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23 de nov. de 2015

Fragilidade e conflito

De uns tempos para cá algumas experiências me mostraram como somos frágeis. Não apenas nossos corpos, mas nosso psicológico também.

Um acompanhamento e introspectiva profundos entre os 23 e 24 anos me tornaram uma pessoa melhor, foi onde aprendi a lidar com as expectativas e ansiedade. Não é a toa ter passado no concurso com essa idade. Poderia ter sido mais cedo, ou mais tarde, se não houvesse desenvolvido essa habilidade essencial. Essa fase também me permitiu uma liberdade que nunca havia experimentado, e sedimentou meus conhecimentos. Posso sinceramente dizer que ali me tornei adulto.

E aprendi a não esperar nada. A não sentir ansiedade pela expectativa não suprida. Melhor dizendo, aprendi a canalizar minha expectativa através da objetividade. Eu não espero nada das pessoas, eu espero das coisas. O que foi desenhado para funcionar de uma certa maneira deve funcionar. Se não funcionar, há uma explicação, e achar essa explicação é libertador, pois achando a causa, é possível tentar achar uma solução. Eu gosto de solucionar esse tipo de problema. Por isso me afastei das ciências humanas e sociais, tão subjetivas e imprevisíveis. Limito meu conhecimento, aceito o método científico, e as conclusões a que chegam os que o utilizam, mesmo não entendendo completamente o problema solucionado. Como diria Richard Dawkins: ciência funciona!

Mas não importa o quão blindado, preparado e insensível, o ser humano é sempre frágil. A fim de nos entregar de forma mais ampla, expandimos o limite do aceitável, e aí nos tornamos ainda mais predispostos a decepção. Anos de prática caem por terra em segundos, quando a expectativa do apoio encontra a derrocada do desdém. Quando a projeção da glória encontra a indiferença. Quando não há o reconhecimento pelo que se faz, fez, ou fará. O esforço sem reconhecimento é inútil. Humanos se esforçam para serem reconhecidos. O trabalho sem elogios é fadado a miserabilidade. O poder do elogio é tanto que estruturas organizacionais já treinam seus funcionários a utilizá-lo. E não estou falando do elogio falso, mas do elogio sincero, o reconhecimento das habilidades, em público e alto e bom tom. Funciona.

No mundo dos investidores, existe um paradigma muito interessante. Quando o investidor chega a um certo patamar, ele se recompensa. É a recompensa por um trabalho bem feito, que exigiu conhecimento e esforço, e poderia ter dado errado múltiplas vezes não fosse a competência de quem o executou. É um auto reconhecimento que funciona tão bem quanto elogios, já que o day trader e o investidor geralmente não tem uma organização inteira para devotar seus esforços, nem uma hierarquia para prover estabilidade. Mesmo dentro da família, o trader geralmente se encontra isolado. Mas o reconhecimento é preciso, então ele usa parte do lucro para criar uma recompensa para si mesmo.

Mas e quando você utiliza essa prerrogativa auto aplicada e o que sobrevêm é exatamente o contrário das suas expectativas? Totalmente. Vem a decepção, e ela se alastra quando seu interlocutor não nota o que aconteceu. É uma via de mão dupla, e expectativa não alcançada gera o desespero, ansiedade e raiva que seriam contrabalançados exatamente pelo que você esperava. E é um mecanismo que alimenta-se da situação e faz com que o conflito escale ainda mais. O que resta é a decepção.

No meu caso é um pouco pior. Talvez por não esperar esse conflito sou completamente despreparado para ele. Me tira o sono, cai a produção, me atinge como um raio em um ponto vital. A vida fica mais difícil. Agora, em um período complicado, isso é exacerbado e machuca ainda mais. Tento fielmente não expor as pessoas aos meus problemas. Mesmo quem os compartilha comigo encontra um esforço muito grande para ser amparado sem esperar nada em troca. As vezes o copo transborda, mas ainda assim tento ser estável, para não piorar o problema. Como o A-ha canta: I wait for stormy weather, to hide this tears I hope you'll never see.


Esse tipo de conflito, evitável, me irrita profundamente. Suas ramificações me atingem mais do que fariam com a maioria das pessoas, e acabo focando esse sentimento em quem o causou. Mas a maturidade me faz refletir e tentar PARAR o conflito, apenas para dar de encontro ao descaso. Um dia desses, com o acúmulo, talvez eu não seja capaz de aceitar e continuar. Por enquanto, me apoio em mim mesmo numa tentativa de não perder minha capacidade de aceitar e lidar com estas situações, para não mudar o que eu imagino ser o pináculo da minha evolução. Mas até quando, é incerto.

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