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19 de dez. de 2016

Ser adulto


Estou beirando meus 35 anos, mas nunca me achei um adulto. Talvez por não me comportar como um "adulto" normal se comportaria muitas vezes, ou por achar o conceito todo de "adulto" um tanto hipócrita, e talvez até repressivo.

Mas algumas vezes, por momentos ou períodos inteiros, eu soube o que é ser um adulto. E consigo, por estes momentos, definir o que é ser adulto.

O primeiro momento foi intercalado. Foi quando decidi que precisava me sustentar e resolvi investir na única capacidade que tinha: a intelectual. Precisava usar isso ao meu favor, e fazer alguém me pagar para exercer uma profissão. Aí outros adultos me encorajaram e auxiliaram tremendamente a escolher o caminho. Decidi prestar concursos. Aí foi uma fase de estudo, muito estudo, noites passadas lendo conteúdos, dormindo até literalmente babar e manchar a folha impressa por jato de tinta. Aí prestar as provas e aguardar o resultado. Desse momento até eu ser chamado para exercer o cargo que ainda ocupo, eu sei que fui um adulto pelo stress tremendo que tomou conta de mim. A expectativa e a carga de responsabilidade autoimpostas que levaram a estudar mais do que a vontade. Nunca havia precisado chegar a esse ponto. Desde o ensino fundamental e médio, até pelo fracasso na primeira universidade e "levando" a segunda. Nunca foi necessário. Agora não só era necessário, era uma obrigação. E depois, quando aprovado, ao fazer os testes admissionais e assinar a posse, me senti um adulto, pela pressão de um novo trabalho e a sensação de que não sabia nada.

O segundo momento foi quando minha esposa anunciou que estava grávida. Infelizmente o destino não permitiu que a gravidez continuasse, mas nesse momento, eu me senti um adulto (ou como eu imagino que um adulto se sentiria).

Cada momento em que acordo cedo, sem vontade, por uma obrigação, seja ela educacional, moral ou profissional, é um momento em que me sinto um adulto. Eu não reclamo, e faço.  É a leveza de ser um adulto que permite lidar com essa situação com naturalidade ao invés de rebeldia.

Ser um adulto é ter a consciência de que acordar cedo, estudar e trabalhar proporcionam os momentos que valem a pena serem vividos. As férias, os encontros, os acidentes, as festas. Se nossa vida for uma festa interminável, que valor há nela? Se seu trabalho melhora a sociedade e te traz um mínimo de realização, vale a pena.

Trocamos tempo (de vida) por dinheiro, e esse dinheiro nos compra o que não podemos produzir, serviços que não queremos ou podemos fazer, e facilidades que não conseguimos sozinhos. Essa compra é uma troca, permite que estas pessoas que produzem, servem ou facilitam façam o mesmo com outras pessoas, em ramos tão diferentes. Isso é sociedade. Todo momento de tranquilidade, paz e contemplação tem como preço o trabalho (de alguém). Ser adulto é saber que esse trabalho é SEU para desfrutar. É poder usar (ou até perder) tempo sabendo que é um "juro" de seu investimento de tempo baixando a cabeça nos estudos ou correndo atrás da máquina no emprego.

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