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31 de ago. de 2018

Admiração e metafísica

Não me importo com a metafísica. As perguntas que ela responde me são estranhas, pois consideram especiais conceitos primordialmente humanos, por vezes falhos, e na maioria das vezes, irrelevantes. Considero que ela importa principalmente para dois grupos: os que querem justificar crenças, e os que querem encontrar conforto.


Eu não quero justificar nada. Eu quero conhecer. Eu também não me importo com o conforto, pois encarar de frente a realidade nua e crua é parte do que diferencia um adulto de uma criança. Portanto, estes conceitos filosóficos estilo: quem somos, de onde viemos, para onde vamos? Quando começam a responder transcendendo o mundo físico e nossa condição de primatas evoluídos conhecendo o cosmo, se tornam cansativos e sem sentido.

Isso não quer dizer que não admire a complexidade da condição humana, nem o mundo em que vivemos. Acho que a admiração do não conhecer, das perguntas cujas respostas nos colocaram em um século de tecnologia além dos limites, do conhecimento humano, cumulativo e desbravador, é muito melhor do que conhecimentos filosóficos que trazem divisão e discussões intermináveis, sem objetivo.

Por vezes vejo pessoas explorando questões sobre vida após a morte, OVNIs, fantasmas, espíritos, experiências transcendentes, que não sabem como o motor de seu carro funciona. Ou como a tecnologia consegue nos disponibilizar tantas facilidades. Tem na ponta da língua uma resposta doutrinária e totalmente sem fundamento sobre "almas", mas não sabem o motivo do céu ser azul. Sabem discutir "energias" (termo roubado da ciência e mutilado em seu significado), mas ignoram completamente o espectro electromagnético e suas maravilhas. Sabem discorrer infinitamente sobre teologia, destino, adoração, mas ignoram vários aspectos sobre como o mundo ao seu redor funciona.

E essas mesmas pessoas apoiam-se nos ombros dos gigantes que pesquisam as maravilhas que tornam nossa vida moderna mais fácil para bradar impropérios contra quem criou as ferramentas que usam. Ignoram aspectos importantes da ciência que nos permitem viver mais e melhor em favor de crenças ridículas que colocam em risco vidas apoiando-se em conceitos obsoletos ou derrubados. É algo que ameaça ruir as estruturas que criamos ao longo dos anos e nos permitiu viver mais, com mais saúde, devido a uma visão de mundo limitada e crenças dogmáticas. É se acostumar à segurança proporcionada por séculos de conhecimento acumulado, ao ponto de começar a questionar esse conhecimento. É estranho.

Eu admiro a curiosidade, louvo a coragem para questionar nosso mundo não com perguntas cujas respostas alimentam o egocentrismo de nossa espécie, mas aquelas que nos explicam como o mundo funciona e nos permitem dominar esse mundo, moldá-lo, extrair dele o que precisamos, entendê-lo, preservá-lo e passar tudo isso adiante.