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26 de mai. de 2017

Viagens e lições

Faz uma semana que voltei da minha última viagem. Foi o mais longe que fui até hoje, e foi um dos lugares mais lindos que já vi. Em sua própria categoria, claro. Fui para Recife. De lá fomos para as praias de Maragogi, Porto de Galinhas e Carneiros.

Apesar da beleza natural, o que mais me chamou a atenção foram as pessoas. Então, antes que a memória enfraqueça, quero deixar registrada a experiência e o que eu aprendi com ela.

Em Maragogi conheci o Luan, um bugueiro (motorista de Buggy) de 17 anos, que se descreve como um ótimo fotógrafo. Nos levou para conhecer a praia de Maragogi. Ele trabalha a 7 meses com isso, todos os dias levando turistas para conhecer as belezas do lugar que ele chama de lar. Em um Brasil em que a educação profissional não preza tecnologia, e onde o acesso a esse tipo de formação é tão escasso, uma atividade como essa envolve profissionais tão diferentes entre si. Ilustro: em Porto de Galinhas conheci o Leo. Não foi (infelizmente) o nosso bugueiro (que chamava Binho), mas o coordenador fez questão de apontar que Leo, um senhor de meia idade magro e barbudo, era poliglota, falava Japonês, Inglês, Italiano e um pouco de Francês. E aí o preconceito, que aqui confesso, envergonhado: duvidei. Então, não só fui apresentado, apresentou-se em japonês (que entendo muito pouco, só dos animes) e um inglês fluente, onde então pude bater um papo. Fascinante. Aprendeu as línguas com as mulheres que amou, suas heranças, e com o povo dos países que visitou. E agora dirige turistas a praias paradisíacas de buggy.

Ainda em Porto de Galinhas, conheci o seu Baulo, um pescador, beirando seus 60 anos. Lúcido em sua idade, seu Baulo nos conduziu de jangada até as piscinas naturais que se formam nos arrecifes antes da praia, lugares muito bonitos. No caminho, a maré baixa impediu que ficássemos na jangada, e seguimos a pé. Ao localizar uma das primeiras piscinas, menores, pensei em me lançar ali, e seu Baulo, sabiamente, me impediu: "meu filho, a fruta da beira da estrada é a mais fácil de pegar, mas quase sempre é a menos saborosa, vamos caminhando mais adiante".

No centro de Porto de Galinhas há uma infraestrutura que não existe nos Pontos de Apoio das outras praias. Há bancos, mercados, galerias, várias lojas. É uma pequena cidade fomentada pelo constante e mutante fluxo de turistas. Ao final de nosso passeio, com fome, resolvi provar uma tapioca em uma das salas de uma galeria. Ao chegar, fui recebido por um senhor com um estranho sotaque, familiar e inesperado. Um italiano. Acabou me contando um pouco de sua história, um estrangeiro que comprava biquinis para vender na Europa, e acabou montando uma confecção. Dono de um tino para negócios fenomenal, logo abriu um restaurante também. Diante de ofertas irrecusáveis de sócios, vendeu sua parte em ambos os investimentos e hoje tem uma pequena sala onde vende tapioca (que é também um negócio esperando retorno), e investe, via Internet. E mora em um paraíso tropical.

Tantas faces, histórias e feitos. Lembranças, lições. Acho que a vida é feita exatamente disso, do que nos marca, nos lembra, ensina e define.