Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

10 de dez. de 2015

O poder da Internet

Eu costumava pensar na Internet como um amontoado de informações dispersas, dependendo de um humano acostumado a interagir com esse "palheiro" para achar a "agulha". Mas depois de ter testemunhado o poder da Internet, não penso mais assim.

As novas gerações aprenderam a indexar, a separar, filtrar informação. Aprenderam isso muito melhor do que produzir, atestar, criticar, modificar ou duvidar dela, infelizmente, mas já é um progresso. Quem sabe usar o Google hoje, com 10s passa de um ignorante para um especialista.

Eu estou cursando Sistemas para Internet, um curso superior voltado a web, mas que engloba vários conceitos universais da computação, incluindo arquitetura de computadores e linguagens de programação. É nesse tipo de matéria que se percebe a natureza real do curso e a dificuldade inerente ao ser humano, de cérebro plástico e adaptável, a pensar de forma algorítmica. São essas as matérias "difíceis". Eu, com meus anos de programação, embora nunca tenha me formado ou tido sucesso acadêmico na área, vou muito bem, por já ter me acostumado com o ritmo e lógica da programação. É um "clique" mental, quando você passa a pensar como um programador, e isso vem apenas de treino e esforço.

Mas voltando ao assunto, um dos professores, da matéria Algoritmos, passou como trabalho um programa de cálculo de intervalo de tempo entre duas datas. O problema: não poderiam ser usadas funções de data, objetos que manipulam datas, nada. Teria de ser na mão mesmo.

Eu trabalho de forma estranha, tenho a inspiração muito vaga, então aproveito quando esta aparece. Tenho portanto, baseado quase toda a minha produção na web, para ter acesso a esta quando quiser, desde que exista rede (convenhamos, se estiver sem rede, não vou estar no computador). Então utilizei uma IDE online Java para fazer o programa e manter o código na "nuvem". Quando colegas pediram auxílio, passei desinteressadamente a URL do código, que ia sendo modificado por mim.

Qual não foi minha surpresa, ao dar uma olhada no código de outros colegas, e ver os meus nomes de variáveis, meus comentários, até a lógica, a forma de pensar e colocar isso em forma de algoritmo. Foi muito divertido. Acontece que um dos colegas colocou o meu código em um fórum. E "daí para o mundo" em pesquisa do Google outros colegas localizaram este código. Eu mesmo em uma simples pesquisa: primeiro link.

Eu não tinha atualizado a versão beta do código, e ele tinha alguns bugs. Agora, infelizmente para o professor, o "desafio" dele está com a solução, completa e pronta (e bem fácil de entender) postada na Internet, para o mundo (inclusive postei ele como público agora). O problema despareceu, e terá que ser substituído por outro.

Eu particularmente gostei do desafio. Me senti vitorioso por tê-lo superado após anos sem prática em programação. Mas o que realmente me chamou a atenção foi o "universo" da Internet interagindo de forma tão próxima com a realidade fechada de uma sala com 20 alunos. É realmente incrível, e demonstra uma nova época!

23 de nov. de 2015

Fragilidade e conflito

De uns tempos para cá algumas experiências me mostraram como somos frágeis. Não apenas nossos corpos, mas nosso psicológico também.

Um acompanhamento e introspectiva profundos entre os 23 e 24 anos me tornaram uma pessoa melhor, foi onde aprendi a lidar com as expectativas e ansiedade. Não é a toa ter passado no concurso com essa idade. Poderia ter sido mais cedo, ou mais tarde, se não houvesse desenvolvido essa habilidade essencial. Essa fase também me permitiu uma liberdade que nunca havia experimentado, e sedimentou meus conhecimentos. Posso sinceramente dizer que ali me tornei adulto.

E aprendi a não esperar nada. A não sentir ansiedade pela expectativa não suprida. Melhor dizendo, aprendi a canalizar minha expectativa através da objetividade. Eu não espero nada das pessoas, eu espero das coisas. O que foi desenhado para funcionar de uma certa maneira deve funcionar. Se não funcionar, há uma explicação, e achar essa explicação é libertador, pois achando a causa, é possível tentar achar uma solução. Eu gosto de solucionar esse tipo de problema. Por isso me afastei das ciências humanas e sociais, tão subjetivas e imprevisíveis. Limito meu conhecimento, aceito o método científico, e as conclusões a que chegam os que o utilizam, mesmo não entendendo completamente o problema solucionado. Como diria Richard Dawkins: ciência funciona!

Mas não importa o quão blindado, preparado e insensível, o ser humano é sempre frágil. A fim de nos entregar de forma mais ampla, expandimos o limite do aceitável, e aí nos tornamos ainda mais predispostos a decepção. Anos de prática caem por terra em segundos, quando a expectativa do apoio encontra a derrocada do desdém. Quando a projeção da glória encontra a indiferença. Quando não há o reconhecimento pelo que se faz, fez, ou fará. O esforço sem reconhecimento é inútil. Humanos se esforçam para serem reconhecidos. O trabalho sem elogios é fadado a miserabilidade. O poder do elogio é tanto que estruturas organizacionais já treinam seus funcionários a utilizá-lo. E não estou falando do elogio falso, mas do elogio sincero, o reconhecimento das habilidades, em público e alto e bom tom. Funciona.

No mundo dos investidores, existe um paradigma muito interessante. Quando o investidor chega a um certo patamar, ele se recompensa. É a recompensa por um trabalho bem feito, que exigiu conhecimento e esforço, e poderia ter dado errado múltiplas vezes não fosse a competência de quem o executou. É um auto reconhecimento que funciona tão bem quanto elogios, já que o day trader e o investidor geralmente não tem uma organização inteira para devotar seus esforços, nem uma hierarquia para prover estabilidade. Mesmo dentro da família, o trader geralmente se encontra isolado. Mas o reconhecimento é preciso, então ele usa parte do lucro para criar uma recompensa para si mesmo.

Mas e quando você utiliza essa prerrogativa auto aplicada e o que sobrevêm é exatamente o contrário das suas expectativas? Totalmente. Vem a decepção, e ela se alastra quando seu interlocutor não nota o que aconteceu. É uma via de mão dupla, e expectativa não alcançada gera o desespero, ansiedade e raiva que seriam contrabalançados exatamente pelo que você esperava. E é um mecanismo que alimenta-se da situação e faz com que o conflito escale ainda mais. O que resta é a decepção.

No meu caso é um pouco pior. Talvez por não esperar esse conflito sou completamente despreparado para ele. Me tira o sono, cai a produção, me atinge como um raio em um ponto vital. A vida fica mais difícil. Agora, em um período complicado, isso é exacerbado e machuca ainda mais. Tento fielmente não expor as pessoas aos meus problemas. Mesmo quem os compartilha comigo encontra um esforço muito grande para ser amparado sem esperar nada em troca. As vezes o copo transborda, mas ainda assim tento ser estável, para não piorar o problema. Como o A-ha canta: I wait for stormy weather, to hide this tears I hope you'll never see.


Esse tipo de conflito, evitável, me irrita profundamente. Suas ramificações me atingem mais do que fariam com a maioria das pessoas, e acabo focando esse sentimento em quem o causou. Mas a maturidade me faz refletir e tentar PARAR o conflito, apenas para dar de encontro ao descaso. Um dia desses, com o acúmulo, talvez eu não seja capaz de aceitar e continuar. Por enquanto, me apoio em mim mesmo numa tentativa de não perder minha capacidade de aceitar e lidar com estas situações, para não mudar o que eu imagino ser o pináculo da minha evolução. Mas até quando, é incerto.

13 de out. de 2015

Ateu, cético, racional, humanista, secular - filosófico!

O que é ser ateu? É não acreditar em divindades.


Ao não acreditar em divindades, algumas conclusões se seguem, e se forma uma linha de pensamento bem interessante. Na maioria das vezes essa conclusão é baseada em evidência. Quando se começa a usar evidência como medida de veracidade, acaba-se excluindo muita coisa: espiritualidade, metafísica, sobrenaturalidade.

A única evidência que de fato se submete a testes e pode ser resultado de análise concreta é a evidência científica. O ceticismo se segue, o cético admite a dúvida, questiona tudo e requer evidência. Como a evidência científica é produto de um processo de pensamento racional, o racionalismo se segue.

Quando se usa a razão para avaliar o mundo, muita coisa muda na forma de pensamento. Quando se cai para esse lado, você questiona a humanidade, e questiona o que leva aos conflitos. Percebe que é muito difícil partir do ateísmo, ceticismo e racionalidade para a violência, pois ela é irracional, não existem evidências de que valha a pena, e só a fé cega em uma divindade, castigo ou recompensa divina pós-vida leva as pessoas a fazer atos de extrema violência, muitas vezes em detrimento próprio.

Assim, se cria um respeito muito grande pelo ser humano, seu potencial e importância, e vem o humanismo. Humanismo é "a filosofia moral que coloca os humanos como principais, numa escala de importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a maior importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, particularmente a racionalidade. Embora a palavra possa ter diversos sentidos, o significado filosófico essencial destaca-se por contraposição ao apelo ao sobrenatural ou a uma autoridade superior" (Wikipedia, Humanismo). A moralidade é retirada de algumas aspectos destas filosofias (e não de livros) como a regra de ouro: aja como gostaria que os outros agissem.

Ao se colocar a importância do ser humano, o respeito pelo humano é engrandecido, novamente, com todas as repercussões. Respeito as escolhas, desde que não te afetem. Respeito as idéias, desde que não sejam impostas. A nossa sociedade protege muitos destes direitos, e chegando aos direitos, chegamos ao Estado, e automaticamente ao secularismo. Ser secular é esperar a separação entre Estado e Igreja. É esperar imparcialidade nas decisões políticas quanto a religiosidade. É não impor dogmas de forma estatal.

Então eu sou ateu, cético, racional, humanista, secular. Talvez tantas outras definições (ainda não estudadas, ou desconhecidas por mim).

Agora, algumas posições assumidas não definem exigências. Sendo assim, algumas informações:

1) Sendo ateu, eu ainda posso dizer "Meu deus!",  "deus me livre", "minha nossa senhora".

Eu fui religioso, fui teísta, fui deísta e levei muitos anos, muita reflexão e muito questionamento para chegar onde estou. Muitas destas expressões estão na minha mente, não associadas a crença, mas a emoção. Eu não voltei a acreditar por dizer uma destas frases.

2) Eu tento ser honesto, moral, mas não sou perfeito.

Ninguém é. Ponto final.

3) Eu não tenho todas as respostas, eu admito a dúvida. Mas tenho certezas, e elas podem soar insenssíveis, ou incorretas.

As posições que eu assumo são contundentes, muitas vezes. Acho que a crença cega é perigosa e deve ser extirpada e qualquer crença que pregue ou não condene explicitamente, sem dúvidas, a violência, deve ser abolida.

4) A dúvida leva ao questionamento, e o questionador é chato.

Quando se exige evidência, torna-se chato. Preciso de provas, e a contundência das provas é diretamnte proporcional ao que se afirma, quem afirma e como essa afirmação se sustenta. Se você me disser algo muito incrível, eu não vou crer. Se você não me apresentar evidência, eu vou ir atrás dela, e se não encontrar evidências confiáveis que suportem essa afirmação, eu VOU rejeitar (a afirmação, não o afirmador).

5) Tudo isso não me impede de ser eclético, tolerante, agradável, educado e respeitoso.

No mais, até a próxima.

21 de set. de 2015

Descrença, novamente

Hoje um colunista de jornal escreveu um artigo: Eu e Deus. Normalmente me absteria desse tipo de discussão, mas me chamou a atenção essa dúvida e a maneira como ela foi abordada.

A maioria das pessoas confunde fé com conhecimento, dúvida com certeza, razão com emoção. Algumas destas são contraditórias, outras são compatíveis, e muito depende do contexto e do grau de entendimento que cada palavra representa para quem as utiliza.

Fé é a ausência de dúvida. Quem tem fé acredita, e não precisa prova para acreditar. Essa é a própria definição de fé. Se o jornalista apresenta dúvida, ele não possui fé, e portanto, não tem certeza. Esse é o ponto de partida da maioria dos agnósticos. Gnose significa saber, é a certeza absoluta, após prova inequívoca. Gnose é conhecimento, que passa bem longe da fé, e cruza caminho com a razão, pois o método científico é o único meio de se chegar a gnose. É uma ferramenta imperfeita, mas a melhor que temos, nas palavras do grande Carl Sagan. Um agnóstico é aquele que não sabe.

Ateu é aquele que não acredita em divindades, ou seja, não tem fé também. Mas todo ateu é um agnóstico, pois ele não possui certeza, conhecimento. No entanto, dispondo das ferramentas que temos, ao avaliar as provas e evidências utilizando a razão, torna-se uma posição confortável negar a existência de divindades, visto que não há nenhuma evidência do contrário.

Muitos conceitos científicos iniciaram assim, conjecturas através da evidência disponível na época. Conforme nossas ferramentas melhoraram, novo conhecimento se junta e torna-se cada vez mais fácil arguir sobre um fato. O heliocentrismo por exemplo, já era um conceito muito antes da idade moderna, mas a fé insistia na supremacia humana e colocava nosso planetinha no centro do universo. Hoje, diante dos telescópios espaciais, das viagens interplanetárias, das sondas enviadas através do universo retornando provas inequívocas, é lugar comum que nosso planeta é um entre muitos, em um entre muitos sistemas solares, de uma entre muitas galáxias no universo conhecido.

Chegamos ao ponto então. Eu não posso convencer ninguém sobre a existência ou não de deus, pois se eles acreditam, o fazem por pura fé. Sem dúvidas não há o que discutir, não há espaço para a razão. Se há dúvida no entanto, e necessita convencimento, o método científico é a melhor ferramenta para se chegar a esse tipo de conclusão. Se essa for a ferramenta escolhida, diante da inexistência de uma única prova científica da existência, torna-se confortável assumir a descrença como posição padrão. Agora, se há dúvida, mas o método científico não será usado, pois não leva em conta a "emoção", o "sentimento", então essa busca não compensa. Milhares de pessoas te darão milhares de testemunhos diferentes, e nenhum deles qualifica como prova.

Ou seja, sua dúvida meu amigo, não é sobre a existência ou não de deus. Sua dúvida é sobre como você quer ver seu mundo. Sob o olhar romantizado da fé, emoção, sentimentos, e outras óticas inexatas, imensuráveis, subjetivas e tomadas pelo viés de confirmação. Ou através da razão, mensurável, repetível, sempre em dúvida, porém sempre na busca pelo conhecimento, através do método científico. A fé, a subjetividade e a crença cega nos levam a conflitos, regressão, atrocidades justificadas por serem "sagradas". A ciência no trouxe a tecnologia, a medicina, os avanços que nos permitem viver mais e melhor. Não somos perfeitos, portanto nenhuma ferramenta também o será, mas o conhecimento científico nos brinda constantemente com avanços, enquanto a fé continua sendo o refúgio dos ignorantes, a justificativa dos déspotas sanguinários e o estopim dos conflitos.

Eu decidi muito tempo atrás tomar as decisões que importam em minha vida através do conhecimento científico. Confiar na pesquisa, nas provas e nos avanços. Através dessa ferramenta eu assumi a posição padrão da descrença, pelo menos até que haja provas. Não estou aqui para convencer ninguém, mas alerto para ter cuidado com sua decisão. Há muita hipocrisia em aceitar e utilizar os avanços da ciência, enquanto se nega seus princípios mais básicos em nome da fé cega e irracional.

14 de set. de 2015

Corrida e conforto

Afinal, o que é conforto?

Após muito pesquisar, cheguei a conclusão que conforto é um estado de satisfação geral com o ambiente, corpo e mente. É estar bem, e poder continuar assim indefinidamente.

Para mim exercícios não são confortáveis. Dependendo do ambiente, são terríveis. Hoje por exemplo, fui correr pela manhã, a temperatura em 9 graus, sensação térmica de 7. Isso é frio senhores e senhoras, frio de verdade, até para nossa região.

Então como fazer para amenizar esse desconforto? Primeiro você levanta, vai ao banheiro. Pronto, já está melhor... Agora hidratação básica, tomar água pela manhã é necessário, já que durante a noite seu corpo utilizou esse líquido mas "esqueceu" de te avisar, com a sede. Um café quem sabe para "aquecer", aí coloca a base layer (como estou gordinho ainda uso uma camiseta por cima), a bermuda, meia e tênis e começa a segunda parte do ritual.

Ajustar a cinta cardíaca envolve umedecer ela, e nesse frio, isso não é legal. Depois sincroniza o celular com a cinta, coloca a faixa de braço para o celular, prende e posiciona o fone de ouvido e começa o aquecimento/alongamento. Depois do aquecimento, coração a 80-90 bpm (100 durante), você já se sente melhor. O torpor do sono, o travamento dos músculos, vértebras, já não existe mais. Vai começar.

Aí você sai de casa e dá de cara com aquele vento gelado. Prepara o celular para monitorar a corrida e tocar música, ajusta tudo, 60 segundos para começar. Caminha rápido para aquecer mais um pouco, coração a 110 bpm. Começa a corrida.

Com 200 metros de corrida o coração já está a 142. No primeiro quilômetro é provável que ele vá a 162, quando ele chegar nesse nível, a sensação de falta de ar desaparece. Você entrou na zona de corrida! O ritmo se mantêm, se o terreno for plano, caso contrário, você sente cada elevação, pois ela muda o ritmo. Você ganha uma consciência incrível sobre o próprio corpo, todos os sinais estão alertas, é uma sensação difícil de descrever. Sabe que está apenas no início, e falta bastante. Aí você se concentra na música. O ritmo da música acaba acompanhando os passos, você não sente mais o chão se o ritmo continuar, não há dor,

O ar gelado entra pelo nariz e causa desconforto. Pelo menos até seu corpo aquecer bastante e prevenir isso. Não suo, pois o frio do ambiente refrigera minha termogênese acelerada em até 8 vezes. Tudo que existe é o sol, seu calor, o ar, o vento, a estrada. E a música, embalando. Qualquer distúrbio no ritmo é percebido imediatamente. Uma elevação, uma senhora andando devagar, um declive, os carros, uma calçada esburacada. Bateu 2,5 quilômetros, a meta são cinco, vamos mais um pouco adiante. Escolhe o caminho, traça mentalmente o percurso, muita subida, mas vamos lá.

Meia hora se passou. Não parece nada, mas cada minuto vivido nesse estado é super intenso e passa devagar. A sensação é boa, existe um desconforto nas pernas quando o ritmo da corrida dá lugar a caminhada intensa. Depois a caminhada normal. Até voltar para casa.

Aguarda o corpo retornar a termogênese normal. Toma banho. O dia começa.

26 de ago. de 2015

Um pouco de nostalgia

Ano 2001, em plena mudança completa e radical de vida, curso, cidade, eu conheci uma banda, da maneira mais inusitada que existe. Navegando na Internet, curtindo vídeos virais da época, com stick figures animados em Flash. Disturbed - Down With the Sickness. Veio como natural após curtir Papa Roach, Godsmack e outros. Essas bandas também povoavam outros universos, entre vídeos e trilhas sonoras de filmes que assistia.


Desde antes ainda (1999, mais ou menos) eu sempre curtir metal. Seja ele alt, melódico, trash ou sinfônico, além do tradicional (Metallica, Iron Maiden, etc). E sempre escutei a mesma coisa: isso é uma fase, vai passar, vai evoluir e parar de escutar esses "barulhos".

Pois bem, o tempo passou. Hoje com 34 anos na cara, 16 anos depois, Disturbed ressurge das cinzas após cinco anos de um hiato para lançar Immortalized. Seu sexto álbum é uma evolução em termos de estilo e musicalidade. Me senti de volta ao tempo em que esperava ansioso os lançamentos.

E vejam só, meus gostos não mudaram. Evoluíram, sim, mas continuam os mesmos. Corro escutando músicas que escutava 10 anos atrás, novos álbuns de bandas que gostava antes de sair de casa para a faculdade.

Me trazem lembranças, como ligar o computador domingo após o meio dia (pois era Internet discada e nesse horário era apenas um pulso), ligar a caixa de som que meu pai "fez" a partir de peças e eu achava muito estranha, mas tinha um grave fantástico no computador (lembro do vento batendo na perna com certas músicas) e entrar no IRC para socializar e combinar a noite.

Lembro da combinação de softwares. O discador, o mIRC (depois MSN), o Winamp e jogando Half-Life ou Quake 2.

Lembro das músicas da época, a playlist inteira, composta por Disturbed, Godsmack, Papa Roach, Metallica, Iron e o ocasional Blink 182, Eminem e até Newsboys com Million Pieces.

Inclusive, naquela época eu acreditava em Deus. Já desconfiava e tinha minhas dúvidas, e tinha eliminado religião em si pelos dogmas e inconsistências, mas acreditava. E escutava Newsboys, uma banda gospel. Que ironia que um dos co-fundadores da banda tenha se aberto como ateu, e denunciado uma indústria gospel que não possui o "produto" que vende, ou seja, a fé.

E alguns dias atrás conversando, alguém comentou: e se você pudesse voltar no tempo, o que faria diferente. Eu MORRO de medo dessa perspectiva. Se fosse me oferecido voltar no tempo eu recusaria veementemente, ferozmente até. Considero que o que construí é um conjunto de coincidências frágil que pode ser facilmente modificado pelo ato mais ridículo. O que me levaria a não estar aqui, hoje, em uma das épocas mais felizes de minha vida, mais estáveis, mais aproveitadas.

Eu sou feliz hoje. E isso poderia mudar se tudo não tivesse acontecido da exata maneira que aconteceu, eu esqueço fácil o que acontece de ruim, acho que isso é que faz com que eu seja tão feliz. Essas lições ficam na mente como avisos, e não traumas. Eu perdôo da melhor forma que existe, esquecendo completamente. Quando lembro expulso imediatamente esses pensamentos da minha mente, para não poluir o que tem de bom lá. O problema é que esqueço outras coisas, mais recentes, por vezes importantes, mas nada para se preocupar demais. É um preço barato para se pagar pela clareza mental e paz que possuo.

4 de jul. de 2015

Sobre decisões

Me assusta a falta de empatia social estampada nas redes, ditas sociais. Pessoas que nunca passaram por problemas sérios falam deles como se o mundo fosse preto e branco, e tudo fosse resultado de escolhas. Como se todas as escolhas dependessem exclusivamente de sua motivação moral e índole. Pessoas boas serão boas, pessoas ruins serão ruins. O pior disso é que recentemente tivemos até a mídia de entretenimento explorando exatamente o contrário: as nuances sociais e pessoais que nos definem (alguém olhou Breaking Bad?).

O mundo é cinza. Essa moralidade complexa fruto de nossas interações sociais tem consequências absurdas sobre a vida das pessoas. Uma pessoa má cria um efeito cascata que muda o ambiente e as pessoas. Para ter uma consciência maior disso, não precisamos ir muito longe, basta ver alguns casos que norteiam as dicotomias morais no mundo. Alguns são extremos, outros não tanto. Alguns são estudados nas Ciências Jurídicas e Sociais, e outros são fruto de conversas que tive com pessoas de visões bem diferentes da minha e que iluminaram essa complexidade absurda que pode fazer uma pessoa boa fazer algo ruim.

Antes de mais nada, o clássico da Introdução ao Estudo do Direito: o Caso dos Exploradores de Cavernas. 5 homens ficam soterrados ao explorar uma caverna, em contato com a equipe de busca via rádio e após 20 dias de sofrimento, são informados que o resgate vai demorar, o que provavelmente os levará a morte por inanição. Daí surge a ideia de sacrificar um dos exploradores, para servir de alimento aos outros. O proponente da ideia é, por sorteio, o escolhido, mas obviamente não aceita a decisão. Os outros então o matam, e acabam sendo resgatados, indo a julgamento por homicídio.

Outro caso interessante, a Caverna de Platão. Homens estão presos em uma caverna, nasceram lá e ficaram na mesma posição por toda a vida, vislumbrando uma parede iluminada pelas sombras dos transeuntes, animais e coisas do lado de fora. Sempre de costas (preciso salientar que a situação é hipotética?). Um deles se solta e explora o mundo, retornando para caverna para expor aos seus encarcerados irmãos que o mundo é muito mais que as sombras, que existem pessoas, animais, objetos. Estes, obviamente, duvidam de seu relato, o julgam louco, em devaneios. Ameaçam-no de morte se continuar bradando disparates.

Vamos para um caso mais concreto. Suponhamos que você seja um policial. Por simples acaso, após uma carreira impecável, você se depara com um caso de alto escalão. Pessoas muito influentes e poderosas, que logo se provam, também, perigosas, pois testemunhas desaparecem sem deixar vestígio, e alguns corpos são encontrados, de gente envolvida, mas sem provas. Por um acaso, também, você acaba de posse da prova cabal dos crimes, durante a investigação. Esta prova levará para a prisão os responsáveis, sem dúvida. Então você encontra um envelope no seu carro. Nele estão 100 mil reais, fotos de toda a sua família, um itinerário completo com datas e horários, inclusive futuros, de onde estarão sua esposa, filhos e pais nos próximos dias, fotos do interior de sua casa, uma inclusive de seu filho dormindo na cama, durante a madrugada, e instruções de como fazer a prova sob sua tutela desaparecer.

