Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

1 de mar. de 2015

Argumento de autoridade e a nova geração

Imagine a cena: milhares de anos atrás, um humanóide primitivo e sua cria se esgueiram pela densa floresta procurando comida. O pai, nos seus 28 anos (um idoso para a época), e sua cria com 12, quase um adulto. O pai escuta um barulho e grita para alertar sua cria, os dois fogem em disparada para um abrigo seguro. O filho nunca escutou ou viu nada. Ele confia em seu genitor, e por isso respondeu sem questionar ao seu aviso, e foi para a segurança. Sem argumentar, sem questionar. Os argumentadores e questionadores são comidos pelas feras que espreitam, e não passam seus genes adiante.

Somos programados para acreditar na autoridade. Dos pais, dos professores, dos anciãos. Isso foi uma vantagem evolutiva significativa. A religião é o ápice do argumento de autoridade, pois representa o argumento da autoridade máxima (um todo-poderoso criador).

Mas ao longo dos milênios, a humanidade aprendeu bastante. A ciência, a tecnologia e a sociedade nos protegem, nos fazem reinar absolutos no planeta e impulsionam tempos bem diferentes dos primórdios de nossa espécie. Hoje o argumento de autoridade falha, e vai continuar falhando, cada vez mais.

Hoje o conhecimento corre por vias ultra-rápidas que os anciãos acham difícil utilizar, mas suas crias nasceram e cresceram nesse meio. Hoje um filho desmente o pai facilmente, basta o pai falar uma bobagem. "As crianças de hoje são mais inteligentes". Não é bem assim. Hoje, o questionador, o argumentador, esse é o líder. É o buscador do conhecimento, que gera riqueza e tem sucesso genético. Com o crescimento da informática nas últimas duas décadas, o salto gigantesco criou uma geração que desafia seus genitores. Protegida por uma sociedade moderna e que anseia por avanços científicos, esses jovens acham na Internet conhecimento abundante, e rapidamente questionam que autoridade seus pais merecem, já que não dominam o que para eles é tão básico, banal.

E essa diferença tende a aumentar. Filhos questionadores, argumentadores, e pais despreparados, que não sabem lidar com seus rebentos, sedentos de saber. Primeiro, pois não tem a curiosidade que eles possuem, segundo, pois não sabem usar as ferramentas disponíveis, terceiro, por não educarem para a busca constante (e conjunta) do saber.

Daí surge o conflito inevitável de gerações, e com a falha do argumento por autoridade, surge a violência, a tentativa de dominação e o clamor pelo respeito as velhas autoridades. E com eles vem a raiva, a indignação, a revolta, e mais violência. Lares dilacerados por esse conflito se multiplicam, e poderiam ser facilmente evitados, com educação, compreensão, amor e a busca incessante de conhecimento. Quantos rebeldes se voltam as drogas e desvios em claro desafio a autoridade que eles não mais respeitam. A família dissolvida pela incapacidade de compreender, aceitar e tentar nivelar as diferentes velocidades em que operam pais e filhos. Os remédios para "hiperatividade", os anti-depressivos e a falta geral de objetivos.

Passou da hora de derrubarmos as autoridades antigas: os xamãs, padres e pais despreparados, e exaltarmos as novas autoridades: os professores preparados, os pais que incentivam, respondem e buscam conhecimento junto com seus filhos. Esses, futuros cientistas, desbravadores, e quem sabe professores também. Preparados e afoitos por melhorar o mundo. Valorizar estes pais e profissionais, de forma a aumentar a sede de conhecimento.

Isso começa pela paciência e humildade. Duas características que todo genitor deveria possuir. Paciência para responder os questionamentos, para arrastar os argumentos, para passar adiante conhecimento. E humildade para reconhecer que não sabe tudo, e se juntar a busca, atividade que reúne o velho e o novo desbravador com o mesmo objetivo.

Nenhum comentário: