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11 de ago. de 2006

Vida

Esse post é resultado, primeiro de uma reflexão profunda em torno de meus dois últimos posts, que foram basicamente reflexos de uma raiva interior que me assolava, e tornou ambas as entradas cheias de palavrões e indignação pura traduzida em palavras. Hoje resolvi tocar em um assunto que, embora seja infinitamente mais delicado, com certeza não vai extrair o pior de mim em forma de palavras. Talvez até sirva como um alerta para quem não viu, ou não quis ver, para onde estamos indo, ou ignorou os eventos trágicos e tristes que se repetem ao redor do mundo, e até aqui, bem perto de nós.

Hoje li na Zero-Hora uma reportagem intrigante, no mínimo. Um rapaz se suicidou, após planejamento minucioso, com dia e hora marcados. Publicava constantemente um blog no qual expressava seus talentos e sua depressão profunda. Uma alma perturbada. Chegou ao ponto de pedir conselhos em fóruns sobre como se matar. E foi respondido. Infelizmente nosso mundo está repleto de pessoas que levam tudo na brincadeira, inclusive esse bem preciosíssimo, a vida. O rapaz colocou duas grelhas no banheiro, para consumir todo o oxigênio (e postou fotos do local) e deitou-se para a morte, chegando a pedir conselhos sobre como aguentar o calor das grelhas. Ele implorou conselhos sobre como morrer, e foi atendido! Que espécie de ser humano faria isso?! Enquanto isso, uma pessoa, uma garota de Toronto que acompanhou o pré-suicídio do rapaz, diligentemente acionou as autoridades locais, que acionaram as internacionais, mas a Brigada Militar, depois do comunicado da Polícia Federal, infelizmente chegou tarde, topando com o corpo morto do rapaz. Eu chego a pensar em nem culpar os coitados que responderam os posts dele na Internet, pois QUEM PODERIA IMAGINAR que ele realmente faria isso? Que alma desesperada poderia querer tirar sua própria vida? Que motivos o levaram a fazer isso? Eu lhes digo: essa pessoa estava PERDIDA.

Nos perdemos quando não sabemos mais o que dizer, para onde ir, como chegar, como nos explicar. Família? Pode ser, mas talvez não só isso, o rapaz tinha família, fazia tratamento com psicanalista, então, sua família se preocupava com ele. Orientação? Talvez, mas só isso? Acredito que não. O que faltava na vida deste rapaz, e me desculpo de todo coração com a família, que neste momento tem o coração partido, sem dúvida, era UM OBJETIVO. Todo ser humano precisa de uma base. Algo maior que ele mesmo em que se apoiar. Temos uma psiquê frágil, sucetível de falhas. Temos problemas que nossa mente não está preparada para enfrentar. Mesmo um problema pequeno pode parecer um desastre de proporções inimagináveis se você considerar a mente pueril, auxiliada pela falta de uma pilastra, de uma coluna que suporte nossa por vezes frágil percepção de realidade.

Então entro no aspecto mais relevante. Um poder superior. Não falo de religião. Falo de espiritualidade, de ter consciência de algo maior do que o acaso guia nossas vidas, de dar graças pela nossa existência, de ver esse poder manifestar-se nas crianças, na natureza, na graça e beleza de uma coisa simples em um contexto complexo. Da magia da VIDA em sua mais ampla expressão.

Se nos falta isso, não damos valor ao que temos, à nossa vida. E quando deixamos de dar valor a isso, nada mais temos, senão o vazio de uma mente perturbada por questões sem resposta e por imcompreensão condensada na pressão de sentimentos com os quais não podemos lidar, e que acabam por explodir. A questão espiritual dá equilíbrio à nossa vida, nos sustenta, nos alimenta com o néctar do "como é bom estar vivo" e nos faz dar valor a felicidade na simplicidade e na complexidade dos sentimentos que vivemos. A vida é um dom maravilhoso pelo qual aproveito para agradecer ao meu Deus, que talvez não seja o seu, ou talvez seja, mas nenhum de nós saiba, por esta dádiva.

Nosso mundo está se perdendo. Quando o materialismo, o consumismo e a ganância tomam conta, nos esquecemos dos detalhes, dos pequenos prazeres, dos filhos, das crianças, da esperança de um mundo melhor para todos. Nos fechamos em conchas herméticas das quais deixamos sair apenas desilusão e esforço para sentir menos dor. Nosso mundo cai em um abismo de suicidas, sociopatas e depressivos, enquanto as autoridades acham realmente que tem controle, e os estudiosos de nosso comportamento ainda se iludem achando que podem curar a humanidade desta doença. Ledo engano. Esse "vírus" está incrustado na própria base do ser humano, na CRENÇA!

Em crer, nos baseamos que não somos os únicos, que não estamos sós, e retirando nossa percepção de nós mesmos, acabamos olhando para o mundo com outros olhos. Prestamos atenção no próximo, na família, amigos, no esforço do trabalho diário, na convivência, no amor. Deixamos de lado nosso egocentrismo para dar valor à influência que o resto do mundo tem sobre nós. E aí notamos que eles tem o memos problema, e que dói menos saber disso do que tentar suportar o peso do mundo nos ombros. Nos apoiamos, cremos, em nós, nos outros e em algo acima de tudo isso. E deixamos a vida fluir.

Viva, e viva com a certeza de que você estando vivo, ajuda outros a viver, e deixará muita saudade quando se for. Portanto, sua vida é importante, não apenas para você, mas para o resto do mundo. Isso implica que você não detêm o direito sobre a própria vida, pois se dispor dela, acabará causando efeitos imediatos e desastrosos sobre centenas, talvez milhares de vidas, e mesmo que fosse sobre UMA apenas, isso te negaria o direito de morrer.

Obrigado a todos, por estarem vivos, e me ajudarem a viver.

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