Não me crucifiquem!!!
Eu sou um cara tolerante. Geralmente gosto de ficar na minha quando os assuntos são política, religião e futebol. Tá bom, nem tanto, eu gosto das minhas opiniões, fiquei muito tempo pensando nelas, até que consegui fazê-las atingir um grau de maturação que eu chamo de "grau dogmático". É quando uma idéia é tão boa, e tão fundamentada, que apenas um dogma ridículo, improvável, bonitinho mas ordinário, pode rebater com sucesso unilateral meu argumento. Nesse momento, acabou a conversa.
Então hoje eu toco na ferida, jogo salmora emcima e ainda corto um pouquinho mais fundo, só para ver sangrar (quem não notou, acabei de citar Korn). Hoje vou falar sobre religião, denovo.
Deus. Tal como o amor, a semântica da palavra é uma coisa maravilhosa. Que outra palavra de 4 letras conseguiria explicar essa entidade sobrenatural, onipresente, onisciente e onipotente (e quando se pode usar estas palavras sem falar nisso)? Mas paramos para pensar. Onisciente. Saber tudo. Para saber tudo, é necessário uma consciência. A consciência do saber que se existe. Então, se há consciência, há o autoconhecimento (absoluto, no caso da onisciência). Onipotência. Poder tudo. Ela se liga diretamente a onisciência, pois para PODER algo, temos que ter consciência de que existimos, e podemos. Onipresença. Essa é mais fácil, mas nem por isso, menos importante. Estar em todo lugar. E não no sentido da música "Você vai lembrar de mim". Estar em todo lugar é muito relativo, para estar em todo lugar, literalmente, você tem que ser tudo, e para ser tudo, precisa ser o nada também, afinal, todo lugar é onde nada existe também. E chegamos onde eu queria chegar...
A idéia mais aceita ao redor do mundo é uma teoria antropocentrista extremamente egoísta. Ela imagina um Deus que se parece conosco, que tem consciência, toma decisões, que se importa. Mas o que vemos todo dia não é bem isso. Como se explica a morte de um bebê inocente. Como se explica uma tragédia? E não me venham com reencarnação, pois se você acredita nisso, é ainda mais egoísta e auto-centrado do que qualquer outro. Qual seria o motivo de sermos tão especiais ao ponto de merecermos esse plano superior, imaterial e lindo, em que ficamos antes de habitar outro receptáculo carnal. E quanto as outras civilazações neste universo infinito? E quanto aos bichos? Apenas o ser humano morre para continuar renascendo, o resto apenas morre.
Tudo no qual a religião se baseia é na verdade criação humana, feita para exaltar nossas vaidades e sentimentos, como se fôssemos o centro do Universo, criados a imagem e semelhança de algo perfeito. A moralidade humana, mutante e volátil, é colocada como regra.
No entanto, o que mais deixa transparecer o quão raso este conceito é, o quão vil é esse antropocentrismo, é a geografia. O rio Tigre, o rio Eufrates, sendo dois dos braços do rio principal que regava o Éden, jardim perfeito da criação. Mas e na região do Japão? Lá, uma cultura totalmente diferente nem tinha idéia do que estava acontecendo ou sendo escrito no atual Oriente Médio. Seriam eles indignos? E os índios? E os bárbaros? E os esquimós? Que cultura superficial é essa que designa o prodígio de um ser supremo aos poucos habitantes dessa terra?
Hoje em dia se apegar a estes conceitos, com a globalização, é egoísmo. É não ver o resto do mundo, com suas diferenças, suas peculiaridades, costumes e conceitos diferentes de bem e mal. É ignorar a existência humana como um todo e a evolução histórica que nos fez chegar onde estamos, diferentes e iguais ao mesmo tempo.
A única opção então é descartar onisciência e onipotência, ou acreditar em um velhinho de barbas brancas com um senso de humor deturbado, que poderia acabar com tudo isso e fazer tudo perfeito, mas prefere nos deixar esbarrando em nossos próprios defeitos (que ele mesmo criou, afinal, ele criou tudo). Mas e a onipresença?
Chegamos ao ponto. Olhe ao seu redor, cada fibra, pedaço, átomo, se juntando para definir formas, cores, percepções para nossos sentidos. A física nos dando a noção de tempo e espaço necessária para que sigamos essa linearidade chamada de vida. Que perfeição amoral é essa? Que equilíbrio e harmonia livres das mediocridades humanas de bem, mal, certo ou errado é essa? A natureza benéfica e ao mesmo tempo cruel? Que grande entidade é essa, sempre tentando regular-se? Eliminando ameaças, selecionando, punindo, sem a falsa pretensão de ser boa ou má... Tentando sempre chegar a uma equação perfeita, e tropeçando no caminho...
Se nos despirmos das noções humanas errôneas, poluídas por um cérebro primitivo e egoísta que sempre tenta nos convencer de que somos especiais e únicos no universo, resta apenas o natural. Seguindo seu curso e adicionando, aqui e ali, um ingrediente, tentando equilibrar tudo. Nós jogamos gás carbônico no ar, a natureza nos dá o aquecimento global. Nós criamos comida confinada, a natureza muta os vírus para nos dizimar. Nós tentamos ser melhores que tudo, ela nos prova a nossa insignificância a cada dia, e nos deslumbra com a infinita perfeição advinda de não ter a mácula humana. Nós eliminamos uma espécie, a natureza implanta a necessidade de poder nos centros mais primitivos do ser humano, garantindo que, uma hora ou outra, vamos nos aniquilar mutualmente, ou aprender a tentar equilibrar a equação, como fazem todos os outros seres vivos no planeta, com exceção de nós, poderosos e pretensiosos.
Então esse Deus, incorpóreo, não humano, com todo o poder da perfeição do conjunto de tudo que existe, da evolução que nos permite hoje questionar isso tudo, está em tudo. Está em você, em mim, nas pedras, árvores e no ar, e em tudo que sincroniza esse movimento lindo chamado existência. Isto não quer nos salvar, mas também não quer nos dizimar. Não quer que soframos, apenas quer chegar ao equilíbrio, não importa quantos grãos de areia humanos caiam no caminho (geralmente por nossa própria culpa). Se temos esse poder todo dentro de nós, podemos nos considerar sim, privilegiados, não por termos isso, mas por termos CONSCIÊNCIA disso. E para se comunicar com esta entidade, basta olhar dentro de si mesmo, e acionar a força invisível que nos movimenta e nos dá a vida. Não infinita, mas infinitamente perfeita, reciclável e contínua, enquanto durar.
Esse é o meu Deus.
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