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10 de abr. de 2007

Um sonhador realista

Sempre me considerei um cara sonhador, algumas vezes distante, outras até meio desconexo e viajante. Mas, mesmo tendo esse espírito livre e desbravador (no que se refere aos limites de pensamento e filosofia) sempre fui um cara realista. Acho que uma simples evolução de pensamento, ou mesmo uma jornada, que com o tempo aperfeiçoa o viajante é a explicação mais concreta para essa mudança. Não há nada de errado em se sonhar, o problema nem é viver o sonho, é viver uma ilusão.

Nossa mente é facilmente enganada por estímulos dos mais diversos, tais como sons, cheiros, imagens. Destes estímulos reunidos resulta algo ainda mais intoxicante, sentimentos. Esses sentimentos levam a uma percepção distorcida, uma confortante mistura de realidade e do que a nossa mente acredita ser real. Desse sentimento brotam outros, e numa sequência, acreditamos, e por vezes vivemos tal realidade alternativa. Tamanho é o poder dessa percepção diferenciada e equivocada, que podemos recusar a verdade, confrontar conceitos antes tidos como certos, abandonar amigos, família e crenças, tudo para suprir a necessidade de acreditar naquilo.

Alguns se vêem livres desta sina mais cedo, outros, como eu, levam mais tempo para aprender as lições. O fato é que a maioria das pessoas que chega realmente a se enquadrar no conceito fundamental de "adulto" já passou por essa fase. Mais decididos e realistas, fica mais fácil enfrentar o mundo com graça e atitudes, ao invés de revolta e desespero. Quando aprendemos a ficar frente a frente com a dura realidade, tirar sarro dela, e até mesmo vivê-la sem mentiras, o mundo se abre. Perdemos uma parte da inocência que nos mantia cativos, e passamos a ter consciência do que as outras pessoas pensam, e até que ponto o pensar delas pode nos influenciar.

Quando encontramos a realidade, aquela da qual muitos fogem, de que é difícil, não simples, de que é de lutas que se fazem as vitórias e de que conhecimento pode te salvar, tudo fica mais real, mais sólido, plausível, aceitável. Se vivemos num mundo de mentiras e ilusões, pode-se jogar fora uma vida, e todo o potencial que uma mente pode dar ao mundo. Um eterno sonhador não passa de um inútil social. Além disso, da ilusão vem o desespero. O desepero de perceber a realidade, seja por nós mesmos ou atingidos por ela como uma bala penetrando nossa alma. Deste desespero vem a depressão, o mal do século.

Não estou dizendo que não devemos sonhar. Apenas reitero que temos que viver a vida sob uma ótica mais realista, para nos mantermos vivos diante dos desafios que a dura e cruel realidade reserva. Devemos encarar as derrotas, fechar as feridas e manter as defesas sempre vivas. Se falhamos em fazer isso, as decepções tornam-se insuportáveis, as desilusões são dolorosas demais, e acabamos sendo derrotados por nossa própria incapacidade de nos levantar diante de uma queda.

Vejam bem, não devemos ficar distantes, frios, calculistas ou usar sarcasmo ao lidar com as coisas boas da vida como o amor, a amizade e a felicidade das coisas simples. Apenas digo para manter uma sustentação constante e um pé firme atrás para aguentar qualquer queda e poder levantar para curtir essas mesmas coisas novamente. Não ficar sentado esperando tudo se resolver, enquanto amarguramos uma queda, derrota, traição ou sentimento de culpa, dor emocional ou arrependimento é essencial para continuarmos vivendo.


O otimista diz que o copo está meio cheio
O pessimista diz que ele está meio vazio
O realista diz que está pela metade
O informata pergunta PORQUE DIABOS O COPO TEM QUE SER DUAS VEZES MAIOR DO QUE PRECISA!?

2 comentários:

Anônimo disse...

Daniel!
Posso copiar este texto e publicá-lo no meu site? Como fazer o crédito? EM seu nome? Ou citar apenas o blog?
Aguardo seu contato e sua autorização, obrigada! Olga

olga.tessari@gmail.com

Unknown disse...

Nossa, ótimo texto.

Sem dúvidas, a projeção de um outro mundo e a vivência do mesmo em paralelo a realidade, faz com que as pessoas esqueçam do que realmente importa e existe. Mas existe um detalhe importante, existem pessoas que já nasceram "rotuladas" a viverem a margem de tudo e de todos e que usam essa ferramenta "intoxicante", como um meio de se desligar dessa realidade dura. Talvez tanto realismo para alguns não seja visto como uma virtude.