Opiniões e futuro - A internet é para sempre
Post rascunhado em 11/2019. Não tinha pandemia ainda. E eu só tinha uma filha, e ela tinha 7 meses. Antes de toda a guerra política dos últimos anos. Não modifiquei o que já estava escrito, e não lembro (sinceramente) o motivo de não ter postado isso na época.
Eu tenho um conjunto bem heterogêneo de amigos. De todas as escolaridades, passados, anseios e situações. Gosto de me cercar de pessoas com opiniões divergentes com o intuito de fugir da "bolha" social que espreita nos algoritmos de preferência que as grandes mídias sociais usam. Para fugir disso, no entanto, sou obrigado a não expor tantas opiniões quanto gostaria. Uma benção disfarçada de maldição. Ocorre que se expressar opiniões muito divergentes, em nosso ambiente dualizado e na era da pós verdade, a interação das pessoas comigo vai pesar tanto quanto minha interação com elas, e nisso a vontade da mídia de criar uma câmara de eco confortável, evitando o conflito, vai se sobrepor à minha vontade de ler o outro lado.
Assim sendo, temas polêmicos como religião, política e até futebol viram uma vitrine de suas preferências, conforme sua interação e das outras pessoas. Não gosto disso.
Dito isso, estou plenamente ciente, em cada post, compartilhamento, foto ou vídeo, que a Internet é para sempre. Na verdade nada é para sempre, mas com certeza vai ser mais velha que você, e talvez seus netos.
Enquanto isso, a minha opinião muda, sobre assuntos diversos, conforme novas informações aparecem. Conforme leio, entendo, estudo, compartilho e converso. Foi assim com assuntos polêmicos, em que rejeitei o generalismo e o preto no branco da verdade absoluta para me enveredar no cinza que domina o ambiente do "não é bem assim". É um exercício libertador, embora muitas vezes improdutivo. Causa uma certa ansiedade, que só a dúvida produz. Mas a dúvida é por vezes mais libertadora que a "verdade" absoluta, que por vezes, estudada em suas raízes mais profundas, retirada de contexto ou colocada em contextos diversos, se perde no meio da complexidade das relações humanas e do mundo em geral.
No entanto, nos últimos tempos percebi gente inteligente, que eu conheço de outras décadas e espaços, expondo opiniões preto no branco, sem dialética, por vezes com violência verbal exacerbada, atingindo as opiniões contrárias como se sua verdade fosse a absoluta e inabalável certeza. E quem pensa diferente é um coitado, desprovido de inteligência, traidor de preceitos nobres. Como se a verdade absoluta fosse apenas uma, e todo o resto está errado.
Ouso dizer que, se vivêssemos em um mundo em que a verdade absoluta dominasse, estaríamos em um deserto de ideias, como são as ditaduras (não importa o espectro político em que ela se encontre). Quando não há espaço para discutir, revoltas acendem. Sem diálogo, mesmo diametralmente oposto, não se avança em nada.
Mas as pessoas esquecem que a Internet tem memória de elefante. Ela não perdoa, nem esquece.