de litros de água potável. Falta luz pois os gatos e remendos residenciais enganam a prestadora e exercem carga não prevista no sistema, os aparelhos estão velhos e gastos e consomem energia com eficiência perto de 30%. Se o lixeiro não passar uma semana, a cidade literalmente afunda em lixo. Se o policial atende aquele enésimo caso de violência doméstica reportado pelo vizinho, em que a vítima vai, pela enésima vez, recusar a prestar queixas, ele não atende quem realmente precisa (e quer prestar queixa). Cada processo de separação de corpos com desistência movimenta os escritórios-modelo em que profissionais trabalham pro bono e a estrutura do Judiciário, apenas para serem arquivados em seguida, novamente, por desistência (e ignorância).

Vamos valorizar o tempo, o profissionalismo e esforço de nossos servidores essenciais. Aqueles sem os quais você não tem água, luz, esgoto, lixo recolhido, queixas prestadas, direitos garantidos, atendimentos prestados e situações sanadas.

Lembre-se da importância destas pessoas e trate-as com o respeito que elas merecem, não por coerção, como alguns fazem com a polícia, mas por respeito aos serviços e sacrifícios que estes profissionais todos os dias fazem.

8 de fev. de 2013

Espiritismo e tragédias


Eu nunca sofri uma tragédia particular. Nunca perdi ninguém extremamente próximo, e quando perdi pessoas, eu era muito novo e ignorante para sofrer a perda. Mas, diante de uma tragédia, a empatia que faz parte do ser humano saudável se demonstra. A não ser que você seja um patético, ignorante ou psicopata, você sente piedade por estas famílias, e sente, mesmo em parte minúscula, incalculavelmente pequena, a dor destas perdas. Centenas de perdas, no caso da tragédia da boate Kiss em Santa Maria.

Também não sou de escrever sobre assuntos que são alvo da mídia. Geralmente escrevo sobre assuntos que não estão noticiados em todos os meios de comunicação. No entanto, nesse caso, me senti compelido a escrever um pouco sobre isso, principalmente em virtude da invasão das mídias sociais com "explicações" sobre a tragédia.

Já conversei com pessoas que me disseram que a doutrina espírita (e todas as outras religiões) fornecem apoio, suporte psicológico e emocional para superar tragédias e se reerguer como ser humano. Bobagem. Se você precisa de uma "muleta espiritual" para se recuperar, consigo indicar vários tratamentos psicológicos que podem ajudar infinitamente mais, enquanto mantêm um pé no chão, nesta realidade, ao invés de um plano inexistente inventado. A moralidade e colunas de caráter vem da cultura, riquíssima, do convívio, dos ensinamentos passados pela família e aprendidos com amigos, e não de figuras imaginárias, lendas, mitos e mentiras passadas através das gerações.

Se alguém for capaz de, incontroversialmente, conversar com os mortos, por favor, organize uma demonstração sob condições científicas e clame o prêmio de 1 (um) MILHÃO DE DÓLARES que o James Randy oferece nos EUA. Imagine quantas coisas boas poderiam ser feitas com esse dinheiro, quantos karmas (isso é do hinduísmo, inclusive, mas eu prefiro isso a desprezar Newton e sua lei da ação e reação mencionando isso) aliviados. Se eu tivesse "poderes", com certeza faria isso. Mas não tenho. E creio que ninguém tem.

Dentro do universo do "nós explicamos, as outras doutrinas escondem" o espiritismo faz chutes bons dentro de sua doutrina e explica alguns mistérios da existência. Eu compreendo a necessidade de algumas pessoas em acreditar nisso. Mas por favor poupem as vítimas de uma tragédia.

Quando morremos, de nós não resta nada? Resta sim. E aí compartilho da opinião de Pen e Teller em seu show "Bullshit" sobre as pessoas que "falam com os mortos" e estendo o problema também aos que confortam os parentes dizendo que "não existe morte, apenas passagem". Tudo que nasce, morre. Seus detritos são reciclados naturalmente, nem que leve milhões de anos, devido a impedimentos colocados por nós mesmos (túmulos, embalsamento, caixões). A morte não engana ninguém, não é uma ilusão, ela existe, é a parte mais real das nossas vidas, seu fim. Morte é um fato natural. O que resta após a morte? LEMBRANÇAS! Tudo e todos que tocamos em nossas vidas, tornando-os parte das nossas, ficam, e lembram-se de nós. Deturpar estas incríveis lembranças com a ilusão de que a pessoa não desapareceu, apenas esté em "outro plano" é deturpar a própria memória deste indivíduo, que é TUDO QUE RESTA DELE APÓS A MORTE! É quase criminoso.

Se daqui duas gerações alguém lembrar-se de mim, que feito extraordinário. Marcar a vida das pessoas positivamente é viver dentro das memórias daquela pessoa. E isso deveria ser suficiente. Buscar no passado outras vidas é desespero. Buscar no futuro um reencontro é ilusão. Lembrar-se dessa pessoa é um alento, é a melhor e maior homenagem póstuma que pode existir, é honrar a existência dessa pessoa e admitir que ela nos marcou indelevelmente. Fotos, festas, reuniões, aulas, lembranças boas e ruins são o vestígio de uma existência, e nós humanos somos dotados de uma memória incrível, que nos permite até passar adiante estas experiẽncias, histórisas, aventuras e desventuras, literalmente imortalizando nossos entes queridos.

Se você quiser orar, tentar falar com as vítimas, acreditar em reencarnação, o problema é seu. Apenas lembre-se que isso é destruir a memória de quem viveu, desacreditar os anos que ela passou contigo e toda a vivência e aprendizado que ela proporcionou, em todos os sentidos.