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16 de jun. de 2014

Desculpe, pirateei o seu conteúdo!

Eu tento fazer a coisa certa. Sempre tive muita educação em casa, meus pais me ensinaram desde muito cedo a ser honesto, principalmente comigo mesmo. Criei a tal da consciência, bichinho xarope que fica suspirando indecências no ouvido: "devolva o troco a mais", "não jogue lixo no chão", "limpe o cocô do cachorro na rua", "dirija de maneira a não atrapalhar os demais".

Então, desde que tive emprego (e com ele, renda) tento não me deixar levar pela facilidade de cometer pequenas infrações, mesmo no mundo virtual.

Comprei o Windows, comprei o Kaspersky (meu antivírus) com licenças para todos os dispositivos que uso, comprei o pacote Office (Home & Student). Compro apps para o smartphone e tablet, livros no Google Play, assino o Deezer para música e o Netflix para filmes, pago o Crunchyroll para ter acesso aos meus animes e mangas. Enfim, eu gasto uma grana tentando ser honesto.

Mas aí o estúdio não lançou aqui ainda. O episódio não foi licenciado. A música não tem acordos. O filme ou a série não estão disponíveis na minha região, saem duas semanas depois aqui ou fazem parte de uma venda casada cheia de inutilidades que eu nem quero usar (TV por assinatura). O jogo "saiu de linha"  e não é mais vendido, ou é lançamento e custa 1/10 do valor total do console. O DVD custa mais caro que o aparelho que o toca. O show nunca veio para meu país, e o DVD vendido no Brasil está em baixa resolução. O CD custa 120 reais em pré-lançamento aqui, e 20 reais na Argentina (qual o motivo? Impostos!). Enfim.

Isso aconteceu recentemente com um documentário, vi a propaganda no Facebook, tentei comprar: seu país não é autorizado para distribuição deste conteúdo. Comprei um console de 149 dólares e paguei 330 reais de imposto sobre ele. Tentei ver um filme, o Netflix não tem licença com esse estúdio. Aí fica difícil.

Um pouco de ganância (dos empresários, das distribuidoras, do governo) e muita incompetência me levam, sim, a piratear conteúdo. Séries, filmes, jogos, músicas, anime.

Quando o Dattebayo Brasil parou de legendar o Naruto pois o Crunchyroll começou a distribuir ele em simulcast para usuários pagos, eu fui o primeiro a assinar. Qual o motivo de tanto entrave, em um mundo globalizado? Não vou culpar apenas o governo e sua "mordida quase fatal de leão", vou culpar TODO MUNDO. Eu QUERO ser honesto, pagar pela sua arte, mas vocês não me deixam escolha. Eu quero consumir dentro do meu país e ajudá-lo a crescer, mas mesmo COM impostos, lá fora é mais barato. Aí eu importo!

Ninguém pensa que, se lançar barato, vai ter mais vendas. Quem iria comprar compra igual, e quem antes não ia pode pensar em comprar! Apostar um pouco na honestidade das pessoas. Existem tantas experiências boas nesse sentido, como os "pay what you want" e os "humble bundle". Existem projetos colaborativos em que as pessoas entram com entusiasmo como o Indiegogo ou o Kickstarter. Eu realmente não entendo o motivo dos "grandões" não apostarem nesse mercado! Isso envolve lançamento digital global, simulcast, envolver as pessoas em seu produto. Já pensou se houvesse um fórum virtual OFICIAL de "Game of Thrones" que você pagasse 1 dólar por mês para se inscrever? Quantos milhares iriam se inscrever. Insight dos diretores, chats com os atores, posts secretos dos personagens. Tantas opções. Eles preferem lançar um DVD que ninguém vai comprar a não ser viciados doidos (que nunca mais vão assistir).

Então, me desculpem, criadores de conteúdo. Enquanto vocês não me derem opção, vou continuar pirateando sua arte.

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