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8 de fev. de 2013

Espiritismo e tragédias


Eu nunca sofri uma tragédia particular. Nunca perdi ninguém extremamente próximo, e quando perdi pessoas, eu era muito novo e ignorante para sofrer a perda. Mas, diante de uma tragédia, a empatia que faz parte do ser humano saudável se demonstra. A não ser que você seja um patético, ignorante ou psicopata, você sente piedade por estas famílias, e sente, mesmo em parte minúscula, incalculavelmente pequena, a dor destas perdas. Centenas de perdas, no caso da tragédia da boate Kiss em Santa Maria.

Também não sou de escrever sobre assuntos que são alvo da mídia. Geralmente escrevo sobre assuntos que não estão noticiados em todos os meios de comunicação. No entanto, nesse caso, me senti compelido a escrever um pouco sobre isso, principalmente em virtude da invasão das mídias sociais com "explicações" sobre a tragédia.

Já conversei com pessoas que me disseram que a doutrina espírita (e todas as outras religiões) fornecem apoio, suporte psicológico e emocional para superar tragédias e se reerguer como ser humano. Bobagem. Se você precisa de uma "muleta espiritual" para se recuperar, consigo indicar vários tratamentos psicológicos que podem ajudar infinitamente mais, enquanto mantêm um pé no chão, nesta realidade, ao invés de um plano inexistente inventado. A moralidade e colunas de caráter vem da cultura, riquíssima, do convívio, dos ensinamentos passados pela família e aprendidos com amigos, e não de figuras imaginárias, lendas, mitos e mentiras passadas através das gerações.

Se alguém for capaz de, incontroversialmente, conversar com os mortos, por favor, organize uma demonstração sob condições científicas e clame o prêmio de 1 (um) MILHÃO DE DÓLARES que o James Randy oferece nos EUA. Imagine quantas coisas boas poderiam ser feitas com esse dinheiro, quantos karmas (isso é do hinduísmo, inclusive, mas eu prefiro isso a desprezar Newton e sua lei da ação e reação mencionando isso) aliviados. Se eu tivesse "poderes", com certeza faria isso. Mas não tenho. E creio que ninguém tem.

Dentro do universo do "nós explicamos, as outras doutrinas escondem" o espiritismo faz chutes bons dentro de sua doutrina e explica alguns mistérios da existência. Eu compreendo a necessidade de algumas pessoas em acreditar nisso. Mas por favor poupem as vítimas de uma tragédia.

Quando morremos, de nós não resta nada? Resta sim. E aí compartilho da opinião de Pen e Teller em seu show "Bullshit" sobre as pessoas que "falam com os mortos" e estendo o problema também aos que confortam os parentes dizendo que "não existe morte, apenas passagem". Tudo que nasce, morre. Seus detritos são reciclados naturalmente, nem que leve milhões de anos, devido a impedimentos colocados por nós mesmos (túmulos, embalsamento, caixões). A morte não engana ninguém, não é uma ilusão, ela existe, é a parte mais real das nossas vidas, seu fim. Morte é um fato natural. O que resta após a morte? LEMBRANÇAS! Tudo e todos que tocamos em nossas vidas, tornando-os parte das nossas, ficam, e lembram-se de nós. Deturpar estas incríveis lembranças com a ilusão de que a pessoa não desapareceu, apenas esté em "outro plano" é deturpar a própria memória deste indivíduo, que é TUDO QUE RESTA DELE APÓS A MORTE! É quase criminoso.

Se daqui duas gerações alguém lembrar-se de mim, que feito extraordinário. Marcar a vida das pessoas positivamente é viver dentro das memórias daquela pessoa. E isso deveria ser suficiente. Buscar no passado outras vidas é desespero. Buscar no futuro um reencontro é ilusão. Lembrar-se dessa pessoa é um alento, é a melhor e maior homenagem póstuma que pode existir, é honrar a existência dessa pessoa e admitir que ela nos marcou indelevelmente. Fotos, festas, reuniões, aulas, lembranças boas e ruins são o vestígio de uma existência, e nós humanos somos dotados de uma memória incrível, que nos permite até passar adiante estas experiẽncias, histórisas, aventuras e desventuras, literalmente imortalizando nossos entes queridos.

Se você quiser orar, tentar falar com as vítimas, acreditar em reencarnação, o problema é seu. Apenas lembre-se que isso é destruir a memória de quem viveu, desacreditar os anos que ela passou contigo e toda a vivência e aprendizado que ela proporcionou, em todos os sentidos.

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