Suponhamos que esse caso aconteça no Brasil, onde as despreparadas forças de segurança mal conseguem manter seu efetivo. Onde o "programa de proteção a testemunhas" não funciona da forma correta. Digamos que nas fotos encontram-se seus amigos, tios, primos, colegas. Você SABE que o Estado não conseguirá protegê-los. Isso não é um filme, é a realidade. Você não come, não dorme mais, se desespera, não deixa sua esposa ir trabalhar, nem seus filhos irem a escola. A coisa certa, obviamente, é entregar a prova as autoridades, e tentar proteger sua família. Aceitar o dinheiro é imoral. Devolvê-lo não é uma opção, se livrar dele é suspeito. Você não pode contar a ninguém, está sozinho. O que você faz?

É a velha história da Caixa. Você está na pior situação possível. Sua esposa morrendo de uma doença tratável, mas cujo tratamento é caríssimo. Não existe como arrecadar esse dinheiro, e a existência dele é a diferença entre a vida e a morte para sua esposa. Aparece um estranho, com uma caixa. Dentro um botão vermelho. Diz ele, se você apertar o botão, alguém que você não conhece morrerá, automaticamente, e 1 milhão será depositado na sua conta. Você tem 24 horas para decidir.

Escolhas morais difíceis existem, e a situação ajuda a tomar decisões imorais, até ilegais.

Se você morasse na favela, seria como os habitantes da caverna de Platão. Não existe outra realidade para você. Você viu seus pais, irmãos, tios e primos viverem essa vida, e não vê saída. Ser diferente pode custar sua vida, e não há garantias que o seu esforço intelectual garanta seu futuro. Não lhe foram dadas escolhas, você seguiu a vida em um movimento natural que o levou até onde está.

O Estado para essas crianças e adolescente é o inimigo. O policial é o porco. O intelectual é o bacana, ser distante, inexpressivo, irrelevante para a dura e violenta realidade. E eles vivem a melhor vida que conseguirem.

Enquanto isso, o adolescente, jovem ou adulto que teve suas oportunidades pavimentadas por outros antes dele, chama os desafortunados de vagabundos, de bandidos, marginais. Vamos extirpá-los, removê-los da sociedade, prendê-los. O que não notam é que a sociedade já fez isso, e foi isso que os tornou o que eles são.

Veja bem, existem pessoas boas e existem pessoas ruins. E existem pessoas boas que são ruins por não terem escolha, e existem pessoas ruins que se passam por boas e roubam apenas dinheiro, dinheiro público que alimentaria as crianças e manteria elas na escola, as boas e ruins, para que elas tivessem outra opção, menos violenta, de vida. O Estado falhou ao protegê-las, falha ao punir, e falha ao educar. E nós somos o Estado, basta ver que 24 deputados mudaram de voto após pressão popular sobre a maioridade penal.

Não houve pressão sobre a retirada dos recursos do pré-sal da educação. Não há pressão sob a federalização das escolas, o aumento dos salários dos professores, o aumento do salário da PM, a construção de clínicas em todas as cidades, e de pólos de diagnóstico centralizados modernos e públicos.

Parece que as pessoas vivem, elas sim, em uma caverna. Nessa caverna, só existem pessoas boas, e ruins. Não existem escolhas complexas, que talvez, se impostas a elas, fariam com que elas decidissem errado. Hipocrisia?

Eu SEI que devo tudo aos meus pais, aos meus irmãos, a minha família, esposa e a família dela. Sei que sou fruto de um caminho pavimentado a suor e trabalho de gerações anteriores, e meus pais me lembram disso sempre. Sei que o exemplo dos meus irmãos ajudou a moldar minha personalidade, e sei que as oportunidades só se apresentaram, e só aproveitei elas, por ter quem me sustentasse no meio do caminho. E sei que talvez, em outra realidade, tivesse tomado decisões erradas. E sei que nossa sociedade tem seus problemas não na redução da maioridade penal, e sim na redução das mentes das pessoas, que acham que, por existirem jovens que rastejam de sua posição social baixa em direção a um futuro melhor, a duras penas, todos possam fazer isso. Sendo que eles, em si, nunca precisaram fazer. O problema é que as pessoas vivem em cavernas, dentro de suas mentes, e acabam sem empatia.

Eu também clamo por justiça, sinto raiva, defendo a punição, é natural. Sinto que a violência deve ser punida na mesma proporção e sou a favor da legítima defesa. Isso não impede que eu veja muita coisa errada, e seja contra uma lei que eu sei, em nada contribui ao debate real.

9 de jun. de 2015

Machismo e Feminismo

Eu costumava falar que era feminista, mas quando me dei conta da imbecilidade que era dizer isso, parei de imediato. Machismo também é uma idiotice, e vou elaborar mais sobre isso adiante.

Eu já comentei no blog sobre como detesto generalizações, e falei também sobre a complexidade do ser humano, motivo de admiração e certa humildade para mim. Então como podemos reduzir o gênero, generalizá-lo, sem remover partes importantes da identidade pessoal?

Recentemente, houve a explosão dos MRA (Men`s Rights Activists, Ativistas dos Direitos dos Homens), um movimento que faz tudo de errado ao tentar ir contra quem se chama de feminista. Chamaram a atenção com posts em blogs, uma greve de fome e uma conversa imbecil sobre referências ao filme Matrix (sacrilégio). Dizem que vivemos em uma ilusão e que o homem (ser humano do sexo masculino) é que a grande "vítima" da sociedade e portanto todos os recursos e holofotes direcionados exclusivamente as mulheres são errados, devem ser invertidos. São anti-mulheres.

E o feminismo? Cumpriu seu papel ao apontar as agruras vividas pelas mulheres ao longo dos séculos em que vivíamos a mercê da ignorância que pregava diferenças inexistentes, papéis irreversíveis e liberdades cerceadas. Hoje, muitas pessoas ligadas ao movimento pecam ao serem anti-homens. Caem nos mesmos pecados cometidos pelos MRAs.

Sei que também generalizo, mas é que o que mais aparece nestes movimentos são exatamente estas figuras extremas que mais atrapalham que ajudam, que focam suas atenções e esforços nos assuntos errados e travam batalhas sem fim e sem objetivos.

Eu gosto das mulheres. Vejo nelas, antes de mais nada (e pela minha orientação sexual) beleza. Vejo também a maternidade, a delicadeza e várias características positivas que rareiam entre os homens. Mas dizer que toda mulher é uma flor delicada é uma generalização simplista e tosca. Acreditar ainda que toda mulher deve gostar dessa admiração é remover sua personalidade, objetificar sua existência e ignorar a identidade que torna cada ser humano único.

O mesmo vale para o homem. Agora todo macho precisa ser rude, áspero, duro. Não é bem assim.

Há muito se sabe que o gênero não é impedimento para nada. Embora naturalmente existam diferenças fisiológicas que se manifestam pelo gênero, e historicamente o patriarcado tenha tentado sistematicamente remover direitos das mulheres, isso não justifica polarizar-se em uma dicotomia generalista simplista. É um erro, como é um erro falar em raças, como é um erro estigmatizar orientação sexual, como é um erro pregar a intolerância.

O que deve ser feito é promover inclusão, informação e educação. Sem exageros, sem "cruzadas", com bom senso.

Antes de serem homens, mulheres, ativistas, todos somos humanos. Que tal partirmos para uma igualdade, e depois para um movimento essencial, único e belo. Que tal, ao invés de machistas ou feministas, sermos humanistas?

2 de jun. de 2015

Meus vícios

Desde muito jovem sempre tive uma teoria sobre a personalidade adictiva. Recentemente alguns estudos comprovaram partes do que eu imaginava, mas ainda são muito restritivos quanto aos tipos de vício. Falam muito sobre substâncias, ignorando que pessoas podem viciar-se em qualquer coisa. Desde uso do computador até frequentar uma religião.


 Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência
1 - Forte desejo ou compulsão para usar a substância.
2 - Dificuldade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quantidade.
3 - Presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento da mesma.
4 - Presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior.
5 - Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância.
6 - Persistência no uso, apesar das diversas conseqüências danosas.
Note o desespero por uma "Substância" que não precisa existir. Nosso cérebro nos recompensa por comportamentos tanto quanto pela ingestão de substâncias. As pessoas viciam-se o tempo todo, e nem sempre são diagnosticadas pois a comunidade em geral não condena alguns tipos de vícios.

Mas vamos sair do social e ir para o particular. Eu tinha dois vícios que me deixavam triste. Um deles era o sedentarismo. Eu gosto de ficar parado, sentado,  escrevendo, lendo, olhando séries, filmes, animes. Eu não gosto de sair de casa quando em casa não falta entretenimento. O meu outro vício é feio, sujo, difícil de largar e praticamente subconsciente, quando você percebe, já era. Eu roía as unhas. Mas não "roer" apenas. Por vezes meus dedos sangravam, as cutículas queratinadas pela separação da unha destruídas "espetavam" e tornavam até o toque "áspero".

Hoje posso dizer que me livrei de ambos os vícios. Me comprometi com um programa de corrida, e mesmo no inverno estou mantendo ele. Tem sido uma libertação. Vai-se a preocupação com o peso (as minhas "fasted runs" causam um "déficit calórico" que tem mantido e até diminuído meu peso. Vão-se as dores das costas, o cansaço crônico. É preciso muita disciplina para sair correr em uma manhã de 9 graus, com vento gelado no rosto, ou em uma tarde de 34 graus no asfalto quente. É preciso reservar uma hora para essa atividade, e mantê-la pois alguns dias sem corrida e você já nota que não é a mesma coisa.

Não roer as unhas foi mais difícil. Ainda estou no processo de parar completamente. Apesar de não encostar nas unhas mais, as cutículas incomodam, principalmente nos polegares. Mas a prova dos resultados está no fato de ter cortado as unhas com cortador por duas vezes já. A última vez que fiz isso nas unhas das mãos deve ter sido muitos anos atrás, nem lembrava. É muito feio roer unhas, insalubre e esteticamente horrível. Meus dedos sem unhas, por vezes machucados, sempre me envergonhavam. Agora não mais.

O último vício chega perto do vício em "substâncias" que comentei. São os descongestionantes vaso-constritores baseados em nafazolina (Sorinan, Sorine, Arturgyl, Neosoro). Eu tenho desvio de septo, e essas substâncias são um alívio imediato. No entanto, uma vez que você usa ela, o efeito começa a ficar menor a cada dose, exigindo intervalos menores entre as doses. Além disso, uma vez que você usa isso, o problema fica exacerbado, e não tem como ficar sem. A sensação de não respirar, a boca seca, roncos. E lá vai o cara correr para a farmácia as 11 da noite para comprar o "bagulho". Infelizmente esse vício só largarei quando me submeter a cirurgia. Esse vício só me acomete no inverno, e só quando alguma alergia se manifesta. É tolerável, mas perigoso. Estudos ligaram a nafazolina a risco cardíaco, e com meu histórico familiar, não é bom arriscar.

Acho interessante esse tipo de auto-avaliação. Por vezes sabemos que temos um problema, mas não nos empenhamos em corrigir ele. Sabemos que fazemos algo errado que está nos prejudicando, mas mudar é complicado, exige esforço.

E você, tem algum vício? Como pretende livrar-se dele?

29 de abr. de 2015

Argumentos contra minha descrença

Quando conto para as pessoas (ou "escapa" de alguma forma) que sou ateu, as pessoas ficam assustadas. Minha esposa não gosta quando abertamente expresso essa "descrença" e fica apreensiva. Eu sinceramente não entendo o motivo. Nossa sociedade evoluída deveria ser um local propício para esse tipo de discussão. O problema é que contra dogmas e crença cega não pode-se argumentar, e os argumentos para a ausência de um ser divino, criador, manipulador, onisciente, onipresente e onipotente são imensamente superiores. O que resta no final é o ataque (a melhor defesa), e esse ataque, como não pode ser contra as idéias, é contra as pessoas. A total falta de argumento da credulidade, por definição, é avassaladora. Fé é a ausência da dúvida, não há motivo para responder perguntas difíceis, muito menos justificar as respostas.

Então alguns assuntos se repetem, e eu não vou listar todos, apenas os que mais me chamam a atenção:

Algo do nada

Como pode surgir algo do nada? Essa questão pode ser abordada por diversas facetas, e o físico Lawrence Krauss, em seu livro "Something from nothing" explica isso muito bem, mas vou me ater ao que entendo. Primeiro, nada é um conceito, e algo é outro. O que é nada? Se ele é algo, não é nada, a completa ausência de qualquer coisa não possui definição, e fica no campo da imaginação. A teoria quântica já provou que flutuações quânticas ocorrem mesmo no vácuo, ou seja, partículas surgem e se aniquilam constantemente. Então não possuímos o nada para testar, e mesmo que tivéssemos acesso a este "estado", não poderíamos estudá-lo, pelo mesmo motivo. Observá-lo inseriria energia, e energia é "algo".

Todas estas definições, conceitos e perguntas podem responder o início do universo, mas já foram respondidas por físicos teóricos, e cientistas no CERN testam e tentam comprovar como isso aconteceu, neste exato momento. Para nós pobres desconhecedores dos segredos das teorias matemáticas que governam o universo, resta esperar estas mentes brilhantes nos darem as respostas. Dizer que um criador é necessário é uma lógica cíclica, quem criou o criador? E seu criador? E assim por diante. Conceitos como "eterno" não podem ser testados, e portanto, são falsos até que se prove. O próprio tempo é um contínuo do qual o espaço faz parte, então tudo é ligado, e pode, sim, ter surgido ao mesmo tempo. O universo pode, eventualmente entrar em colapso (está, no momento, expandindo) e ter início novamente.

Vejam bem, esses conceitos desafiam a imaginação, mas podem ser provados por observação e cálculos. Não são histórias vazias. Mentes brilhantes passam anos conferindo cálculos e mais cálculos para tornar isso tudo plausível, sempre com risco de um colega sugerir uma solução melhor para o problema. Isso é ciência.

O universo para nós

Mas sua vida precisa ter sentido! Qual o sentido da vida? Neil DeGrasse Tyson respondeu isso muito bem quando perguntado por um menino de 8 anos. O sentido da vida é o que você dá. Ele não está lá fora para ser achado, está dentro da sua mente. Mas esse universo regido por leis tão perfeitas, parece ter sido modelado para nós. Esse é um erro comum.

Vejam, o universo é MUITO vasto, além da sua imaginação. 1 milhão de vidas suas não poderiam explorar uma fração do universo. São infinitas probabilidades. E aí chegamos ao ponto. Probabilidade (ou teoria dos grandes números). Qual a probabilidade de alguém ganhar na loteria? 100% ou algo muito próximo disso! Sim, ALGUÉM vai ganhar. Qual a probabilidade de VOCÊ ganhar na loteria? Essa é MUITO menor.

Imagine um universo infinito, com todas as probabilidades possíveis. Alguém ganharia essa loteria cósmica, e o ápice dessa "aposta" é um ser consciente, capaz de questionar sua própria existência e o universo. Nós somos sortudos cósmicos de poder fazer essa pergunta. E quem disse que somos os únicos? Nossa insignificância nos mantêm presos ao planeta natal, e nós o destruímos devagar. Isso é ser desenvolvido? Uma civilização com alguns milhares de anos a mais que nós, e menos senso de destruição, talvez por uma evolução diferenciada ou um ambiente mais inóspito, pode estar agora desvendando segredos além da nossa imaginação. Eles não precisam nos contatar. Você tenta conversar com o peixe no aquário? Não somos o centro do universo, somos o centro de nosso horizonte, limitado. Muito difícil de entender?

Os horrores da religião

A religião traz o conforto das respostas fáceis. Traz a saudade de um tempo menos desenvolvido em que não havia questionamento. Traz a sede de poder dos "escolhidos" que usam seus "rebanhos" para tornarem-se líderes inquestionáveis.

Traz também a divisão, a opressão, a invasão de privacidade, a violência e o descaso (vide os gideões internacionais, com suas bíblias ao invés de comida e remédios). Com isso vem as "guerras santas" e toda a morte, pobreza e intolerância que vemos ao redor do mundo.

Mesmo as religiões "moderadas" trazem dogmas, e quando confrontadas com a realidade apurada através do método científico, recorrem a "fé" como justificativa para continuar nas mentiras e afastar-se da realidade. E isso é prejudicial. Eu quero viver em um mundo real onde meus medos não sejam fantasias ridículas e promessas de recompensa ou martírio após a morte. Não quero que meus filhos sejam atacados por anjos, demônios e um deus que eles não entendem, e que deve ser TEMIDO (palavras dos crentes, não minhas). Temer a deus. Que absurdo, medo eu tenho é dos homens, principalmente os fanáticos religiosos.

A tolerância e a sociedade

Embora fundamente minhas opiniões expressas no texto, reconheço que não sou o dono da verdade. Se as pessoas querem crer, tem todo o direito, e lutarei pelo seu direito de fazê-lo. Explorar essas pessoas é errado, mas tem sido feito ao longo dos milênios e não vai mudar tão cedo. Então, tolerância acima de tudo.

