Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

25 de fev. de 2007

Carta escrita no ano de 2070

Recentemente recebi um email de um amigo, no campo assunto algo parecido com o título deste post. Basicamente, uma música melancólica e um texto de reflexão sobre um futuro sem água, ou ao menos, fadado a extinção desta substância que é a fonte de vida de nosso planeta, que constitui a maior parte de nossos corpos e que milagrosamente serve de combustível para a maioria absoluta dos seres vivos.

Neste texto, palavras fortes que rendem imagens mentais fortes, pintando um deserto industrial caótico em 63 anos. Tive duas reações ao ler este texto.

A primeira reação foi uma certa reflexão. Infelizmente, não adianta enviar este email para toda a população mundial, a conscientização não fará você ou eu economizarmos água, nem tampouco fará com que as políticas públicas mudem de forma a minimizar os efeitos da poluição. Realmente, o planeta está pedindo socorro, mas garanto que nenhum de nós vai atender, de certa forma confiamos que podemos sair desta encrenca que nós mesmos criamos, é um sentido de superioridade sobre a natureza e os eventos que nos levou até onde estamos. Claro, realmente poderíamos melhorar muito se todos se conscientizassem e mudassem. Desculpem amigos, não vai acontecer.

A segunda reação foi um certo desprezo por quem escreveu tal texto. Assumir nossa destruição em si em 63 anos é zombar da evolução de milhares de anos que nos trouxe até aqui. É zombar da ciência, da cultura e do conhecimento adquirido pelas gerações anteriores e que ainda virá a ser descoberto pelas futuras. Criar mentalmente um ambiente caótico, no qual voltamos aos mais básicos instintos é no mínimo desacreditar a raça humana e admitir a derrota. Eu chego a crer que alguém que criou algo como aquilo pensa em suicídio, afim de não passar pelo terrível preço que este mundo nos cobrará.

Convenhamos, chegamos até aqui, adquirimos conhecimento. Sim, estamos, aos poucos, matando este planeta, mas uma hora isso vai parar. É uma questão de tempo, assim que a coisa piorar, o governo e as corporações vão começar a notar que sem mundo para lucrar, de nada vale o lucro, e passaremos por uma revolução social e de ideologias, para reafirmar a nossa posição de raça dominante neste planeta, cuidando do que resta dele.

A cada dia, novas tecnologias nos provêem água potável, fontes alternativas de energia e inúmeros avanços, quanto tempo até isso chegar ao povão?! Fale ao seu avô que hoje em dia vemos TV vinda do espaço por satélite e ele vai rir na sua cara. Não vai demorar muito para que estas novas tecnologias cheguem arrasando com estes problemas. Foi assim antes, vai ser assim depois.

Serei mais sincero ainda, acho que não vou viver para ver o "caos" se instalar e tudo ruir. Vou viver para ver revoluções tecnológicas e de pensamento, viverei para ver a simbiose homem x máquina, viverei para ver as mentes brilhantes de nosso planeta desenvolverem vacinas e tratamentos dos mais diversos, cada vez menos intrusivos, cada vez mais eficientes, para nossas doenças. Viverei para ver o controle de natalidade, as políticas de ataque a miséria e a abundância de alimento, sintético ou não.

Apesar de tudo, apesar de saber que se continuarmos assim, estaremos fadados a destruição, apesar de já ter falado sobre isso, sobre destruição em massa, sobre armas, sobre instinto de competição e sobre o perigo de sermos extintos por nossos próprios atos. Apesar de TUDO ISSO, eu tenho fé, na minha geração, nas próximas gerações, na raça humana, e em nossa capacidade de, acima de tudo... Sobreviver!

Abaixo, o texto original:

Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém com 85.
Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.

Recordo quando tinha cinco anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro .
Agora usamos toalhas de azeite mineral para limpar a pele.
Antes, todas as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras.
Agora, devemos rapar a cabeça para a manter limpa sem água.
Antes, o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira.
Hoje, os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma.

Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA ÁGUA,
só que ninguém lhes ligava - pensávamos que a água jamais podia acabar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão
irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes, a quantidade de água indicada como ideal para beber eram oito copos por dia por pessoa adulta.
Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo e tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado já que as redes de esgotos não se usam por falta de água.

A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele provocadas pelos raios ultravioletas
que já não tem a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera.

Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
A industria está paralisadas e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-nos em agua potável os salários.
Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Pela ressequidade da pele, uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40.
Os cientistas investigam, mas não parece haver solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores e isso ajuda a diminuir o coeficiente intelectual das novas gerações.

Alterou-se também a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos e como conseqüência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.
O governo cobra-nos pelo ar que respiramos (137 m3 por dia por habitante adulto). As pessoas que não podem pagar são retiradas das "zonas ventiladas".
Estas estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam a energia solar. Embora não sendo de boa qualidade, pode-se respirar.
A idade média é de 35 anos.

Em alguns países existem manchas de vegetação normalmente perto de um rio,
que é fortemente vigiado pelo exercito. A água tornou-se num tesouro muito cobiçado - mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui não há arvores, porque quase nunca chove e quando se registra precipitação, é chuva ácida. As estações do ano tem sido severamente alteradas pelos testes atômicos.

Advertiam-nos que devíamos cuidar do meio ambiente e ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o bonito que eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar
banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era a gente, ela pergunta-me: Papá! Porque se acabou a água? Então, sinto um nó na garganta; não deixo de me sentir culpado, porque pertenço à
geração que foi destruindo o meio ambiente ou simplesmente não levamos em conta tantos avisos. Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.

Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto, quando ainda podíamos fazer algo para salvar ao nosso planeta terra!

Nenhum comentário: