Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

19 de dez. de 2016

Egocentrismo e o trânsito

Quanto mais observo a sociedade, mais percebo que as pessoas em geral não notam a fragilidade e a beleza de nossas aglomerações humanas. A relativa paz em que vivemos é fruto de muita evolução, e ainda assim várias pessoas tentam destruir essa paz. Não só isso, nossas regras, implícitas e explícitas, parecem ser quebradas apenas pela rebeldia de ser "do contra". Eu vejo isso a cada dia, em todos os lugares, e isso me assusta. Chegou ao ponto do "normal" ser quebrar a regra, e não obedecê-la.

Cada indivíduo parece pensar apenas nele mesmo. A falta de empatia e bom senso é tanta que perco a esperança de melhoras pois novas situações absurdas se apresentam diariamente. No trânsito, na fila do supermercado, no trabalho, no estudo e na rua.

Pequenas infrações que atrapalham as vidas das outras pessoas e poderiam ser facilmente evitadas. Transgressões insignificantes que parecem se acumular em uma parede intransponível de mediocridade, egocentrismo e falta de educação.

E no trânsito? Meu nêmesis, o trânsito! Onde as pessoas liberam suas bestas interiores (sejam elas leões ou antas) e agem da maneira mais tosca possível. Criando situações perigosas, em total desconsideração pelo bem estar dos outros, sua segurança e integridade. Invadem pista contrária, não sinalizam, conversões erradas, manobras perigosas, trapalhadas diversas. Nunca ouviram falar em curvas em "L" (esqueceram da auto escola). Não sinalizam, ou pior, sinalizam errado. Não usam seus espelhos e não sabem as regras básicas de trânsito, como por exemplo, curvas a esquerda em vias duplas.

Dias atrás vinha eu em uma via preferencial, sinalizei que faria curva a esquerda (invadindo a pista de sentido contrário). Uma camionete trafegava no sentido contrário, e queria fazer também uma conversão a esquerda. Simples. Se os dois motoristas cuidarem suas velocidades, ambos podem cruzar-se e efetuar a conversão sem nunca esbarrarem. Mas esse senhor PAROU O CARRO em sua via, sinalizando COM A MÃO para que eu passasse a sua FRENTE (invadindo sua pista, ficando de frente com ele e interrompendo o trânsito na via). E ficou nervoso pois não aceitei fazer essa CAGADA no trânsito, buzinou e proferiu impropérios como SE ESTIVESSE CERTO!

Pessoas estacionando mal, fazendo manobras proibidas colocando todo mundo em risco, trafegando devagar demais, rápido demais, sem sinalizar, sem obedecer as regras. As regras estão lá por um motivo, para que TODOS saibam o que estão fazendo, possam antecipar os movimentos do outro e todos fiquem em SEGURANÇA!

Ser adulto


Estou beirando meus 35 anos, mas nunca me achei um adulto. Talvez por não me comportar como um "adulto" normal se comportaria muitas vezes, ou por achar o conceito todo de "adulto" um tanto hipócrita, e talvez até repressivo.

Mas algumas vezes, por momentos ou períodos inteiros, eu soube o que é ser um adulto. E consigo, por estes momentos, definir o que é ser adulto.

O primeiro momento foi intercalado. Foi quando decidi que precisava me sustentar e resolvi investir na única capacidade que tinha: a intelectual. Precisava usar isso ao meu favor, e fazer alguém me pagar para exercer uma profissão. Aí outros adultos me encorajaram e auxiliaram tremendamente a escolher o caminho. Decidi prestar concursos. Aí foi uma fase de estudo, muito estudo, noites passadas lendo conteúdos, dormindo até literalmente babar e manchar a folha impressa por jato de tinta. Aí prestar as provas e aguardar o resultado. Desse momento até eu ser chamado para exercer o cargo que ainda ocupo, eu sei que fui um adulto pelo stress tremendo que tomou conta de mim. A expectativa e a carga de responsabilidade autoimpostas que levaram a estudar mais do que a vontade. Nunca havia precisado chegar a esse ponto. Desde o ensino fundamental e médio, até pelo fracasso na primeira universidade e "levando" a segunda. Nunca foi necessário. Agora não só era necessário, era uma obrigação. E depois, quando aprovado, ao fazer os testes admissionais e assinar a posse, me senti um adulto, pela pressão de um novo trabalho e a sensação de que não sabia nada.

O segundo momento foi quando minha esposa anunciou que estava grávida. Infelizmente o destino não permitiu que a gravidez continuasse, mas nesse momento, eu me senti um adulto (ou como eu imagino que um adulto se sentiria).

Cada momento em que acordo cedo, sem vontade, por uma obrigação, seja ela educacional, moral ou profissional, é um momento em que me sinto um adulto. Eu não reclamo, e faço.  É a leveza de ser um adulto que permite lidar com essa situação com naturalidade ao invés de rebeldia.

Ser um adulto é ter a consciência de que acordar cedo, estudar e trabalhar proporcionam os momentos que valem a pena serem vividos. As férias, os encontros, os acidentes, as festas. Se nossa vida for uma festa interminável, que valor há nela? Se seu trabalho melhora a sociedade e te traz um mínimo de realização, vale a pena.

Trocamos tempo (de vida) por dinheiro, e esse dinheiro nos compra o que não podemos produzir, serviços que não queremos ou podemos fazer, e facilidades que não conseguimos sozinhos. Essa compra é uma troca, permite que estas pessoas que produzem, servem ou facilitam façam o mesmo com outras pessoas, em ramos tão diferentes. Isso é sociedade. Todo momento de tranquilidade, paz e contemplação tem como preço o trabalho (de alguém). Ser adulto é saber que esse trabalho é SEU para desfrutar. É poder usar (ou até perder) tempo sabendo que é um "juro" de seu investimento de tempo baixando a cabeça nos estudos ou correndo atrás da máquina no emprego.