Nossa sociedade é grande, e muitos avanços nos permitem viver melhor que décadas atrás. Eu me sinto privilegiado por viver em um país laico, onde minha descrença não me condena, por exemplo, a morte. Mas ainda há muitas discussões desnecessárias, protagonizadas pela religião, que não deveria ter voz nesses assuntos: casamento igualitário, direitos das minorias, pesquisa científica, medicina.

7 de abr. de 2015

Maioridade penal e o sistema prisional

Recentemente uma proposta de alteração (diminuição) da maioridade penal passou por comissões no Congresso Nacional. O Brasil, na vanguarda da burrice, ignora que nenhum país que tenha aprovado semelhante regramento obteve os resultados almejados. Como tantas outras, essa é mais uma lei para a mídia cobrir. Temos MUITAS leis. Nosso inchado e inefetivo conjunto jurídico dá livro, ou no mínimo artigos. São absurdos e mais absurdos, muitas vezes apenas para calar a opinião pública, como a Lei Carolina Dieckman, que comentei aqui no blog. Fora as redundâncias, que pegam um crime (já existente, e punível), adicionam algo ao tipo penal e criam um novo tipo penal como forma de calar o clamor por justiça.

De todas estas leis, medidas protetivas e educativas (?), se conclui que este seria um país justo, mas não é o que vemos. O que vemos é uma polícia mal paga, desestruturada, cumprindo ordens de uma casta superior (delegados) e estes das divindades jurídicas (juízes) alheia à realidade social. E aí o sistema de "common law" americano é infinitamente superior. Veja bem, nenhum sistema é perfeito, mas aprender com os erros é necessário, sob pena de nos encaixarmos em uma definição de burrice (fazer a mesma coisa repetidamente, esperando um resultado diferente a cada vez).

Alguns comentários sobre crime e castigo:


  • No momento da suspeita de um crime, o suspeito deve ser isolado, filmado o tempo todo, para evitar acusações de coação.
  • Toda ação policial deve ser gravada por equipamento automático. Todo carro deve ter câmeras, assim como os coletes e salas usadas.
  • No caso de flagrante, o meliante é conduzido imediatamente ao isolamento, novamente, filmado o tempo todo.
  • Em caso de confirmação da autoria pela autoridade policial, o detento perde seus direitos políticos, regalias civis e se torna um empregado do Estado.
  • Se condenado, deve trabalhar para ganhar sua habitação, comida e roupa. Se trabalhar o suficiente para ganhar mais do que precisa para sua subsistência, o restante do dinheiro deve ir para sua família, e na inexistência desta, diretamente aos órgãos de segurança, para aparelhar sua estrutura.
  • Qualquer ação violenta no recinto prisional significa isolamento (espaço mínimo, sem conforto, alimentação básica). Em caso de crime, sentença perpétua é automática (provada pelas câmeras) e o isolamento aumenta exponencialmente (primeiro 1 dia, depois 2, depois 4, e assim por diante).
  • Reduções por bom comportamento e dias trabalhados, regalias aos presos que alcançam sua quota de trabalho, projetos de extensão com liberdade assistida para presos exemplares, com remuneração.
  • O preso, além de trabalhar, deve frequentar a escola, as notas influenciam no tempo servido, remuneração e regalias (nunca em prejuízo). O preso não é obrigado a frequentar as aulas, mas deve ficar na cela (quantos escolheriam uma cela ao invés de uma sala de aula).
  • O tempo prisional, fora o horário de sono, deve ser utilizado em sua totalidade. Pela manhã aulas, pela tarde trabalho, pela noite estudo, confraternização breve, e sono. Sem tempo para pensar e planejar besteiras.
  • Visitas aos finais de semana tem seu tempo determinado pelo comportamento do preso. Visitas conjugais são permitidas e incentivadas, desde que scanners corporais possam verificar a visita. O direito a estas visitas é determinado pelo comportamento do preso, que tem que ser exemplar.
  • Se o preso concluir o ensino médio, ganha o direito a prestar vestibular, se aprovado, ganha o direito de frequentar as aulas por videoconferência, e ganha acesso monitorado a Internet pela manhã, para trabalhos, leitura e 20% do tempo pode ser dedicado a entretenimento monitorado.
  • Adolescentes e crianças tem exatamente o mesmo sistema, adequado a suas idades e capacidades, por óbvio. Se atingirem a maioridade ainda aprisionados, passam para o sistema normal.
  • Toda obra ou licitação que exija mão de obra deve ser primeiro oferecida ao sistema prisional, o preso que tiver formação participará livre das atividades como supervisor ou assistente, os outros serão monitorados o tempo todo e trabalharão.
Associações de ex-detentos criariam cooperativas de trabalho, oferecendo emprego e renda a quem sai do sistema prisional com bom comportamento.

É utópico, é sonhador, mas poderia ser uma realidade. Em certos estados americanos os presos abrem estradas, trabalham em fazendas, monitorados eletronicamente, presos uns aos outros via correntes e sob a vigilância de um guarda com autorização para atirar. Se um deles ameaça algo violento, os outros detentos já acabam com ele, para evitar estarem na linha de tiro do policial.

Os condenados injustamente, os que o destino enganou e acabaram na prisão, seriam beneficiados. O coisa ruim, mau caráter e bandido não duraria muito tempo, o isolamento acabaria com ele. Sem regalias por dinheiro, sem exceções a regra.

27 de mar. de 2015

Contra fatos não há argumentos

Procuro me cercar de pessoas que aceitam a controvérsia. Uma opinião contrária bem fundamentada é um estímulo importante no processo de aprendizado, exercita a argumentação e pode até mudar sua opinião. Já tive essa experiência várias vezes, e até lembro dos episódios e das pessoas que me convenceram, eternamente grato pelo exercício mental.


Mas contra fatos não há argumentos.

Um exemplo. Um parente meu é favorável ao governo e eu sou contra. Somos extremamente diferentes. Eu, servidor público de carreira, e ele um empresário autônomo. Duas realidades bem diferentes, ele tem mais idade e viveu experiências bem diferentes das minhas. A argumentação nesse caso é um ótimo exercício, mas provavelmente não vai levar ao convencimento, pois a diferença das realidades e percepções referentes ao governo de nosso país são muito diferentes entre indivíduos que não possuem muitos traços em comum.

Veja bem, não quer dizer que não possamos conversar e argumentar sobre isso. O diálogo com ele inclusive é muito estimulante! Embora seja contrário a algumas de suas posições, respeito sua pessoa e tolero suas idéias, escuto seus argumentos, peso eles (embora, confesso, parcialmente, pela própria natureza humana), sempre com civilidade.

São opiniões diversas, subjetivas, inerentes a experiência de cada um.

Agora, fatos cientificamente comprovados não estão abertos a opinião. Se um cientista tem uma opinião contrária a um fato atual, ele vai criar uma hipótese diferente e tentar prová-la. Ou ainda vai analisar as provas que o fato possui procurando erros (sim, acontece). A prova depende do caso, mas a ciência testa e atesta sua ignorância o tempo todo. Até que o resultado seja provado falso, o fato permanece. A ciência não é imutável, mas é a maior certeza existente sobre a realidade. O único norte que temos, ferramenta indispensável para descrever, prever e modificar o mundo. O consenso é preferível, mas a controvérsia é indispensável na ciência. Ela provoca, questiona e desafia. Muitas vezes vence, se tornando o novo fato, e se torna o novo alvo da controvérsia. Um processo infinito, bonito e que nos deu tanta evolução. Não importa o poder monetário, a força política ou o consenso não científico, se a prova for frágil, ela será derrubada! E derrubar essa prova é um salto de carreira que pode significar a diferença entre um prêmio Nobel e uma vida de pesquisa infrutífera. Não é à toa que essa busca tem ávidos concorrentes.

Então, sua opinião não tem o mesmo privilégio do fato científico, nem a minha, nem a de ninguém, até que se prove. E o fardo da prova é assumido por quem afirma, não por quem duvida. Quem duvida tem acesso a prova, e precisa afirmar sua hipótese para descreditar a outra. Mas é muito mais fácil afirmar sem provar, ou usar evidência anedótica, ou ainda experiência pessoal. Isso não é ciência. Provas concretas são verificáveis. Essa produção de prova é o ápice do método científico. Ela nos levou a lua, ela alimenta seu microondas e leva a Internet até você. O resto é conjectura, opinião, ou até mesmo mentira, e não deve ser levada em conta.

