Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

21 de nov. de 2014

Eu não acredito!

Todos os dias eu escuto pessoas muito inteligentes falando sobre pseudociência e mitos em geral, e acreditando nisso. Fico perplexo com isso, pois sempre associei crença a evidência. Segundo a máxima de Carl Sagan:

"Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias."
Na verdade sempre fui da opinião que crença não depende de vontade. Eu não consigo acreditar em alguma coisa sem ter provas sobre isso, ou ao menos uma confiança muito grande no interlocutor que provê a informação. E acima de tudo, ela precisa ser minimamente sustentada, por lógica e razão. Racionalidade afasta os medos, a insegurança e os mitos utilizados por séculos para controlar os crédulos.

Quando digo que sou ateu, recebo olhares de todos os tipos, mas a descrença não me veio, numa bela manhã, quando acordei não acreditando. Acreditar é um processo complicado quando você não foi acostumado a tomar a autoridade como certa e os mitos como verdadeiros, desde que proferidos por esta autoridade. Nesse sentido, muito cedo deixei de ser exposto a isso, e só posso dizer que foi ótimo, pois muito cedo meu lado lógico, cético e pragmático aflorou.

Aí me pergunto qual o motivo de tanta crença. Em primeiro lugar, eu culpo a educação. A maioria absoluta (ou ao menos as melhores) escolas são religiosas. Padres, freiras e irmãos dominam o ensino básico e fundamental particular, e mesmo nas escolas públicas o aluno está exposto constantemente a crença sem questionamento. Nossa iniciação científica vem em segundo lugar, o que interessa é a crença. Criada nesse ambiente, a criança acaba por transformar sua natural curiosidade em fé. E nisso se perdem os próximos grandes cientistas, pois sem os grandes questionadores, as respostas continuam escondidas.

Hoje, mesmo que eu queira, nunca conseguiria acreditar em deus. Nenhum dos mais de 2000 deles. Também não acredito em fantasmas, monstros, alienígenas ou fadas. Eu SEI que pode ser que eles existam (e tenham nos visitado?), mas nenhuma evidência disso me foi apresentada que possuísse poder de convencimento. No dia em que isso acontecer, eu vou acreditar. Sem experiências pessoais, testemunhos e figuras de autoridade. Simplesmente evidência científica, palpável. Com o conhecimento que tenho hoje, se um "fantasma" aparecesse diante de meus olhos, com todos os clichês possíveis que a mídia nos apresenta, eu ainda assim duvidaria. Meus sentidos são falhos (antes de mais nada, uso óculos) e visões e alucinações são bem menos raras do que a maioria das pessoas pensa.

Richard Dawkins conta uma experiência em um dos seus livros (sim, eu citaria corretamente se o Google tivesse ajudado e minha memória também) sobre um cientista seu amigo que defendia fervorosamente sua teoria, enquanto outro cientista defendia outra teoria. Estas teorias, opostas e mutualmente exclusivas, batiam de frente e geraram calorosos debates ao longo de anos. Então durante uma conferência surgiu nova evidência, por um time de cientistas, que corroboravam a teoria oposta. Seu amigo então humildemente foi até seu adversário e o parabenizou, ele estava convencido.

Esse tipo de "conversão" na ciência ocorre o tempo todo. Mesmo Einstein em sua genialidade cometeu erros e os admitiu publicamente. Eu mesmo não condeno os deístas (quem acredita em uma força superior). Minha dificuldade é entender os teístas, que acreditam em um deus pessoal capaz de atender suas orações, intervir no mundo e salvá-los. Estas teorias tem pesos diferentes pois é muito mais simples refutar que seremos salvos vendo as tragédias que ocorrem no mundo o tempo todo do que conceber (como eu por anos fiz) um deus impessoal, não-humano, que se identifica como a natureza em si e seu conjunto de "regras" (física). Aí eu prefiro acreditar na ciência, que tantas respostas nos deu.

Eu simplesmente não acredito. Me prove o contrário, e eu serei convencido. Eu não tenho verdades absolutas, apenas exigências absolutas sobre provas da verdade.