Podemos até discutir sobre política, futebol e gostos pessoais. Mas discutir fatos científicos é um exercício infrutífero, discutir teorias conspiratórias é uma perda de tempo. Duvidar da ciência que nos permite viver mais e melhor é dar um tiro no pé, e pode causar danos irreparáveis.

15 de mar. de 2015

Coxinhas e Petralhas

Tenho pavor de generalizações. O mundo é mais complexo que duas opiniões divergentes, e quase todas as pessoas possuem dúvidas dentro de suas argumentações que seus contrários preenchem muito bem. Enquanto isso, me parece que a generalização é o ataque favorito nas redes sociais hoje em dia.

No dia 13, movimentos sociais saíram as ruas para apoiar o governo. No dia 15, multidões fizeram o mesmo para protestar contra o governo. E nesses dois grupos temos semelhantes. Gente que se polarizou por pressão ou necessidade, mas que dentro de si tem dúvidas sobre sua posição. Enquanto isso, os radicais fornecem rótulos e gozações para definir os grupos, de ambos os lados.

Eu sou um exemplo de que essa regra tem várias exceções. Vejo pessoas que eu sei serem polarizadas pela "esquerda" levantarem os horrores da ditadura como uma arma contra a mudança de governo. Acontece que eu sou a favor da mudança do governo, e contra a ditadura. Levantam o impeachment como um dos pontos das manifestações, mas eu sou avidamente contra o impeachment. Acho que seria um terrível erro, condenando a democracia como uma falha estatística, em que a opinião da maioria não vale, quando a maioria toma a decisão errada. Mas sou a favor de protestar, avisar ao governo que não toleramos corrupção e queremos mudanças, uma reforma política séria. Sou a favor da Petrobras, mas contra os que a roubaram descaradamente, e agora presidem as CPIs que investigam seus próprios crimes. Sou contra a intervenção política no judiciário, nos rendendo julgamentos fajutos ou midiáticos. Sou contra a impunidade, que soltou ladrões do povo, condenados, que agora desfrutam os frutos de sua iniquidade no conforto de suas casas.

Enquanto isso, idiotas assam coxinhas na praça, e abestados gritam "petralhas" a plenos pulmões na rua e nas redes sociais.

Fora todos os motivos citados anteriormente, ainda tem a mentira. A desonestidade é uma apunhalada do governo, não só em seus opositores, mas em seus próprios eleitores. Motivo pelo qual a aprovação da presidente caiu tanto, seus próprios partidários estão contra ela. Isso é diretamente ligado a promessas não cumpridas. Foram tantas mentiras, e foram tão rápido pegas (3 meses) que levou a quebra de confiança. E confiança é difícil de resgatar.

Com essa quebra de confiança aliada a falência das instituições políticas, as pessoas menos avisadas recorrem ao "quadro branco" como forma de tentar consertar tudo isso. Intervenção militar para acabar com essa podridão. Confesso que é uma ideia tentadora, mas um erro que custaria nossa soberania, podendo se provar pior que a crise política que nos assola. A pior democracia ainda se sobrepões a melhor ditadura.

E aí chegamos a outro ponto. Ditaduras. Nossa democracia foi conquistada a ferro e sangue, e seria um retrocesso abrir mão dela, mas o populismo está se provando um sistema falho e polarizado de governo. Suas idéias alinham-se (assim como o PT) ao socialismo e a ditadura do proletariado. Só há um problema: o proletariado é contra o empresário burguês que cria os empregos que o proletariado precisa. As estreitas relações entre a ditadura cubana, a venezuelana e o Brasil me assusta. Os movimentos sociais empunhando facões que nunca cortaram seu sustento me assusta. O fato dos caminhoneiros tomarem bala de borracha e bomba de efeito moral, mas os movimentos sociais com suas invasões não serem tratados da mesma forma me assusta. A palavra "exército" me assusta quando dita por políticos de grande influência sobre organizações que não são parte do defensor da soberania nacional, o Exército Brasileiro.

Acima de tudo, me assustam os polarizados, os fanáticos e os que, mesmo com todas as suas dúvidas, assumem uma posição para não ficar desprovidos de um grupo apoiador.

13 de mar. de 2015

Música

Eu escuto mais músicas em inglês que em português. Não é que não goste da nossa produção cultural nacional (embora os filmes sejam péssimos), mas sou mais atraído por conteúdo do que por melodia. Naturalmente não gosto de funk, sertanejo universitário (o sertanejo de raiz é ótimo), hip hop, alguns rocks nacionais sem conteúdo. Gosto de gauchesca, acho nossa produção inspiradora, e gosto de rock e metal (sinfônico ou melódico, na maioria das vezes).

Não me emociono facilmente, sou um Sonhador Realista. A única exceção é música. Vídeos, paisagens, nada me emociona como a música. Com emocionar eu quero dizer aquela sensação única de não conseguir segurar as lágrimas. E nesse quesito a música reina absoluta no meu emocional. Este texto foi inspirado na minha reação com a música "Sagan" da banda NightWish. Existem outras, do próprio Nightwish, e bandas como Within Temptation, Iron Maiden, Metallica, Disturbed, Live e Blind Guardian. Recentemente novas bandas conseguiram minha admiração. A Great Big World, One Republic, Imagine Dragons e o incrível DJ Avicci.

Só para dar um exemplo do que é uma música de verdade, vou citar Blind Guardian - Mordred's Song. Ela conta a história de Mordred, filho bastardo do Rei Artur, fadado a usurpar o trono de seu pai por uma sequência de eventos e uma história envolvendo destino, mística e influência. Ele é o verdadeiro "vilão" da lenda. Essa música no entanto é sua versão. Ela conta como ele se sente preso pelo seu destino, como a solidão e o ódio constituem sua personalidade. É uma mistura de seu legado real de força, liderança, e seus medos, obscuridade, tornando-o frio. Conta como ele espera finalmente cumprir seu destino e ser libertado. Seu destino é tomar o lugar do seu pai, e ele o cumpre, e é libertado, pela morte (os dois perecem juntos).

Então fica difícil gostar de músicas que falem sobre festa, cerveja, mulher, um amor não correspondido, as frivolidades diárias e a luta do cotidiano. Existe tanta inspiração nessas outras bandas e músicas, tanta admiração pela arte e cultura em si, sem precisar expor o corpo, apelar para os vícios e mazelas humanas diárias. Acho interessante escutar uma música como Amaranth do NightWish, e descobrir que Amaranth é a representação simbólica da imortalidade, uma flor que nunca murcha. Mesmo Turn the page, do Metallica, que conta a constante provação de estar em turnê, passando de local em local. Iron Maiden com suas referências poéticas, míticas e históricas, como The Loneliness of the Long Distance Runner, ou Flight of Icarus. Mesmo Imagine Dragons, com It's Time, um ode a mudança significativa na vida.

Enfim, aqui destrinchei meus gostos musicais. Já tinha tocado esse assunto quando falei sobre a descartabilidade da cultura em "Descartável", mas até onde lembre nunca citei as bandas e músicas preferidas.

12 de mar. de 2015

Dois meses de corrida

No final do ano retrasado resolvi me dedicar a corrida. Foi uma decisão simples, é um exercício completo, não atrapalha demasiado minha rotina e ainda previne doenças cardíacas (tenho histórico familiar). Além disso permite utilizar a tecnologia para monitorar, planejar e executar o exercício (e escutar música boa no caminho todo).


Treinei prá valer desde janeiro de 2014, e em maio estava em ótima forma, apreciando mais a corrida, quando chegou o frio. Parei de monitorar por um tempo, e no final de julho resolvi ir jogar basquete. Embora já tivesse concluído que a corrida não auxilia tanto em outros esportes, imaginei que um melhor condicionamento cardiorrespiratório não ia me deixar na mão tão fácil. Aí veio a lesão.

Rompi um músculo da panturrilha, a tal da Síndrome da Pedrada. Nunca havia me lesionado a ponto de ficar de molho, muito menos com muletas, por mais de alguns dias. Estava encarando um prognóstico de várias semanas. A lesão, aliada a um péssimo acompanhamento médico, me deixou quase 1 mês de muletas, e quando finalmente voltei a andar, mancava muito. Uma nova opinião médica me garantiu que, dado tratamento adequado, a lesão não só já estaria curada, mas eu estaria de volta aos treinos. Fiquei indignado com meu médico anterior, mas o novo me garantiu que algumas sessões de fisioterapia e tempo e eu estaria de volta a prática esportiva.

Tínhamos uma viagem marcada para Porto Alegre para o show do IRA!, uma passada no Festival do Japão (sou fã da cultura oriental) e algum tempo depois uma viagem para o Mendoza (Argentina) e Santiago (Chile) para finalmente conhecer a neve. Tive que acelerar as sessões de fisioterapia de 1 mês para 15 dias. Esse agito, e a constante companhia e suporte da minha noiva foram a melhor recuperação que eu poderia esperar. Na volta da viagem, algumas caminhadas e a dor foi sumindo.

No final do ano resolvi tomar vergonha na cara e comecei a correr, devagar, conhecendo meus limites novamente. Agora completo mais de 2 meses de corrida novamente. Mais de 30 treinos, sem lesões. A perna direita ainda tem uma certa "resistência" causada provavelmente pela noção de que ali foi a lesão e meu receio, mas fisicamente não impõe limites. O objetivo é uma rústica no final do ano, na confraternização anual do meu trabalho, e não fazer feio. Até lá comecei a correr 4 km, 3 vezes por semana, e espero passar até abril para 5km, 4 vezes por semana, para em novembro começar a treinar para 10km.

Agora é força e foco para não deixar o inverno esfriar a ideia. Inverno é triste.

1 de mar. de 2015

Argumento de autoridade e a nova geração

Imagine a cena: milhares de anos atrás, um humanóide primitivo e sua cria se esgueiram pela densa floresta procurando comida. O pai, nos seus 28 anos (um idoso para a época), e sua cria com 12, quase um adulto. O pai escuta um barulho e grita para alertar sua cria, os dois fogem em disparada para um abrigo seguro. O filho nunca escutou ou viu nada. Ele confia em seu genitor, e por isso respondeu sem questionar ao seu aviso, e foi para a segurança. Sem argumentar, sem questionar. Os argumentadores e questionadores são comidos pelas feras que espreitam, e não passam seus genes adiante.

Somos programados para acreditar na autoridade. Dos pais, dos professores, dos anciãos. Isso foi uma vantagem evolutiva significativa. A religião é o ápice do argumento de autoridade, pois representa o argumento da autoridade máxima (um todo-poderoso criador).

Mas ao longo dos milênios, a humanidade aprendeu bastante. A ciência, a tecnologia e a sociedade nos protegem, nos fazem reinar absolutos no planeta e impulsionam tempos bem diferentes dos primórdios de nossa espécie. Hoje o argumento de autoridade falha, e vai continuar falhando, cada vez mais.

Hoje o conhecimento corre por vias ultra-rápidas que os anciãos acham difícil utilizar, mas suas crias nasceram e cresceram nesse meio. Hoje um filho desmente o pai facilmente, basta o pai falar uma bobagem. "As crianças de hoje são mais inteligentes". Não é bem assim. Hoje, o questionador, o argumentador, esse é o líder. É o buscador do conhecimento, que gera riqueza e tem sucesso genético. Com o crescimento da informática nas últimas duas décadas, o salto gigantesco criou uma geração que desafia seus genitores. Protegida por uma sociedade moderna e que anseia por avanços científicos, esses jovens acham na Internet conhecimento abundante, e rapidamente questionam que autoridade seus pais merecem, já que não dominam o que para eles é tão básico, banal.

E essa diferença tende a aumentar. Filhos questionadores, argumentadores, e pais despreparados, que não sabem lidar com seus rebentos, sedentos de saber. Primeiro, pois não tem a curiosidade que eles possuem, segundo, pois não sabem usar as ferramentas disponíveis, terceiro, por não educarem para a busca constante (e conjunta) do saber.

Daí surge o conflito inevitável de gerações, e com a falha do argumento por autoridade, surge a violência, a tentativa de dominação e o clamor pelo respeito as velhas autoridades. E com eles vem a raiva, a indignação, a revolta, e mais violência. Lares dilacerados por esse conflito se multiplicam, e poderiam ser facilmente evitados, com educação, compreensão, amor e a busca incessante de conhecimento. Quantos rebeldes se voltam as drogas e desvios em claro desafio a autoridade que eles não mais respeitam. A família dissolvida pela incapacidade de compreender, aceitar e tentar nivelar as diferentes velocidades em que operam pais e filhos. Os remédios para "hiperatividade", os anti-depressivos e a falta geral de objetivos.

Passou da hora de derrubarmos as autoridades antigas: os xamãs, padres e pais despreparados, e exaltarmos as novas autoridades: os professores preparados, os pais que incentivam, respondem e buscam conhecimento junto com seus filhos. Esses, futuros cientistas, desbravadores, e quem sabe professores também. Preparados e afoitos por melhorar o mundo. Valorizar estes pais e profissionais, de forma a aumentar a sede de conhecimento.

Isso começa pela paciência e humildade. Duas características que todo genitor deveria possuir. Paciência para responder os questionamentos, para arrastar os argumentos, para passar adiante conhecimento. E humildade para reconhecer que não sabe tudo, e se juntar a busca, atividade que reúne o velho e o novo desbravador com o mesmo objetivo.

Crowdfunding, logística e brasil

Primeiro post de 2015. Até parece que tenho milhares de seguidores.

Enfim, vamos falar sobre o Brasil. Eita país tosco. Não que o Brasil em si seja tosco, o povo é que é, e cada povo tem o governo que merece, resultando nessa coisa que chamamos de país.

Eu sempre fui fã do Crowdfunding. Você tem uma ótima ideia, levou ela até o limite financeiro que podia, não quer ter que entrar na onda dos empréstimos, quer lançar com margem de lucro pequena e vender pacas. Você "pega emprestado" de seus clientes. Eles "compram"  um produto que ainda nem existe de você. Dependendo da quantidade comprada, o preço vai diminuindo (produção em massa fica cada vez mais barata por unidade) e seu lucro vai aumentando. O resultado: um produto único e clientes satisfeitos. A parte ruim: atrasos, possibilidade de enganação e viver num país de merda.

Mas como assim?

Viver no Brasil é um pesadelo logístico. A Receita Federal e os Correios se juntam em um balé descoordenado que resulta em atrasos, perdas, impostos altíssimos, taxas absurdas, mais atrasos e completo descaso com o contribuinte/consumidor.

Aí você compra seu produto de crowdfunding. Sucesso, o produto é completado e enviado para sua residência. Aí começa a jornada. Quer dizer, um sonho saiu do papel e se tornou realidade, mas seu país conspira para matar essa ideia com um atraso absurdo para entregar o produto em sua casa. Isso quando não se tem que ir nos Correios pagar o absurdo de impostos para retirar. E isso meses depois de milhares de clientes ao redor do globo já estarem usando o produto.

Não precisa ser crowdfunding, pode ser eBay, compras internacionais de qualquer tipo. Você adiciona os impostos e tudo, e ainda assim, só vai ver sua compra (SE ela chegar) daqui 6 meses. Se for tecnologia, pode dar adeus, pois estará ultrapassada.

Tudo pois os Correios são monopólio. Veja, isso não é raro, raridade é a INEFICIÊNCIA que esse monopólio possui. Aliado a Receita Federal, os Correios lidam com mercadoria internacional da maneira mais BURRA que existe. Centralizada, despreparada, lenta e aleatória.

Para fugir disso, você pode ter que morrer com envio via courier. Funciona, mas é mais caro, e veja só: eles tem um serviço direto com a aduana, e chega rápido. Como assim? Taxado mas rápido. Entendam, eu gostaria de pagar imposto, se a bendita mercadoria chegasse, digamos, em 2 semanas. 10 dias úteis é tempo prá caramba. Os couriers, com volume menor, conseguem, como os correios não conseguem? Eles CONSEGUEM, só que sua mercadoria chega, e fica na fila, esquecida pela Receita e Correios, e eles empurram a culpa um para o outro. Duas porcarias de serviços atrasando sua vida.

Esse é um dos motivos desse país estar na merda e afundando mais. Serviço público ineficiente, monopólios cheios de corrupção, maracutaia e despreparo (Petrobras, Correios). Uma liderança sem visão (protecionista, de reserva de mercado). E um povo que elege quem ele mesmo retirou da vida política por corrupção (Collor) e procurados pela Interpol (Maluf). Povo ignorante, mantido na ignorância por esses mesmos espertos que elegem.

Agora, com 16 anos de PT no poder, damos adeus a oposição, e vamos no rumo da Grécia. Nosso país aguenta repetidos ataques, e só não despenca pois é mesmo gigante. Pela própria natureza. No entanto, uma hora essa poluição corrupta e despreparada, que governa por interesses ao invés de objetivos difusos, acaba com a natureza. E aí veremos tempos (ainda mais) tenebrosos.